Política

Vereador denuncia situação “degradante” no Roberto Santos

Imagem Vereador denuncia situação “degradante” no Roberto Santos
Carlos Muniz relata descaso com pacientes e diz que existe ala especial para apadrinhados políticos  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 20/06/2011, às 15h27   Daniel Pinto




No início da manhã desta segunda (20), veio à tona a informação de que o vereador Carlos Muniz (PTN), 1º secretário da Câmara Municipal de Salvador, passou por maus bocados após uma visita ao Hospital Roberto Santos (HRS), no Cabula, no último sábado (18). Em conversa com o Bocão News, ele disse que foi até a unidade para apurar a denúncia de que não havia médicos de plantão.  

Ao chegar, ainda sem se apresentar como vereador, confirmou a tese e também testemunhou cenas “degradantes”. “Vi lixo embaixo de macas e tinha gente espalhada pelos corredores. Um paciente idoso aguardava atendimento há três dias. E como não tinha dinheiro para se alimentar permaneceu com fome durante todo esse tempo”, revelou.

Foi então que Carlos Muniz decidiu fazer uma filmagem. De acordo com o vereador, pouco depois de começar o registro das imagens pelo celular, foi abordado pelo diretor do Roberto Santos, Paulo Sérgio Bicalho. O gestor pediu para que ele parasse de filmar. O vereador não atendeu ao pedido, mas, num descuido, teve o aparelho “surrupiado” por Bicalho, que aproveitou para correr até uma sala reservada dentro do prédio.

Clinch - Em seguida, Carlos Muniz resolveu correr atrás do diretor e conseguiu alcançá-lo antes que ele saísse do local. Ainda segundo testemunho do vereador, os dois entraram em confronto corporal, mas ele levou vantagem no clinch e recuperou o celular. Neste momento, chegaram alguns seguranças e dois policiais militares. “Aí, ele me ameaçou e disse que eu deveria entregar o celular. Então, disse que era vereador e que a situação seria resolvida na delegacia. Então, surgiu um policial civil e disse que a ocorrência seria feita lá mesmo, inclusive com testemunhas. Felizmente, consegui sair”, desabafou.

O parlamentar disse ainda que ouviu de funcionários que existe uma ala do HRS reservada para pessoas indicadas pelo governador Jaques Wagner e pelo secretário estadual da Saúde, Jorge Solla. “Espero que isso não seja verdade. Mas, depois de tudo, o paciente que me procurou foi transferido para um setor especial com 12 leitos, sendo que apenas dois estavam ocupados”.

Versão oficial - O Bocão News levou as denúncias até a assessoria de comunicação da Secretaria da Saúde, que fez as seguintes considerações:  

O vereador em questão, sr. Carlos Muniz, esteve neste Hospital no sábado, dia 18, pela manhã, para tratar da alta de um paciente que, na quinta-feira anterior, havia sido submetido a exame de Endoscopia e a ligadura de varizes do esôfago, procedimento que exige a permanência do paciente em observação por dois ou três dias até a completa cicatrização.

Durante todo o tempo, o vereador, acompanhado de várias pessoas (apesar de somente ser permitido 1 acompanhante por paciente), bramia reclamações e gravava imagens com um telefone celular, incitando os acompanhantes de outros pacientes a revoltar-se contra o Hospital. Seu comportamento tumultuou a rotina e prejudicou o atendimento, uma vez que funcionários se sentiram constrangidos ao perceberem a gravação de imagens e se recusaram a prosseguir com a assistência.


Chamado a intervir, o diretor Geral do HRS, dr. Paulo Bicalho (foto), pediu paciência e argumentou que o paciente já iria ser atendido, mas o vereador prosseguiu gravando imagens, o que motivou a que o diretor se comunicasse com o Comando da Polícia Militar para manter a ordem nesta Unidade. O diretor do HRS, de índole pacata e ordeira, NÃO aplicou “gravata” ou golpe semelhante no vereador.

Consideramos que o vereador agiu de forma abusiva ao se utilizar de um aparelho de telefone celular para gravar imagens da área interna da Emergência deste Hospital, procedimento que viola o direito de privacidade de pacientes, acompanhantes e funcionários e que não é permitido a quaisquer pessoas, por quaisquer motivos. Seu papel, como edil, seria a discussão civilizada pela melhoria do modelo de atenção básica em saúde, que é deficiente na capital baiana, acarretando a superlotação nas Emergências dos hospitais públicos.

A propósito de outras alegações que teriam sido feitas pelo vereador, de acordo com solicitação recebida hoje, por volta das 15h, em contato com o repórter Daniel Pinto, de pacientes nos corredores, lixo sob as macas, falta de médicos e existência de “ala especial com 12 leitos para amigos do governador”, situações que teriam sido verificadas por ele no sábado, esclarecemos:

1. Pacientes nos corredores da Emergência, há. O Hospital Roberto Santos funciona como Emergência porta aberta, ou seja, não recusa pacientes e, por problemas decorrentes principalmente da deficiência na atenção básica à saúde em Salvador e outros municípios, encontra-se quase sempre lotada.

2. A limpeza e higienização do hospital é constante e não há possibilidade de haver lixo sob os leitos ou macas; eventualmente, algum acompanhante coloca pertences pessoais sob os leitos, não podendo ser tais pertences considerados “lixo”.

3. O plantão de sábado (dia 18), em termos de cumprimento da escala por parte dos profissionais, foi tranquilo, sem registro de faltas de profissionais médicos capaz de comprometer a assistência.

4. O Hospital Roberto Santos teve, sim, um espaço destinado a pessoas “privilegiadas”, descoberta casualmente pelo então diretor José Roberval no ano de 2007, como foi amplamente noticiado pela imprensa na época. Tratava-se de dois apartamentos privativos cuja entrada era oculta por um biombo e que foram logo transformados pelo secretário estadual da Saúde, Jorge Solla, em enfermarias comuns, uma vez que a política atual de assistência à saúde não comporta nenhum tipo de privilégio.


Foto: Gilberto Júnior/Bocão News

Classificação Indicativa: Livre

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