Polícia

Mãe de jovem morto em ação da PM tentou salvar vida do filho: "Eles apontaram a arma pra mim”

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A mãe do jovem morto, Silvana dos Santos, contou os momentos de tensão ao ver o filho sendo levado para uma casa abandonada  |   Bnews - Divulgação BNews

Publicado em 01/03/2022, às 12h54   Yasmim Barreto


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Abraçada pela Baía de Todos os Santos, a Gamboa, teve sua beleza apagada por um cenário de violência e perdas na madrugada desta terça-feira (1º), durante uma ação da Rondesp – BTS. Nesse momento, os barulhos de tiros interromperam o sono de toda a comunidade, mas, principalmente, as vidas de três jovens, que acabaram mortos na abordagem policial. 

Um deles foi o Alexandre Santos, 20 anos, nascido e criado na Gamboa por sua mãe, Silvana dos Santos, 41 anos. Momentos antes de morrer, o jovem teria levado a namorada em casa quando foi surpreendido pelos policiais e “arrastado” até uma casa abandonada, segundo relatos da mãe e de sua tia, Lúcia Gomes. 

Silvana dos Santos

“Eu tentei impedir deles matarem meu filho, mas eles apontaram a arma pra mim”, disse Silvana, inconsolável, ao BNews.

Alexandre Santos

Silenciada ao ouvir o barulho dos tiros que vinham da casa na qual Alexandre estava, Silvana relembrou que implorou aos agentes para ver o filho, mas foi ameaçada ao encarar uma arma em punho da polícia.

“Fui lá e disse: ‘Quero ver meu filho’, aí eles ‘apontou’ a arma pra mim, fui eu e minha filha só, e eles ‘apontou’ arma pra mim, os agentes Rondesp. Não me deixaram chegar perto”, relatou a mãe do jovem de 20 anos e de outros sete filhos.

Na ocasião, a tia de Alexandre dividiu com a cunhada os momentos angustiantes da madrugada de hoje. À reportagem, Lúcia relatou que acordou com os gritos de Silvana pedindo por socorro.

“Saí correndo com minha filha no colo, quando eu cheguei até aqui, eles estavam subindo aí eu falei: ‘Moço, pelo amor de deus, deixou ver meu sobrinho’”, afirmou Lúcia. Contudo, a moradora do Solar do Unhão também foi barrada após os policiais apresentaram armas, fazendo com que a mulher se afastasse do local.

De acordo com ela, neste momento, Alexandre já estava morto, em razão dos tiros que ouviu vindo direot da casa onde estavam. “Eu me ajoelhei pedindo para não matar meu sobrinho”, contou emocionada.

Comunidade da Gamboa de luto

Além de Alexandre, outros dois jovens foram mortos na ação policial. Sem identidade confirmada pela polícia, informações da comunidade da Gamboa dão conta de que os outros dois jovens são Cauê, 20, e Patrick Sapucaia, 16 anos.

Outros moradores que preferiram não se identificar contaram que Cauê e Patrick também foram levados para a mesma casa abandonada e foram executados lá dentro. Em imagens que a equipe teve acesso é possível ver as manchas de sangue espalhadas em diferentes cômodos da residência.

Devido às mortes, a comunidade está de luto e protestando contra a ação da polícia na região.

Por volta das 6h, os moradores se reuniram e bloquearam umas das vias na Av. Contorno para reivindicar contra aos agentes da PM.

O que a PM diz?

Sobre o caso, o comandante-geral da PM, o coronel Paulo Coutinho, definiu as mortes dos três moradores como "efeitos colaterais" da ação da PM.

Em entrevista à TV Bahia, o coronel ainda ressaltou: “Lamentamos profundamente, porque nos deparamos com uma situação em ocorrência operativa, onde existem, efetivamente, efeitos colaterais. Nosso policial militar está para a defesa do cidadão e só ele sabe o que encontrou diante daquela situação operativa. É para isso que nós estabelecemos uma apuração, a partir de um inquérito policial militar que já está sendo instaurado na Corregedoria da PM, para que todos os fatos sejam esclarecidos. E serão esclarecidos na sua inteireza, e nós passaremos para a comunidade e para a sociedade baiana tudo o que aconteceu”.

Confira a nota na íntegra da PM

Guarnições da Companhia Independente de Policiamento Tático (CIPT)/ Rondesp BTS foram acionadas com informações sobre a presença de homens armados na Avenida Lafayete Coutinho, localidade entre a Avenida Contorno e a Gamboa, na madrugada desta terça-feira (1).

Conforme informação do comando da unidade, os policiais militares foram recebidos a tiros por um grupo quando faziam incursões na região, dando início a troca de tiros. Após o revide e posterior progressão no terreno, as equipes encontraram três homens caídos ao solo em posse de armas de fogo e drogas. Já os outros suspeitos conseguiram fugir. Os feridos foram socorridos pela guarnição para o Hospital Geral do Estado (HGE), onde não resistiram.

Durante a prestação de socorro, manifestantes jogaram entulhos, obstruíram a pista em ambos sentidos e hostilizaram as guarnições. O policiamento foi reforçado na região com o apoio de outras unidades.

Foram apreendidos no local em posse dos três suspeitos um revólver calibre 38; duas pistolas, sendo uma de calibre .40 e outra de calibre 380; 177 papelotes de maconha; 233 pinos e dez embalagens de cocaína; 130 pedras de crack; três aparelhos celulares; uma balança eletrônica, R$ 172,00 em espécie e um relógio de pulso.

A ocorrência foi registrada na Corregedoria Geral da PMBA.

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