Política

À frente do Rodoanel, sucessor de Paulo Preto multiplicou bens

Roberto Navarro/Alesp
Acusado de fraude, ex-diretor da Dersa Pedro da Silva comprou 18 vezes mais imóveis e terrenos a partir de 2006  |   Bnews - Divulgação Roberto Navarro/Alesp

Publicado em 26/09/2018, às 07h48   Folhapress


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Denunciado sob acusação de fraude durante a gestão do tucano Geraldo Alckmin (2011-2018), o engenheiro Pedro da Silva formou um patrimônio milionário em imóveis enquanto cuidava das obras do Rodoanel, como gerente e depois diretor da Dersa (estatal rodoviária paulista).

Do início das obras do trecho sul, em setembro de 2006, até o ano passado, Silva gastou 18 vezes mais na compra de terrenos e imóveis, como pessoa física ou por meio de suas empresas, do que havia pago nesse tipo de bem até então. 

Os dados foram levantados pela Folha em cartórios de São Paulo e Minas Gerais.

Investigação da Polícia Federal apontou que entre 2013 e 2017 as empresas de Silva giraram aproximadamente R$ 50 milhões, com depósitos de "vultuosas quantias em espécie tendo como depositantes indivíduos que, em tese, não têm condições econômico-financeira para tanto".

Funcionário de carreira da Dersa, Silva era o gerente de construção do trecho sul do Rodoanel, iniciada no fim de 2006, na gestão Cláudio Lembo (então PFL) e inaugurada no governo José Serra (PSDB).

Em 2010, foi promovido à Diretoria de Engenharia do órgão, sucedendo a Paulo Vieira de Souza, conhecido como Paulo Preto, que é réu sob acusação de corrupção em desapropriações referentes ao Rodoanel Sul.

Silva é acusado pelo Ministério Público Federal de fraudes na obra do Rodoanel Norte, que começou em 2013 e ainda não foi concluída.

Em 1998 fez a sua primeira compra de terreno registrada nos cartórios --um lote de 5.000 m² em Atibaia (SP) que custou R$ 82 mil. De lá até o ano de 2005, gastou mais R$ 620 mil em imóveis.

A partir de dezembro de 2006 a frequência de compras e negócios imobiliários foi intensificada. Desde então até o fim de 2017 ele pagou quase R$ 13 milhões em terrenos e apartamentos. 

Todos os valores das transações foram corrigidos pelo IGP-M (Índice Geral de Preços-Mercado).

Silva é funcionário da Dersa desde 1997 e foi promovido a gerente em 2003. Foi nessa época, enquanto cuidava dos projetos da estatal, que começou a criar empresas e a comprar terrenos com regularidade. Ele tem justificado que além do serviço de engenheiro é um criador de gados e produtor de eventos.

Entre 2005 e 2006, criou duas empresas que foram investigadas pela Polícia Federal sob suspeita de lavagem de dinheiro, a PS Company e a Vitscience Comércio de Cosméticos. Em anos seguintes, abriria outras nove empresas, parte delas também investigada. 

A partir de abril de 2007, tornou-se subordinado de Paulo Preto, que foi nomeado diretor de Engenharia na gestão José Serra.

Depois de sucedê-lo na diretoria de Engenharia, Silva ficou no cargo até maio de 2018, pouco antes de ser preso pela Polícia Federal no âmbito da Operação Pedra no Caminho. Também foi preso o ex-secretário do governo Alckmin Laurence Casagrande. Ambos foram soltos por ordem do Supremo Tribunal Federal. 

No fim de julho, ambos foram denunciados pelo Ministério Público Federal sob acusação de fraudes a licitação que, segundo procuradores, geraram o desvio de R$ 600 milhões do estado. Ambos negam ter cometido irregularidades.

Quando deixou a direção, o cargo mais importante que ocupou na Dersa, ele tinha um salário mensal de R$ 20,5 mil (R$ 14,6 mil líquido), segundo o Portal da Transparência do Governo de São Paulo.

Parte do patrimônio comprado por Silva também foi vendido ao longo dos anos, pelo valor de R$ 13 milhões corrigidos. Em 2011, ele comprou um sítio em Bofete (SP) por R$ 950 mil e, no mesmo dia, vendeu o imóvel pelo dobro do preço.

Silva já foi citado em delações que apontam recebimentos de recursos suspeitos. O operador financeiro Adir Assad disse ter entregado dinheiro vivo tanto para ele quanto para Paulo Preto.

A Camargo Corrêa também disse ter pago a ele para mudar o traçado do Rodoanel Norte e para manter boas relações com a Dersa. A empreiteira acabou não participando da obra.

EVOLUÇÃO PATRIMONIAL NÃO É INVESTIGADA, DIZ DEFESA DE ENGENHEIRO
Procurado, o advogado de Pedro da Silva, Alamiro Velludo Netto, afirmou em nota que "a evolução patrimonial de Pedro da Silva não é objeto específico da denúncia relativa à ação penal (...) em tramitação perante a 5ª Vara Criminal Federal de São Paulo."

Segundo ele, "todos os esclarecimentos, se necessários, serão realizados no transcorrer da instrução processual ou eventual outra investigação, ressaltando-se, desde logo, a plena licitude e regularidade de todos os bens e atividades exercidas pelo defendente".

Anteriormente, outro advogado do ex-diretor, Cassio Cubero, afirmou que seu cliente "fez uma confusão patrimonial enorme, mas não cometeu crimes".

Paulo Vieira de Souza, o Paulo Preto, tem negado todas as acusações contra ele.

Classificação Indicativa: Livre

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