Política

Nós temos a obrigação de dialogar com todas as forças políticas

Publicado em 20/11/2011, às 10h11   Luiz Fernando Lima



Os secretários municipais do Meio Ambiente de São Paulo e Niterói, Eduardo Jorge e Luiz Fernando Guida, respectivamente, participaram do “Salvador na Roda”, promovido pelo Partido Verde de Salvador. O evento aconteceu na faculdade de Arquitetura da Universidade Federal da Bahia, na tarde do último sábado (19).

Eduardo Jorge, nasceu em Salvador, mas migrou para São Paulo ainda na infância. O secretário do governo de Gilberto Kassab (PSD) fala com naturalidade sobre a movimentação do PV que ora está mais próximo dos partidos ditos de esquerda e em outros momentos se aproxima mais com os do outro campo político.

Para ele, uma das missões do PV é de colocar na agenda destes grupos políticos o debate sobre a preservação do meio ambiente. Algo, que segundo o próprio, vem sendo proposto pela ONU desde o ano de 1992.

Eduardo Jorge foi deputado federal de 1982 até 2002, todos os mandatos quando ainda estava no PT. Ele é um dos possíveis candidatos que podem ser apoiados por Gilberto Kassab nas eleições do próximo ano.

Já Luiz Fernando Guida, passou os últimos anos comandando diversas pastas da prefeitura de Niterói, foram oito no total. Guida participa ativamente da composição política do PV, traçando estratégia para o partido.

A reportagem do Bocão News acompanhou as discussões da legenda que se propõe a colocar na agenda política nacional o debate sobre a sustentabilidade. Confira alguns trechos deste bate-papo:


Bocão News: Eduardo, você foram convidados para este debate em Salvador para trazer um pouco da experiência que adquiriram em suas cidades. O que pode ser colocado na agenda de Salvador com relação a questão ambiental?

Eduardo Jorge: primeiro é importe dizer que o Partido Verde de Salvador está promovendo estas discussões para estudar o desenvolvimento sustentável aqui e quem vem de fora, de São Paulo, como é o meu caso, não pode ensinar a quem é de Salvador como deve ser este desenvolvimento aqui. Uma das características desta forma de desenvolvimento que é o sustentável é o conhecimento local. Pessoas que vivem, que tem a tradição viva dentro de si é que devem formular uma política de desenvolvimento sustentável para cada local. O que podemos fazer é dizer o que estamos fazendo na nossa realidade.

O próprio desenvolvimento sustentável enquanto conceito foi formulado pela Organização das Nações Unidas (ONU) no ano de 1972 em Estocolmo (Suécia), mas o lançamento acontece no Rio de Janeiro em 1992. O desenvolvimento sustentável é o equilíbrio entre o econômico, o social e o ambiental. Isto é absolutamente novidade, isto do ponto de vista político é quase revolucionário. Porque no passado recentíssimo tanto no capitalismo quanto no socialismo só se levava em conta o social e o econômico. O ambiental era considerado um recurso infinito que poderia ser sacado à vontade. Portanto, o que a ONU está propondo é mudar completamente a forma como a sociedade se organiza. Por isso que eu digo que isto é quase revolucionário. Muitas pessoas falaram que esta era mais uma utopia da ONU, mas está se provando pela realidade, com seus efeitos climáticos, pelos desastres climáticos, pelas dificuldades, principalmente, nos países mais pobres que é preciso mudar a forma como a gente consome, produz, se alimenta, como a gente vive, como usamos o transporte. A gente tem que reorganizar a nossa vida.

É um momento muito importante para a humanidade. Há uma realidade, mas há também uma oportunidade para revermos a nossa relação com este planeta que nos coube. No mundo inteiro este debate está fervilhando, efervescendo. Eu tenho certeza que a capacidade cultural, intelectual e militante de Salvador, que é notória, vai dar boas respostas para estas questões.

Quais os exemplos que o senhor pode apresentar para os soteropolitanos da experiência adquirida em São Paulo?

Eduardo Jorge: uma coisa importante é a política do lixo. A cidade de São Paulo tem uma radiografia de como se produz os gases de efeito estufa, portanto, como a cidade de São Paulo contribui para o aquecimento global, que é principal problema da humanidade hoje.  O nosso diagnóstico mostra que 24% dos gases de efeito estufa são produzidos pelo manejo do lixo. Outros 75% são produzido pelo uso da energia, a maior parte devido ao combustível fóssil, que está ligado ao transporte. Com este “raio-X” a gente tem os pontos que precisam ser atacados para diminuir a emissão. Esta é uma etapa. Tem outro capítulo, que se fala pouco, que é a adaptação. Nós precisamos nos preparar hoje para os desastres que vão acontecer. A adaptação urge. Temos que nos preparar para os desastres que virão. Os desabamentos e enchentes são realidades que precisamos nos preparar. Precisamos evitar as mortes em decorrência desses desastres. Isto é urgente.

O senhor é pré-candidato à prefeitura de São Paulo?

