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Caso Melhem: vazam conversas com atriz que o acusa de pedir sexo oral

AgNews
Acusado de assédio e importunação sexual desde 2020, a estratégia de defesa de Marcius Melhem inclui também conversas pelo WhatsApp  |   Bnews - Divulgação AgNews

Publicado em 19/06/2022, às 13h45   Redação Bnews


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Acusado de assédio e importunação sexual desde 2020, Marcius Melhem tenta provar que a relação com Dani Calabresa era consensual. Para isso, usa na estratégia de defesa cerca de 270 mensagens trocadas com a humorista pelo WhatsApp. A estratégia de defesa de Marcius Melhem inclui também conversas pelo WhatsApp com uma atriz e escritora que trabalha na Globo desde 2015, com quem ele teve uma relação casual.

Esse material está nos autos da investigação. As informações são do colunista Ricardo Feltrin. Assim como a humorista, essa mulher está no centro das acusações contra o ex-diretor por assédio sexual e comportamento abusivo.

 As conversas entre Melhem e a atriz se dão entre 2017 e 2020, antes de ela ser ouvida pela Polícia Civil. Desde o início das investigações, no entanto, esse material está em segredo de Justiça. O nome da atriz não será revelado, uma vez que, diferentemente de Calabresa, ela nunca falou publicamente sobre o assunto.

Assim como a humorista, entre o final de 2019 e início de 2020, a atriz buscou o departamento de compliance da Globo e a Deam (Delegacia Especial de Atendimento à Mulher) no Rio, onde há uma investigação de assédio e importunação sexual em andamento. Ela faz parte do grupo de sete mulheres que acusa o ex-diretor de assédio e importunação sexual, relação abusiva, abuso de poder, comportamento impróprio e constrangimento.

Testemunhas a apontam, inclusive, como "arregimentadora" de outras acusadoras e pessoas que corroborassem as acusações contra o ex-diretor. Cerca de dez delas afirmam à polícia que sabiam que Melhem praticava assédio a Calabresa, mas que não viram. Pelo menos três delas dizem, porém, que ficaram sabendo disso por meio dessa atriz.

De acordo com informações do colunista, ela é quem acusou Melhem de lhe pedir sexo oral, como publicado pela revista Piauí e denunciado pela atriz à Deam. Não há testemunhas do suposto pedido nem mensagens sobre o assunto nos autos da investigação.

Relacionamento abusivo

A atriz afirmou à Polícia Civil que a partir da "terrível noite" em que fizeram sexo, ela e Marcius Melhem começaram a ter um relacionamento abusivo. E que ele teria começado a insinuar que ela não tinha talento, além de bloquear trabalhos para os quais ela teria sido convidada.

Ela disse que Melhem a humilhava e a menosprezava. Diante da delegada que acompanha o caso, afirmou que estava sendo intimidada ou forçada a uma relação que não queria, mas que aquiesceu, pois não queria ter a carreira prejudicada.

Leia mais: Relatos fortes detalham assédio sexual que Dani Calabresa sofria de Marcius Melhem

Ainda no depoimento, ela acusou Melhem de, na manhã seguinte à primeira relação, ter criado um grupo de WhatsApp chamado "Sexo", exclusivamente para humilhá-la e contar à assistente dele, Daniela Ocampo, que eles haviam transado na noite anterior. Declarou ter ficado indignada com a atitude dele e que se lembrava do choque que teve quando soube que ele criara um grupo para se exibir e difamá-la. 

O grupo foi criado pela atriz em 24 de julho de 2018, às 9h34. Ela incluiu como membros Melhem e Ocampo e mandou a primeira mensagem um minuto depois: "Se você está nesse grupo é porque achamos de bom tom que você soubesse que rolou um sexo bêbado (de uma das partes) ontem. Pedimos discrição por razões óbvias. Bom dia!!! ( emojis de uma carinha feliz e do sol)".

As mensagens usadas por Melhem em sua defesa

Para se defender das acusações, Melhem usa conversas que teve com a atriz no WhatsApp com o intuito de mostrar que tiveram uma relação de intimidade. Entre 2017 e 2018, as mensagens são carinhosas e eles se tratam como amigos.

Em 3 fevereiro de 2020, quando as acusações de Calabresa contra Melhem de assédio já eram públicas, a atriz demonstrou apoio e preocupação, em uma conversa às 19h59:

Atriz: Você tá passando mal mesmo? Que que vc tem? Tô preocupada. Nunca vi vc faltar em gravação

Melhem: Tô no limite. Hoje soube que a Dani está conseguindo juntar gente pra falar e que tem gente nada a ver com o caso que está ajudando a dar força pra quem quiser falar de mim. Vão querer que eu vire o Zé Mayer

Atriz: Caralho. Juntar quem? Como pode? Vocè é inocente, amor. Você tem certeza disso? Isso não tem pé nem cabeça, amor.

