Política

“Paz” selada entre Gilmar Santiago e João Henrique

Imagem “Paz” selada entre Gilmar Santiago e João Henrique
Prefeito e vereador entram em acordo sobre projeto que reserva cota para negros em concursos   |   Bnews - Divulgação

Publicado em 10/11/2011, às 10h35   Daniel Pinto


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Depois de ser taxado de “racista”, o prefeito João Henrique (PP) reuniu-se - na tarde desta quarta (9), no Palácio Thomé de Souza - com o vereador Gilmar Santiago (PT), o líder do governo na Câmara Municipal, Téo Senna, além de lideranças do Movimento Negro, a exemplo do presidente do Olodum, João Jorge, e com o secretário da Reparação, Ailton Ferreira, e o chefe de gabinete, João Cavalcanti. A equipe do Bocão News foi a única a acompanhar a audiência in loco.

A reunião foi articulada com o objetivo por fim a “guerra” instalada após o veto do prefeito ao projeto de Gilmar Santiago que reserva 30% das vagas para negros em concursos promovidos pela administração. O encontro foi aberto por João Cavalcanti, que logo de cara tratou de amenizar a iniciativa do Executivo. “O veto não teve caráter racista. Foi única e exclusivamente em relação à competência da matéria. Como comprova parecer da Procuradoria-Geral, só a prefeitura pode tratar de temas desta natureza. Tanto que logo depois o governo enviou um projeto similar à Câmara. Acredito que o assunto foi sanado, independente de qualquer questão de credo, etnia ou natureza religiosa”.

Em seguida, foi a vez de Santiago se manifestar. Apesar de não concordar com o mérito da legalidade, o discurso do petista foi de conciliação. “Não tinha informação sobre o texto substitutivo. Acho que houve um ruído de comunicação, mas tudo foi superado com o envio do novo projeto ao Legislativo. Essa medida será importante para tentar amenizar o processo que restringe aos afrodescendentes os cargos de menor relevância social e com menores salários”.  Ele ainda se despiu da “vaidade” para colocar a causa em primeiro lugar: “para mim não importa a autoria. O importante mesmo é que a lei ajude a reduzir a desigualdade institucional que existe nesta cidade”.

Entrou mudo e saiu calado - O microfone foi passado para o secretário Ailton Ferreira, que estava numa “sinuca de bico”, já que teria que renunciar ao cargo, caso não houvesse consenso entre governo e as entidades de classe. “No dia em que não me sentir à vontade, agradeço ao prefeito e vou embora. Sei que represento o prefeito, mas quero muito mais representar minha comunidade. João Henrique tem defeitos, assim como todos nós. Mas, não podemos chamá-lo de racista. Entretanto,não podemos querer que ele seja um militante do Movimento Negro”.

Por fim, o presidente do Olodum agradeceu ao prefeito e ao vereador Gilmar Santiago pela iniciativa. João Jorge também disse que Salvador deve uma reparação aos “afro-brasileiros”. “Ao implementar uma ação afirmativa como essa, a prefeitura dá um grande exemplo para o setor privado. Vamos trabalhar para fazer de nossa cidade um local mais feliz, humano e democrático”, completou.

A reunião foi encerrada. O prefeito entrou mudo e saiu calado.

Enquanto isso, os vereadores voltaram ao plenário Cosme de Farias, na Câmara Municipal, para votar o veto de João Henrique e a matéria do Executivo que trata do mesmo assunto. A única diferença na redação é que o texto da prefeitura estabelece que serão reservadas até 30% e, não, o total de 30% como previa o projeto original. 

Segundo o líder Téo Senna, o número total para negros será definido de acordo com as vagas disponíveis no edital para outros segmentos, a exemplo dos deficientes físicos e egressos do sistema prisional.

Votação - Após muita discussão e polêmicas envolvendo pareceres distintos da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ), os vereadores mantiveram o veto do prefeito por 25 votos contra 8. O presidente da CCJ, Everaldo Bispo (PMDB), entendeu que o projeto de Gilmar Santiago estava “maculado de vícios de inconstitucionalidade, sendo que a proposição só pode ser referendada pela Poder Executivo”. “A iniciativa é excelente, mas a natureza do texto é equivocada”, sentenciou o peemedebista.

Em seguida, o projeto com as digitais de João Henrique foi aprovado em três discussões e agora segue para sanção.


Matéria públicada às 19h48, do dia 09 de novembro de 2011

Foto: Pedro Garcia/Divulgação

Classificação Indicativa: Livre

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