“Pretendo atuar com muito diálogo e convicção. Não levaremos ao plenário nada que não tenha sido discutido antes com a bancada”. Palavras da vereadora Vânia Galvão (PT) para definir qual será a postura da liderança da oposição na Câmara Municipal de Salvador. Ela assumiu oficialmente o comando do bloco nesta quarta (17) em substituição ao vereador Henrique Carballal (PT), que teve passagem bastante turbulenta pelo cargo. O petista chegou a ter a competência e o caráter questionados pelas “camaradas” do PCdoB, Aladilce Souza e Olívia Santana.
Em conversa com a reportagem do
Bocão News, as duas se sentiram bem à vontade para comemorar a alternância no posto de destaque. “Vânia tem nossa confiança e, certamente, vai desempenhar o papel com legitimidade. A mudança foi bastante positiva. Não queremos ver a bancada achincalhada como vem sendo e, tão pouco, ter um líder com posições dúbias”, destacou Olívia, que também comentou a inauguração da
praça com o nome do pai de Carballal, no bairro da Pituba. “Era justamente disso que falávamos. É estranho ver um líder da oposição receber esse tipo de homenagem. Acredito que as relações não devem se misturar neste nível”.
Aladilce foi além e classificou a chegada de Vânia Galvão como uma “vitória do PCdoB”. “Foi um avanço bastante positivo. Agora, de fato, teremos alguém que nos ouça antes de tomar decisões por todo o bloco”. A vereadora também aproveitou para comentar o “afago” da administração João Henrique ao ex-líder da minoria. “É uma prática realmente muito estranha, já que esse não é o comportamento típico do prefeito com aqueles que não fazem parte do seu governo. Nós, da oposição, temos a maior dificuldade do mundo para encaminhar qualquer tipo de demanda”, pontua.
"Saída honrosa" - Diferente das amigas de plenário, Vânia Galvão preferiu não apontar falhas do antecessor à frente do grupo. E também não admitiu que chegou ao cargo por conta da pressão política exercida pelas comunistas. “Carballal se afasta porque tem outros compromissos além da Câmara e do seu mandato. Por isso, muitas vezes não conseguia estar tão perto e até faltava algumas reuniões. Como te disse, vou seguir em frente e procurar defender os interesses da bancada da melhor maneira possível”.
Embora as evidências digam justamente o contrário, todas as vereadoras foram unânimes em dizer que não há (ou melhor, nunca houve) animosidade entre PT e PCdoB. “Tivemos algumas divergências pontuais. Nada além disso”, observou Aladilce. Para Olívia Santana, as relações entre as legendas “estão intactas em Salvador e na esfera estadual”. “Animosidade? Não, não. Temos laços históricos e pertencemos ao mesmo grupo político”, sentenciou a líder.
Hipócritas e demagogos - Antes de subir ao púlpito do plenário para fazer um registro, Carballal bateu um papo com o
Bocão News. Primeiro, sobre a saída do cargo. “Agora, fico na liderança do PT. Na prática, só deixo de representar elas duas [Olívia e Aladilce], que no meu ponto de vista não é muita coisa. Infelizmente, algumas pessoas não entendem que o processo político é mais amplo do que se imagina. Vou seguir com a missão partidária de estabelecer relações respeitosas com o prefeito e defender as matérias de interesse do estado na capital baiana”.
Em seguida, comentou a polêmica envolvendo o espaço público que leva o nome do seu pai. Nos bastidores, o local tem sido chamado de “Praça da Oposição”. “É até indelicadeza fazer deboche com uma pessoa que já faleceu. Não vi ninguém seguir por essa linha. Todos foram muitos respeitosos. Aliás, só Alcindo da Anunciação [vereador pelo PSL] fez piada. Não vou nem me preocupar com isso porque ele é um deboche ambulante. Durante a inauguração, o prefeito me chamou de Henrique. Só as pessoas da minha família e os meus amigos me chamam assim”.
Logo depois, aconteceu o momento mais esperado da sessão. Carballal subiu ao púlpito para fazer o primeiro registro na condição de líder do PT. Ele começou desejando boa sorte a “companheira” Vânia e fez a ressalva de que questões de natureza interna sejam discutidas dentro da bancada. A partir daí, mesmo sem citar nomes, fez um pronunciamento muito duro contra “pessoas que colocam os interesses pessoais acima de tudo”. “Existem muitos que se apresentam como santos, mas nos bastidores atuam apenas para beneficiar a si mesmos (...) Não foi esse tipo de comportamento que aprendi com meu pai. Tenho outros valores e faço política por ideologia. Os hipócritas e demagogos serão desmascarados ao longo da história”.
Fotos: Roberto Viana/Bocão News