Melhem: Da Dani, sou. Mas já dei em cima, né: Já fui invasivo, como vc diz

Atriz: Acho que estão fazendo terrorismo com você (...) Fica calmo. Vem estar com seu povo.

Melhem: não consigo.

Atriz: Ah meu amor. Não sei o que te dizer. Amor eu tenho certeza que não vai acontecer nada. Tem três gatos pingados contra e muita gente ao seu lado.

Melhem: Não sei se são 3. Não sei se as pessoas vão recuar. Estar ao meu lado poder ser ruim pras pessoas. Talvez eu tenha que queimar. Se vazar, estar ao meu lado diante da opinião pública vai ser coisa de herói. Principalmente as mulheres

Melhem: Se aparecer alguém que eu dei em cima, ou eu entender que magoei e que nem notei, eu super quero pedir desculpas, assumir. Não a Dani, porque o dela é armação. Mas seria justamente das mulheres que eu precisaria de apoio. E não sei quem toparia. Não posso pedir isso a ninguém.

Atriz: Meu amor, meu apoio vc sabe que vc tem. E eu tô cagando pra opinião pública. Mas insisto, não vai chegar a isso. Tenho certeza que é uma marola. Eu acho que é mentira. Algum tipo de terrorismo.

Melhem: Os apoios vão sumindo. Eu sei que construí uma rede de afeto. De amor. Não de putaria.

Atriz: Não vai acontecer nada. Eu te prometo

Melhem: não tem como vc prometer.

Atriz: Agora to agoniada pq to sentindo vc agoniado

Melhem: Eu demiti e desagradei muita gente. Eu flertei no passado. Se pegar tudo e juntar, não sei mais. Amanhã cedo vou na psiquiatra. Não tô mais aguentando. te amo muito.

No dia seguinte, ela vai à casa dele. Pouco mais de uma semana depois, em 12 de fevereiro, à 00h26, a atriz relatou um problema de saúde e começou a se afastar de Melhem. "Desculpa, mas com sobrinha e coluna e tudo que tá acontecendo na minha vida vc não é minha prioridade. Por favor pare de me cobrar. To em casa, se quiser me liga", disse, por mensagem.

Segundo o colunista, na época ela já tinha se unido ao grupo que acionou o compliance da Globo e estava prestes a ir à Deam. Ao departamento da emissora, ela declarou que teve de se afastar por problemas psiquiátricos devido ao assédio. A Globo investigou internamente a denúncia, mas, assim como no caso de Calabresa, não foram constatadas provas.

Como está a investigação

Desde 2020, foram ouvidas cerca de 30 pessoas, tanto de acusação como da defesa, pelas autoridades na investigação de assédio e importunação sexual em andamento na Deam. Pelo menos 12 pessoas negam em depoimento que houve assédio de Melhem a Calabresa ou às outras mulheres que o acusam. Cerca de dez outras afirmam que sabiam que havia assédio, mas que não viram. Todas trabalham ou trabalharam na Globo. Ainda há mais testemunhas a depor dos dois lados.

A pena para assédio sexual varia de um a dois anos de detenção, enquanto a de importunação sexual prevê de um a cinco anos de reclusão, por vítima.

Outro lado

Procurado pela coluna de Ricardo Feltrin, o advogado Antônio Carlos de Almeida Castro afirmou que não se manifestaria "porque o processo segue em segredo de Justiça". O profissional ainda informou que falava em nome de todas as acusadoras, cuja defesa conta ainda com as advogadas Beatriz Rizzo e Mayra Cotta.

Os escritórios Oliveira Lima & Dall Acqua Advogados e Técio Lins e Silva, Ilidio Moura & Advogados Associados informou que "Marcius Melhem segue afirmando que o sigilo não o favorece, e que por ele tudo seria aberto, às claras e transparente.  Mas, enquanto houver sigilo, ele será respeitado".

A Globo informou que não tolera nenhuma forma de assédio e tem um código de ética, que deve ser seguido por todos os colaboradores em todas as áreas da empresa. Da mesma forma, tem uma ouvidoria pronta para receber quaisquer relatos de violação, que são apurados criteriosamente, usando todas as evidências a que o compliance tem acesso. Afirmou, ainda, que não pode detalhar os processos de apuração, pois são internos e porque o sigilo é assegurado aos colaboradores. A empresa disse assumir, ainda os compromissos de investigar, não fazer comentários sobre as apurações e tomar as medidas cabíveis.

Leia também: Dani Calabresa e Marcius Melhem ficam frente a frente pela primeira vez após denúncia de assédio

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