Polícia

Moradores dizem que falta de diálogo com a comunidade facilitou roubo 'cinematográfico' de fios de cobre

Vagner Souza/BNews
Cerca de 20 homens destruíram uma obra e subtraíram fios de cobre   |   Bnews - Divulgação Vagner Souza/BNews

Publicado em 29/09/2020, às 14h54   Luiz Felipe Fernandez e Aline Reis


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O caso do roubo de fios de cobre do Santo Antônio Além do Carmo com certeza vai marcar a história da comunidade daquele local. No último domingo (27), cerca de 20 homens fardados disfarçados de trabalhadores, destruíram uma extensão de 60 metros de obras com uma retroescavadeira para roubar fios de cobre. A situação virou uma confusão, pois guardadores de carros também quiseram subtrair o produto, além disso, residentes, sem querer, acabaram facilitando o “trabalho” deles. 

Dois dias após o caso “cinematográfico”, Claudio Marques, cineasta e morador que presenciou o ocorrido, afirmou ao BNews que a falta de diálogo entre os responsáveis da obra e a comunidade favoreceu à ação criminosa. “Tudo tem sido feito de uma maneira que não concordamos, a obra é bem-vinda, mas é preciso de diálogo para que a população se aproprie, por exemplo, se tivéssemos um cronograma de obras já ficaríamos atento sobre ser uma equipe falsa, já que ao visualizarmos os dias e horários iríamos notar que estava algo errado e acionar a polícia”, explicou. 

Claudio disse que tudo começou por volta de 08h30 do domingo, mas só ficou claro para os residentes que se tratava de um roubo cerca de duas horas depois. “Há sete meses eles estão por aqui, chegam de qualquer forma e sem avisar, além da intermitência do serviço, não desconfiei que fosse um falsete. Já reclamei muito sobre essa obra, mas no domingo foi diferente, eles estavam com muita pressa e o supervisor que estava lá e falou comigo apenas fez desconversar dizendo que era para finalizar mais rápido”. 



Ao questionar a responsável pela obra, a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder), por telefone, o cineasta foi informado que não tinha sido enviada nenhuma equipe para a obra. “Não queríamos acreditar, era muito absurdo, fica até difícil distinguir o que foi realidade ou não. Quando saí na rua, as pessoas estavam falando sobre uma briga, tinha até um caminhão que foi visto preparando para receber os fios de cobre, foi aí que tudo começou a ficar claro”.  

Claudio disse ainda que o episódio vai ficar como lição para reforçar a importância de discutir as construções públicas com a comunidade. “Seja do governo federal, estado ou município, essa aproximação maior com os moradores evitaria esse crime, isso é democracia e, de fato, transparência”.   

Sensação de insegurança 

A Rua Direita de Santo Antônio Além do Carmo é conhecida pela bohemia, procurada por soteropolitanos e turistas com sua arquitetura antiga e tranquilidade, já que a comunidade é antiga. 

Para Alessandra Flores, moradora da região, apesar desse caso tão surreal, para ela, não aumenta a sensação de insegurança. “Uma coisa cinematográfica, chocante e difícil de entender. Apesar de não considerar um bairro mais tranquilo, as ruas, ainda mais durante a pandemia, estão desertas, mas esse episódio isolado não aumenta a sensação de insegurança do nosso medo que sai do cotidiano que apela por mais policiamento”. 



Alessandra pontua como um agravante que tem que ser revisto com o diálogo com as comunidades em qualquer intervenção na cidade. “É um aspecto muito sério e pertinente que as obras que são feitas na cidade, não há normalmente contato com os moradores, ninguém veio explicar e dizer quanto tempo demoraria, uma consulta popular, sabe? Acho que pode sim facilitar esse tipo de crime, demorou um tempo pelo que entendi para as pessoas perceberem que não se tratavam de funcionários da obra”. 

A Polícia Militar informou sobre o caso através de nota “que de acordo com o 18º BPM, unidade responsável pelo policiamento na região, não houve acionamento”. 

Em nota, a Companhia de Desenvolvimento Urbano do Estado da Bahia (Conder) confirmou que a obra de requalificação de ruas no bairro do Santo Antônio, Centro Antigo de Salvador, foi vandalizada com destruição de 60 metros de extensão da Rua Direita, já pavimentada, por uma retroescavadeira e pessoas de identidades desconhecidas que estavam em busca de cabos elétricos no subterrâneo, destruindo ainda a rede de abastecimento de água no local. 

Em relação à reclamação dos moradores em relação a ter mais comunicação com a comunidade, Vitor Reis, coordenador das ações no Centro Antigo de Salvador, explicou que "a medida que as ações vão sendo planejadas, há essa preocupação da interação com a população de cada uma das vias beneficiadas. Antes de iniciarmos os três primeiros trechos, por exemplo, na Ladeira do Boqueirão, na Cruz do Pascoal, e na Rua Direita do Santo Antônio comunicamos os serviços que seriam realizados”. Mais recentemente, lembra ele, após análise da equipe técnica, uma travessia elevada, localizada na Rua Direita, foi relocada em 10 metros para atender uma solicitação dos moradores. 

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