Polícia

SP: roubo e furto de celulares cresce e aparelhos têm servido para pratica de golpes, incluindo transferências via PIX

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As quadrilhas também integram o PCC e até grupos que vendem celulares roubados no Brasil, em países africanos  |   Bnews - Divulgação Arquivo BNews

Publicado em 13/04/2022, às 20h04   Redação


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O roubo de celular em São Paulo voltou a subir e atualmente tem alimentado outra cadeia criminosa, não só aquela interessada no aparelho, em si, mas também os especialistas em crimes digitais que usam estes celulares para aplicar golpes e, inclusive, realizar transferências via PIX. As quadrilhas também integram o Primeiro Comando da Capital (PCC) e até grupos que vendem aparelhos roubados no Brasil, em países africanos.

Informações do Departamento de Pesquisas em Economia do Crime (Depec), da Fundação Escola de Comércio Álvares Penteado (Fecap), junto à Secretaria de Segurança Pública do Estado de São Paulo (SSP-SP) mostram que somente entre janeiro e fevereiro deste ano foram roubados ou furtados 40.704 celulares na capital paulista, o que corresponde a 689 aparelhos por dia.

“Após o roubo ou furto, a primeira coisa que o criminoso tenta fazer é desbloquear rapidamente o acesso ao celular. Ele tenta entrar nos aplicativos de bancos ou obter vantagens com os contatos do dono do telefone em outros aplicativos de conversas. Depois disso ou caso não consiga desbloquear, eles buscam receptadores para vender os aparelhos”, explica um delegado da Polícia Civil que pediu anonimato.

"A pessoa que te aborda pode te obrigar a fazer um PIX, é possível inclusive aumentar o limite da transferência na hora. Pode também pedir que você faça um empréstimo, que sai na hora também", explica o delegado da Polícia Civil Maurício Freire

Depois de ser tirado das mãos dos donos, os celulares podem ir para o desmonte e a revenda, o que pode acontecer nas “lojinhas de celular”, pela internet ou mesmo nas ruas mais movimentadas da cidade. Segundo o perito Marcelo Sampaio, coordenador do laboratório de computação forense do Estado da Bahia, as características do aparelho decidem seu uso final.

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Em entrevista ao site Valor Econômico, ele contou que os aparelhos mais baratos e com sistema operacional mais antigo têm tecnologia antifurto mais simples e revenda mais fácil — são vendidos às vezes por um quarto do preço, ou acabam usados pelo crime na comunicação dentro dos presídios ou nos mais diversos golpes. Já os de maior valor são desmontados — uma tela de celular em bom estado chega a custar metade do preço de um aparelho intermediário — ou exigem um número maior de passos para poderem circular novamente.

"Mas é só pesquisar na internet que se encontra jeito de contornar isso. Existem vídeos ensinando a implantar um chip nos aparelhos mais novos da Apple para burlar a tecnologia antifurto", acrescenta Sampaio.

Sabotando o ladrão

Ainda de acordo com Sampaio, ao não pedir o bloqueio do aparelho para a operadora ou na hora de registrar o boletim de ocorrência, as pessoas acabam colaborando com o problema. Isso porque as operadoras conseguem impedir o uso da rede de telefonia bloqueando o código IMEI (Identificação Internacional de Equipamento Móvel, em português) do aparelho. "O IMEI é como o chassi do carro. Os oito primeiros números dão a marca e modelo do aparelho. Em alguns casos, fornece até a cor do celular", explica.

Porém, apesar do IMEI ser um importante recurso para dificultar a circulação de um aparelho roubado, não é um recurso definitivo. Criminosos com conhecimentos em cibernética conseguem adulterar ou clonar os códigos, viabilizando o uso. Diante do cenário, a Anatel já busca responder. “Existem casos de adulteração para alguns modelos de terminal. Contudo, a agência já implementou junto com as prestadoras outra iniciativa, chamada Celular Legal, que identifica terminais com IMEI adulterado e realiza o bloqueio”, declarou a Anatel via assessoria de imprensa.

De posse do aparelho desbloqueado, os criminosos também conseguem entrar no aplicativo bancário e realizar transferências de PIX para contas de laranjas, ou ainda pedir empréstimos pré-aprovados das vítimas. Segundo Sampaio, eles conseguem acessar o ambiente bancário exigindo também buscando dentro da memória do celular arquivos de senha ou ainda usando outras técnicas de manipulação que liberam o universo de senhas ligado à conta.

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Modalidades que envolvem a clonagem da linha são mais sofisticadas e exigem a participação de um funcionário das operadoras, segue o perito. "O chip do celular não é clonável nesse nível. A operadora vincula a linha, o número de série do chip (ICCId) e a identificação do aparelho. É preciso que alguém de dentro que reconecte essas informações com o ICCId de outro chip", diz.

Mercado Africano

Além de passar de mão em mão de criminosos no Brasil, uma fatia dos celulares roubados e furtados em São Paulo tem outro destino: o mercado ilegal no continente africano. Operações recentes da Polícia Civil em parceria com a Receita Federal apreenderam centenas de aparelhos no Aeroporto Internacional de Guarulhos.

A Receita Federal de São Paulo informou que, em 2020, uma primeira série de operações resultou na apreensão de 567 celulares que tinham sido registrados como roubados em boletins de ocorrência. Em outra, 110 aparelhos estavam em bagagens para exportação clandestina em direção a países africanos.

Adis Abeba, capital da Etiópia, e Dacar, capital do Senegal, são pontos de chegada comuns, de acordo com os destinos dos viajantes presos nas operações. Criminosos da Nigéria estão entre os grupos por trás desse transporte clandestino de celulares brasileiros — atividade que seria realizada paralelamente ao tráfico de drogas.

Com informações do site Valor Econômico

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