Eduardo Jorge: esta é uma discussão que será feita no próximo ano. O quadro eleitoral em São Paulo é muito complexo, é uma cidade que tem 11 milhões de habitantes, ela tem uma incidência nacional muito grande. Todos os partidos jogam muito pesado para obter esta jóia da coroa. O PV tem cinco vereadores numa Câmara Municipal que tem 55. Portanto, é uma bancada estupenda. Nós herdamos três vereadores do PSDB que vieram para o PV. Elegemos três, um saiu e ficamos com cinco. Portanto, temos uma bancada importante, forte e temos que avaliar com seriedade a nossa tática. Se vamos sair com candidatura própria ou compor, isto é algo a ser definido. O quadro de pré-candidatos ainda não está composto em São Paulo. Somente o PT acabou de definir o seu candidato (ministro da Educação Fernando Haddad) e de uma forma muito traumática, praticamente empurraram a senadora Marta (Suplicy) para uma aposentadoria forçada. Nós do PV ainda estamos discutindo.

Bocão News: Lá em Niterói qual é o cenário. Quais experiências podem ser apresentadas para Salvador?

Fernando Guida: é importante dizer que não dá para comparar a complexidade do trabalho de São Paulo, de Salvador com o de uma cidade como Niterói que tem 500 mil habitantes, um Índice de Desenvolvimento Humano (IDH) muito elevado e é considerada uma das cidades de melhor qualidade de vida do Brasil. Eu estou na minha oitava secretária lá, então posso dizer que pelo menos um dedinho deste quadro foi composto com a participação do PV. Este é um ponto, mas Niterói, assim como São Paulo, Salvador e outras cidades do Brasil, não fogem a uma regra do desenvolvimentismo. A impressão que tenho é de que todas as cidades querem ser uma pequena São Paulo. Tem que ter shopping, tem que ter muito carro, muito asfalto e daí advêm boa parte dos problemas que acontecem no Brasil. Eu conheço bem Salvador e acredito que o que falta, e eu tenho a ousadia de dizer, a Salvador é aproveitar a quantidade e a diversidade de cultura que tem aqui. Acredito que poderia ter uma participação muito maior. A agenda 21 deveria ser aplicada de forma massiva. A questão cultural daqui é muito mais relevante que em vário locais do país. Pela diversidade e pela força que cultura tem. O que vemos é que ela acaba sendo explorada um pouco mais para o lado do turismo. A minha ousadia vai até ai, mas os problemas que tem aqui existem em todos os locais.

E em Niterói, quais são os principais pontos de trabalho?

Fernando Guida: Niterói é uma cidade que não produz água. Nós estamos conseguindo implantar um sistema de reuso de água muito interessante. Estamos economizando 30% em cada edifício novo. Então de cada três edifícios, um vai ser abastecido com água de reuso em Niterói.

O senhor está envolvido com as costuras políticas do partido. Como é que está o PV nacionalmente. A Marina Silva veio concorreu à presidência e deixou o partido. Como é que o PV está se preparando para as eleições?

Fernando Guida: o PV não foge à regra neste sentido. Trabalhamos com a ideia de termos candidatura própria nas principais cidades do país. A candidatura própria estimula o voto nas proporcionais. O que está interessante neste momento no PV são os números. O partido perdeu 16 mil filiados de maio a outubro e ganhou 80 mil. Então, não dá para deixar de falar que pode ser um reflexo positivo da saída de Marina. Nós pensávamos que o partido teria um baque muito forte e na verdade nós crescemos. Nós estamos vendo o PV com possibilidades muito grandes.

O PV tem em São Paulo uma proximidade muito grande com o PSDB, com DEM, partidos ditos de direita. Já em outras regiões, a legenda se aproxima mais do campo tido como de esquerda.  Ao que se deve esta movimentação?

Eduardo Jorge: isto é normal. Vamos observar a Alemanha como exemplo. Lá o Partido Verde é o terceiro mais forte. A ideologia do PV, que é uma novidade do final do século passado, vem para reformar tanto o capitalismo quanto o socialismo. Portanto, o PV tem obrigação de dialogar com todos. Esta é uma missão do nosso partido. Nos propomos a colocar a questão da sustentabilidade no programa e no horizonte de todas as forças políticas. Quando há possibilidade de colocarmos estas questões seja no campo socialista, seja no liberal nós podemos trabalhar com eles.  O partido é novo e diferente.

Fernando Guida: imagine se nós não dialogássemos com os ruralistas em época de reforma do código florestal? Seria o massacre do massacre. Nós temos que dialogar com todo mundo.
Eduardo Jorge: uma coisa é boa. Quando as forças dos dois campos antagônicos nos procuram é um bom sinal. É sinal de que a sociedade está pensando na questão ambiental.

Eduardo Jorge: uma coisa é boa. Quando as forças dos dois campos antagônicos nos procuram é um bom sinal. É sinal de que a sociedade está pensando na questão ambiental.

Fotos: Roberto Viana//Bocão News


Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp