Polícia

'Por justiça, faço do trauma coragem para falar', diz jovem que acusa empresário de estupro em Valença

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Segundo a denúncia, duas irmãs, hoje com 16 e 22 anos, relatam abusos sexuais desde a infância  |   Bnews - Divulgação Reprodução/Google Maps

Publicado em 06/06/2019, às 13h00   Vinícius Ribeiro


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Uma denúncia feita por uma adolescente através do Disque 100, em julho do ano passado, revelou um triste caso de abuso sexual ocorrido em família. De um lado, duas irmãs. Do outro, o tio, um empresário bem relacionado em Valença, cidade localizada no baixo-sul da Bahia, a 255 quilômetros de Salvador.

O acusado de provocar os supostos abusos sexuais é o empresário Reinaldo Oliveira Silva, conhecido no Município e região por sua atuação no ramo de transportes, conforme noticiado pela imprensa local. Os relatos das vítimas - que terão as identidades preservadas - apontam que ele teria as estuprado.

O empresário era casado com a tia das jovens, que pediu divórcio após o caso ser denunciado. De acordo com a acusação, os abusos ocorriam na residência das vítimas e durante estadias em casa de praia.

Em conversa com o BNews, uma das jovens, hoje com 22 anos, revelou que os abusos tiveram início aos 5 anos de idade. Segundo ela, os atos não duraram tanto quanto os sofridos pela irmã mais nova, responsável por romper o silêncio em 2018. "Ele já apontou arma para ela. Ele tinha uma espingarda em casa, apontava para a arma dizendo que ia acontecer algo com meus pais caso ela (a adolescente) contasse para alguém", disse, com base no depoimento da irmã. Apesar do porte legal, o empresário teve a arma apreendida por determinação judicial.

A vítima demonstra temor de descumprimento de medida protetiva imposta pela Justiça. "Tenho muito medo com o que pode acontecer com minha irmã, com meus pais e minha família", revelou a jovem, que atualmente mora em Salvador e cursa Direito em uma faculdade particular. Ela se manteve em silêncio e só revelou também ter sofrido os abusos após saber da denúncia feita pela irmã adolescente.

MISSÃO

Após o caso ser noticiado pela imprensa local, a jovem afirma que além de justiça busca incentivar outras vítimas a expor o problema. "Nossa missão é encorajar outras mulheres a denunciar e passar informações aos pais para que evitem que os filhos e filhas sejam abusados", frisou. Apesar de desconfortável com as lembranças, ela afirma: "Se for para que a justiça seja feita, eu faço do trauma coragem para falar".

O suposto caso de estupro foi registrado na 1ª Delegacia Territorial (DT/Valença). "O inquérito foi presidido pelo delegado plantonista, já foi remetido à Justiça e o procedimento está acontecendo em segredo de Justiça", informou o delegado titular Bruno Pereira à reportagem, na manhã desta quinta-feira (6).

ADOLESCENTE ENCORAJADA

Por causa dos abusos sofridos durante anos, irmã mais nova, de 16 anos, precisou de acompanhamento psicológico. "A fase de medo e insegurança já passou, foi cruel, mas passou. Hoje ela se sente encorajada", afirmou a estudante, confortada pelo apoio que as duas têm recebido. As jovens são filhas de um casal de empresários da região.

Conforme relatado, a adolescente sofreu por mais tempo. "A mais nova está totalmente destruída", salientou Natália Petersen, advogada das vítimas. A adolescente, que começou a ser abusada ainda na infância, conforme registrado na denúncia, recorreu ao disque denúncia após ser agredida fisicamente pelo acusado em uma praia.

De acordo com a advogada da família, o trabalho da acusação esbarra na falta de provas que comprovem as relações sexuais. "Estamos em uma situação muito complicada. Como os atos aconteceram há muito tempo e ela (a adolescente) só teve coragem de denunciar bem depois, a gente não tem laudo pericial, mas temos a coerência muito grande da fala das vítimas", observou.

Ainda segundo Natália Petersen, a aparição de outras vítimas deve contribuir para a acusação. "A gente soube do relato de uma ex-empregada doméstica, que disse não ter sido estuprada, mas que foi assediada, inclusive, na frente da ex-patroa", apontou.

Após duas oitivas, o caso passará por nova audiência em setembro, no Fórum Gonçalo Porto, em Valença. Antes, no dia 15 de junho, uma manifestação será realizada na cidade para cobrar justiça e alertar a população para casos semelhantes.

O BNews tenta desde quarta-feira (5) contato telefônico com o acusado - mas ainda sem êxito.   

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