Política

PSDB sinaliza distância de Bolsonaro com aliado de Doria no comando

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Apesar de apoio à reforma da Previdência, partido busca se afastar do presidente de olho em 2022   |   Bnews - Divulgação Renato Guariba/Futura Press/Folhapress

Publicado em 01/06/2019, às 09h44   Folhapress


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Na tentativa de recuperar o protagonismo contra a esquerda e com um aliado do governador João Doria (SP) no comando, o PSDB sinalizou nesta sexta-feira (31) a intenção de buscar um distanciamento do presidente Jair Bolsonaro (PSL).

O ex-deputado federal e ex-ministro Bruno Araújo (PE), 47, foi aclamado presidente nacional da legenda com o objetivo de colocar em prática as diretrizes do novo PSDB, engendrado por Doria, principal líder do partido na ativa e potencial candidato ao Palácio do Planalto em 2022.

Aos correligionários, Araújo repetiu a frase de Doria de que o PSDB "não teria mais muro". "Vamos nos afastar das hesitações, vamos nos transformar no partido de posições", disse.

Logo em seguida, em entrevista, procurou citar diferenças entre seu partido e Bolsonaro e afirmou que o PSDB não adotará posição mais à direita para recuperar o eleitorado perdido nas últimas eleições.

"O PSDB é um partido de centro, que não convive com extremismo de direita e de esquerda no seu seio, dentro de si, mas respeita todas as demais posições ideológicas", disse o novo presidente tucano.

Após ter se aproximado de Bolsonaro nas últimas eleições, adotando um discurso crítico à esquerda e próximo da direita, Doria defendeu na convenção apoio total do partido à reforma previdenciária, bandeira do atual governo, mas disse ser contra um alinhamento com Bolsonaro.

Em meio ao racha entre a velha guarda e os novos dirigentes, a postura de distanciamento do presidente tem sido um ponto de convergência de interesses: no primeiro caso, para afastar a sigla de uma marca ideológica direitista; no segundo, para projetar Doria como futuro concorrente do atual chefe da República.

O ex-governador paulista Geraldo Alckmin, que deixou o comando do PSDB, adotou um tom duro, chamando Bolsonaro de "oportunista" e o bolsonarismo de "grande mentira".

A convenção teve participação de representantes de DEM, MDB, PP, PL (ex-PR) e PRB, partidos de centro que podem unir forças na disputa presidencial de 2022.

Doria chegou acompanhado do presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e foi recebido pela militância tucana aos gritos de "Brasil pra frente, Doria presidente".

Araújo disse que, sob sua batuta, o PSDB será independente no Congresso, mas fará oposição a Bolsonaro "nos momentos em que haja discordância, e há".

"Primeiro em relação à compreensão que democracia se constrói num processo de diálogo com as instituições, de forma firme. Não é só chamando para assinar algumas folhas de um pacto. É com interlocução direta, tratando com os representantes da sociedade civil organizada."

Ele defendeu, por exemplo, que o partido feche questão em relação à reforma da Previdência, que tem o deputado Samuel Moreira (PSDB-SP) como relator. "O PSDB vai ter uma posição contributiva de independência e sempre, quando houver, de discordância, se opondo aos temas do governo", afirmou, com um tom semelhante ao de Doria.

"Continuo entendendo que o PSDB não deve fazer este alinhamento [com Bolsonaro], mas apoiando as boas iniciativas para o Brasil", disse o governador de São Paulo.

Ao passar o bastão para Araújo, Alckmin fez as críticas mais duras a Bolsonaro.

"Onde é que está a agenda de competitividade desse governo? Vamos ter coragem de criticar. Pôr o dedo na ferida", disse Alckmin, puxando aplausos do público.

Alckmin afirmou ainda que "querer aumentar a distribuição de arma é uma irresponsabilidade". 

"Não temos duas verdades: a extrema direita e a extrema esquerda. Temos duas grandes mentiras: o petismo e o bolsonarismo", afirmou o tucano.

Araújo sucede o ex-governador paulista comando do PSDB após ser eleito em chapa única —não por apoio a Doria, mas porque caciques fundadores da sigla não conseguiram viabilizar um nome competitivo.

Na convenção desta sexta, a tensão entre a velha guarda tucana, que defende a social-democracia, e aliados de Doria ficou evidente, por meio de discursos e de uma briga. Dois grupos da juventude do partido, um ligado ao governador paulista e outro ligado e ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, trocaram agressões físicas.

Nos discursos, diversos tucanos falaram em respeitar a história do PSDB, numa espécie de recado contra a guinada planejada por Doria. O próprio ex-governador paulista, no entanto, adotou tom mais conciliador. 

Seu discurso não antagonizou com o de Alckmin, como ocorreu na convenção do PSDB paulista, por exemplo. 

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