Política

Dilema de ACM Neto: medo de renúncia faz demista cogitar desistir de reeleição

Publicado em 11/04/2016, às 10h28   Cíntia Kelly (@cintiakelly_)



Waldir Pires se aventurou em 1989 abandonando o governo da Bahia para disputar a presidência da República na chapa encabeçada por Ulisses Guimarães [na foto a esquerda, ambos participam de comício em Jequié]. Resultado: acabou a disputa em sétimo lugar. Além do mau cálculo que fez, Waldir entregou a Bahia nas mãos de Nilo Coelho, que fez uma gestão medíocre e impopular.

Quase 30 anos depois, o prefeito de Salvador, ACM Neto (DEM), teme fazer um mau cálculo tal qual o adversário do seu avô, o senador ACM morto em 2007. Hoje, o demista tem todas as ferramentas para se reeleger com facilidade, mas seus planos incluem 2018, quando deve rivalizar com o governador Rui Costa (PT) o comando do estado. E aí consiste o dilema de Neto. A desastrosa renúncia de Waldir não é única, mas emblemática e acendeu a luz de alerta na cabeça do prefeito.

ACM Neto tem até junho para decidir se sai ou se fica. E os motivos que o levariam a não disputar a prefeitura, por ora, são maiores do que o contrário, tendo como pano de fundo e foco o Palácio de Ondina, a sete quilômetros do Thomé de Souza.

Caso se recandidate este ano, Neto trairá seu eleitorado em 2018, quando terá de renunciar para disputar o governo do Estado. A traição se dará porque durante a campanha eleitoral ele não irá manifestar suas reais intenções nos meios eletrônicos e nem pelas andanças na cidade. Mas a traição não seria um medo em si. A renúncia e a derrota para Rui seriam, sim, o freio em sua ascensão política.

Fontes ligadas ao prefeito garantem que Neto teme renunciar e perder as eleições de 2018. Por isso, o prefeito, já no último segundo, filiou o secretário de Educação, Guilherme Bellintani, ao DEM. Ele é o seu plano B. Neto, óbvio, é o plano A.

Ainda focado em seu projeto de poder, fazendo seu sucessor e distante da prefeitura de Salvador, ACM Neto poderá fazer o périplo necessário pelo interior. Se organizar nos maiores colégios eleitorais do estado. Por questões obvias, Rui Costa está à frente de Neto anos-luz. Além de ter a caneta na mão e levar obras para os municípios, Rui tem viajando as quintas-feiras, sextas e sábado para o interior. Neto, como se diz no interior, tem de botar sebo nas canelas e correr chão.

A administração bem feita na capital – e quem diz isso é a população, são 84% dos pesquisados avaliando como boa e ótima a gestão do demista – é uma excelente vitrine, mas Salvador detém 20% do eleitorado da Bahia.


Foto: Gilberto Jr./Bocão News

Afastado da prefeitura, Neto também pode partir para ofensiva, o que a oposição mais fez nos últimos tempos. Metralhar o PT e os petistas. Investido no cargo de prefeito, por questões institucionais, Neto tem mirado no Partido dos Trabalhadores, mas não personaliza em suas críticas.

Uma fonte do Thomé de Souza observou que o governador Rui Costa tem espalhado mentiras em relação a obras em Salvador. “Neto nada pode falar porque pode se tornar um prefeito chato, que está procurando encrenca, mas ele se irrita muito com as mentiras de Rui”, assinalou a fonte sob condição de anonimato.

Apesar de toda a preocupação com vistas a 2018, Neto não deve dar um passo em falso. Nos próximos 80 dias, e de forma solitária, o demista terá de pensar o melhor caminho a seguir, bem no dilema shakespeariana disputar ou não disputar. Essa será a grande questão nos próximos dias.

PLANO B - Em conversa com o Bocão News, o cientista político, Paulo Fabio Dantas, comunga da avaliação. “Primeiro, Neto se liberaria da condição de prefeito, já que a prefeitura tolhe seu protagonismo nas questões estaduais e federais. Como gestor, ele tem de segurar as pontas. Ele é um político evidente com plano de futuro e fora da prefeitura terá mais desenvoltura na oposição ao governo estadual, se preparando para eleição em 2018, representando o antipetismo”.


Foto: Max Haack/Secom

Para o cientista político, a prefeitura de Salvador pode não ser suficiente para disputar o governo do estado. Reconhece que a estratégia de Neto vai abalar a oposição. “Estão todos preparados para enfrentar o ACM Neto”.

Para Paulo Fábio, seria melhor para Neto disputar o governo fora da prefeitura, fazendo clara oposição e articulação nacional. Sobre Bellintani, o cientista político fez boa avaliação. “Bellintani tem se mostrado capaz de conduzir a prefeitura enquanto ACM fica liberado para fazer oposição. Ele não é apenas técnico, tem demonstrado um quadro com capacidade política”.

Inicialmente filiado ao PPS, Bellintani mudou para o DEM sob a batuta de ACM Neto, um dia antes do prazo findar. Da iniciativa privada, Bellintani sempre foi considerado um quadro técnico. Disse, por exemplo, jamais cogitar disputar uma vaga no Legislativo. Para Paulo Fábio, há um ponto de convergência entre o secretario de Educação e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad.  “O prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, muita gente pensou que seria uma outra Dilma, e não foi. Tem rejeição alta, porque o PT tem, mas o discurso e o movimento o político, percebe que é um quadro político”.

*Colaborou o repórter Rodrigo Daniel Silva

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp