Política

Mais Uma Vez a Igreja Católica “Pisou na Bola”: O Papa Não é Pop

Publicado em 20/03/2013, às 10h40   Rômulo Moreira*



Vejam como são as coisas na santa igreja católica apostólica romana: depois de escolherem um nazista, o alemão Joseph Aloisius Ratzinger, para suceder o conservador João Paulo II, os cardeais agora resolveram, na mesma linha, eleger o cardeal argentino Jorge Mario Bergoglio, “acusado de ter sido cúmplice de crimes cometidos pela ditadura cívico-militar de seu país (1976-1983). Arcebispo de Buenos Aires, o cardeal chegou a ser convocado para testemunhar em julgamento sobre a desaparição de sacerdotes durante os anos de terrorismo de Estado.”
De acordo com a Associação Mães da Praça de Maio, Bergoglio foi cúmplice da ditadura. O cardeal é acusado de facilitar o sequestro dos sacerdotes jesuítas Francisco Jalics e Orlando Yorio, versão corroborada pelo jornalista Horacio Verbistky, autor de diversos livros sobre o assunto. “[Ele] era chefe da Companhia de Jesus, às quais eles pertenciam, mas em vez de protegê-los, lhes tirou a proteção eclesiástica e poucos dias depois foram sequestrados” (...) Ele os denunciou por estarem vinculados com a subversão e de terem desobedecido seus superiores hierárquicos”, continuou o jornalista, afirmando que a informação estava documentada na chancelaria argentina. “Em 2011, durante as audiências do processo sobre o plano sistemático de roubo de bebês - nascidos em prisões clandestinas, durante a ditadura, e adotados ilegalmente por outras famílias, em sua maioria próximas a autoridades militares –, Bergoglio chegou a ser citado para declarar, após testemunhas apontarem que ele estava ciente deste tipo de crime. (...) Como é que o Bergoglio diz que só sabe do roubo de bebês há 10 anos?”, questionou em uma audiência Estela de la Cuadra, que apresentou ao tribunal cartas de seu pai ao arcebispo, agora papa, nos quais pedia que este intercedesse na procura por sua filha desaparecida, e de sua neta, que nasceu em um centro clandestino de prisão e tortura da ditadura. (...) Segundo o depoimento de Alicia De la Cuadra, primeira presidente da Associação Avós da Praça de Maio, durante a busca por sua neta, Bergoglio teria dado a ela uma carta na qual dizia que o bispo argentino Mario Piqui intercederia no caso. Após o contato com autoridades policiais, no entanto, o bispo teria afirmado ao casal que a criança estaria vivendo com um "bom casal” e que a suposta adoção já não tinha “volta atrás”.Além dos indícios de cumplicidade no esquema de roubo e apropriação ilegal de menores, Bergoglio deveria declarar acerca da morte de religiosos durante a repressão.

Rômulo de Andrade Moreira é Procurador-Geral de Justiça Adjunto para Assuntos Jurídicos na Bahia
Segundo a imprensa local, em depoimento de cerca de quatro horas, o cardeal afirmou que se reuniu com integrantes da Junta Militar que governava o país - Jorge Rafael Videla e Emilio Eduardo Massera - para pedir a libertação dos sacerdotes.Em entrevista à televisão pública argentina, no entanto, o jornalista Verbitsky afirma que na audiência ante os tribunais, Bergoglio negou informações concedidas a ele em uma entrevista.Segundo a reportagem, o novo papa deu ao jornalista detalhes sobre uma ilha chamada El Silencio, no delta do Rio Tigre, que teria sido vendida em 1979 pelo episcopado argentino para a Marinha, com o objetivo de servir como centro clandestino de prisão. Ele negou [perantes os juízes] fatos que eu tenho claramente documentados, disse Verbistky.Em audiência sobre crimes cometidos na Escola de Mecânica da Marinha (Esma), centro de detenção clandestino da ditadura, a ex-presa e desaparecida María Elena Funes relatou que o arcebispo de Buenos Aires tinha proibido um dos jesuítas de atuar como padre na região de Bajo Flores, no sul da capital argentina, por razões ideológicas.Berglogio foi denunciado pela primeira vez por cumplicidade com crimes da ditadura em 1986, no livro Igreja e Ditadura, escrito por Emilio Mignone, autor defensor dos direitos humanos que teve sua filha desaparecida” (Com informações dos jornais Página 12 e Tiempo Argentino”).
Aliás, acho que nem os argentinos aprovaram a escolha, que o diga Hector Babenco, cineasta argentino radicado no Brasil: “Não posso falar muito sem conhecer o perfil dele, mas pode colocar que é um puta mau gosto. Qualquer membro da Igreja Católica argentina é nefasto, mancomunado com o Estado, com militares e apoiadores da tortura. A única virtude de termos um papa argentino é que ele come carne.”
Na linha dos seus antecessores, o novo chefe da igreja católica posicionou-se claramente contra a opção sexual do ser humano (o que não é uma atitude cristã convenha-se). Com efeito, “durante el debate por la Ley de matrimonio gay, en 2010, Bergoglio fue la cara visible de la oposición de la jerarquía de la Iglesia Católica. Operó, por un lado, desde la vida pública, con esa famosa marcha que se organizó frente al Congreso y enviando aquella carta a todas las iglesias del país. Allí Bergoglio dijo 'esta guerra no es vuestra sino de Dios' y planteó el matrimonio como 'un plan del demonio' para destruir a la familia y a la sociedad argentina”, segundo afirmou Esteban Paulón, presidente de la Federación FLGBT (“Por otro lado, trabajó desde lo invisible: pudimos constatar que operó a través de todos los obispos provinciales presionando a senadores y diputados para que no votaran la ley.)”
Para Diego Trerotola, ativista da Comunidade Homossexual Argentina, “parece consecuente con la postura de la Iglesia vaticana con respecto a temas vinculados a los derechos de la diversidad sexual. De todos modos me parece un Papa perdedor, un Papa que no tiene predicamentos sobre la política argentina: acá se aprobaron la ley de matrimonio igualitario y la de identidad de género y no pudo imponer sus ideas.
María Rachid, Secretaria da Mesa Nacional pela Igualdade da Argerntina, “no sorprende que la jerarquía de la Iglesia esté nombrando a alguien que la representa fielmente pero sí que muchos referentes progresistas de nuestro país estén celebrando que un argentino que milita en contra de los derechos de la diversidad y de las mujeres haya sido elegido Papa, pois “es un hombre que se opone al uso de anticonceptivos para prevenir embarazos no deseados, a la educación sexual en los colegios, al uso de preservativo para prevenir infecciones de transmisión sexual, y por último, obviamente, al derecho al aborto. Que sea argentino no lo exime de esto y, la verdad, no me alegra que haya un argentino representando todas estas ideas".
Pois é... como diria Chico Buarque, eu que não creio, peço a deus por minha gente! 
*Rômulo de Andrade Moreira é Procurador-Geral de Justiça Adjunto para Assuntos Jurídicos na Bahia

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp