Política

“Não acredito mais em reforma do Poder Judiciário”, diz Carmen Lúcia

Publicado em 21/03/2015, às 11h30   Emerson Nunes (Twitter: @emenunes)


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Cautelosa ao falar com a imprensa, a mineira Carmen Lúcia, vice-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), evitou comentários mais polêmicos como a ampliação da pena de corrupção de 12 para 25 anos de prisão, transformando a prática em crime hediondo. “Sobre isso eu não posso falar”, se esquivou, durante evento que marcou a instalação da 2º Vara da Violência Doméstica no Fórum Regional do Imbuí, na 2ª Vara da Violência Doméstica e Familiar contra a Mulher, em Salvador.
A presença de Carmen Lúcia, que deve assumir a presidência do STF no próximo ano, ainda é incerta entre os membros da 2ª Turma do Tribunal que vai julgar os processos da Lava Jato. A ministra afirmou que deixará a paixão de lado durante o julgamento. “Eu, como juíza, aprendi uma coisa, em qualquer julgamento de qualquer coisa: nesses nove anos eu tenho deixado de lado, na hora que eu saio para trabalhar, ou na hora que eu estou trabalhando, toda paixão que eu posso e na hora que eu abro os processos, tenho levado toda compaixão que eu posso”.
Atualmente a turma é formada por ela, Celso de Mello, Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Teori Zavascki.
Sobre mudanças na estrutura do Judiciário, a magistrada se mostrou descrente. “Não acredito mais em reforma do Poder Judiciário. Quando se fala nisso pensa-se na cúpula do STF, mas nós precisamos não de uma reforma nos tribunais superiores, mas nos juizados. Precisamos repensar a forma de agir”, afirmou.
“Tem que ser outro judiciário para essa sociedade em que nós estamos vivendo. A sociedade quer e precisa de uma resposta rápida. Nós não somos justiceiros, nós somos juízes. Portanto ou condena ou absolve, mas é preciso dar uma resposta rápida. E para isso é preciso pensar: uma faculdade que tem o mesmo currículo de 1928 está formando o advogado, o juiz que a sociedade em 2015 precisa? Porque me ensinam a recorrer um semestre inteiro e ninguém nunca me ensinou a conciliar e depois querem que o advogado não recorra. É preciso mudar tudo. É preciso sair da zona de conforto. Eu estou saindo da minha, constantemente”, disparou.
Ela, que em 2007 foi a primeira mulher a vestir calça comprida nas dependências do tribunal comentou a necessidade de que os processos sejam julgados de forma mais rápida. “É preciso dar uma resposta mais rápida. A justiça tem que ser mais célere. Uma resposta dada dez anos depois pela feitura de um júri aplica-se a lei, mas não se faz justiça. Em uma cidade pequena isso contamina tudo”, explicou. “Alguém ganha com a morosidade da Justiça. Vamos parar de ser hipócritas”.
Apesar de afirmar que a sua geração não verá as mudanças pelas quais luta, Carmen Lúcia também se revelou uma otimista com o país. “Eu sei que não vou mudar o Brasil, mas eu não quero que o Brasil como está me mude. Todo mundo tem que cumprir a Constituição. A Constituição não é uma lei do estado, é uma lei da sociedade. Mas eu acredito muito no Brasil”, finalizou.
*Matéria originalmente postada às 19h15 desta sexta-feira (20)

Classificação Indicativa: Livre

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