Política

Anotações de lobista indicam pagamento a ministro de Temer e ligações com petistas

Folhapress
Pasta no celular de Milton Lyra indica repasses a partidos e a Alexandre Baldy  |   Bnews - Divulgação Folhapress

Publicado em 17/04/2018, às 07h04   Redação BNews


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A Operação Lava Jato encontrou informações no celular do lobista Milton Lyra, preso na semana passada sob suspeita de irregularidades no fundo de pensão Postalis (dos funcionários dos Correios), indicam suspeitas de pagamentos ao ministro das Cidades, Alexandre Baldy (PP), repasses a partidos políticos e diversas referências a encontros com autoridades públicas e empresários, como uma agenda com o ministro de Minas e Energia, Moreira Franco (PMDB), de acordo com o jornal O Globo, que teve acesso ao material. 

Os dados revelam que o alcance da influência política do lobista vai muito além do PMDB. E, como envolve políticos com foro privilegiado, o material do celular de Milton Lyra está sob análise dos investigadores da Procuradoria-Geral da República. 

Segundo o jornal, sobre partidos políticos, as anotações não deixam dúvidas de que o lobista registrava informações ligadas a repasses financeiros, embora não seja possível explicar a sua relação com tais transações financeiras somente por meio das mensagens obtidas no aparelho. “Imposto 20/” é o título do arquivo, que traz os seguintes números: “PMDB – 550; PT 550; PDT 550 – 50 = 500 e PP 500”. A data deste documento é de agosto de 2013. A Polícia Federal já havia encontrado indícios, na agenda física do lobista, de que ele atuou para obter doações da Engevix ao PMDB de Alagoas em 2014.


Ainda segundo o jornal, o arquivo do celular do lobista mostra sua atuação na Caixa Econômica Federal, Infraero, planos de saúde e energia. Lyra tinha relação próxima com a empreiteira Engevix e prestava serviços para ela, principalmente por causa da participação acionária que a empresa detinha na Inframerica, concessionária do aeroporto de Brasília — essa participação foi vendida em 2015. Uma das anotações aponta: “Engevix 500. 250. 250”, sem explicar qual seria o destino dos valores. Outro arquivo detalha o endereço de um dos executivos da empreiteira, Gerson Almada, para um possível encontro. Almada atualmente está preso após condenação em segunda instância na Lava-Jato.

Em outra anotação, Milton Lyra detalha um roteiro para obter uma liberação financeira da Caixa Econômica Federal e sugere que era necessário pressionar o então presidente do banco, Jorge Hereda, e o então ministro da Fazenda, Guido Mantega. “Pressão Hereda / Mantega”, escreveu.

O ministro de Minas e Energia, Moreira Franco, é outro personagem que aparece nos apontamentos do celular de Lyra. Em uma agenda com compromissos para a semana de 9 de fevereiro de 2015, ele cita nominalmente “Moreira Franco”, sem dar detalhes do assunto tratado. 

No material há citações ao senador peemedebista Renan Calheiros, de quem Lyra era próximo. Os dois acabaram se afastando após se tornarem alvos da Lava-Jato. Uma anotação de abril de 2016, cujo título era “Amizade com Renan”, cita o nome da mulher do peemedebista, Verônica, e traz uma queixa em relação a ele: “Renan é conhecido por não ajudar os amigos”. Outras anotações trazem a sigla RC junto com valores financeiros — os investigadores querem saber se são referências a repasses ao senador. Por meio de sua assessoria, Renan afirmou “que nunca teve operador, que não tem absolutamente nada a ver com essa anotação e que a ilação forçada quanto a seu nome é extremamente irresponsável”. 

O círculo de relações do lobista também incluía nomes da cúpula do PT, como o ex-tesoureiro João Vaccari Neto e o ex-ministro Antonio Palocci. Em agosto de 2012, Lyra anotou: “Marcar jantar com Vacari (sic)”. Em fevereiro do ano seguinte: “Pendência Palocci”. Em outubro: “Eletro. Palocci. 25% de reajuste. Amanhã sai novo edital”, uma referência à sua atuação no setor elétrico. Em abril de 2013, ele anotou em seu celular o telefone de André Vargas, ex-deputado pelo PT. Todos presos em decorrência das investigações da Lava Jato.

Procurado pelo jornal, o advogado de Lyra, Pierpaolo Bottini, afirmou que “a defesa ainda não teve acesso a tais informações, mas apresentará as explicações e esclarecimentos necessários tão logo obtenha a íntegra dos documentos”. A defesa também protocolou um pedido de soltura do lobista, sob o argumento de que ele não mantém mais relações societárias com Arthur Machado nem participa mais das empresas que receberam recursos do Postalis.

Classificação Indicativa: Livre

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