Política

Movimentos com discurso suprapartidário podem beneficiar siglas

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Esses movimentos surgem em um ambiente favorável de associação da política com a corrupção  |   Bnews - Divulgação Reprodução/ Instagram

Publicado em 08/01/2020, às 18h02   Pedro Vilas Boas


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A descredibilização da política no Brasil levou ao distanciamento da população em relação aos partidos políticos. O consequente surgimento de movimentos suprapartidários, como RenovaBR e Comuns, porém, pode beneficiar justamente a atuação dessas siglas, principalmente em época de eleicões.

Quem explica esse discurso, que, na prática, pode não fazer jus à realidade é o professor e cientista político Carlos Zacarias. Na avaliação do especialista, esses movimentos surgem em um ambiente favorável de associação da política com a corrupção, levando em conta recentes eventos como a Operação Lava Jato, que revelou esquemas de corrupção envolvendo importantes figuras do cenário político.

"Essa ideia de inscrever pessoas sem partido surge nesse contexto de uma dimensão de forte apelo oportunista, em função que as pessoas estão muito assustadas com a política. Não é de hoje, do ano passado, vem de algum tempo", avaliou.

Segundo o professor, a mudança no funcionamento da produção e disseminação da informação também foi um fator que motivou a população a desacreditar na política tradicional. "Os brasileiros passavam dois anos odiando político, e nas eleições se envolviam com a política, porque tinha propaganda gratuita, todo um universo voltado à eleição. Todo um discurso que era transmitido pela mídia, que tinha poucos divulgadores de informação, produtores de conteúdo que falavam da importância da eleição", completou.

Em seu site oficial, o RenovaBR, movimento que já formou políticos como a deputada federal Tabata Amaral (PDT-SP), fala em selecionar "pessoas comuns dispostas a se qualificar" e formar "novas lideranças preparadas para renovar". O movimento tem atuação em todas as regiões do país, tendo o registro de 17 alunos eleitos, 133 formados e mais de 500 doadores.

Já o movimento Comuns, idealizado pela ex-presidenciável Manuela d'Ávila (PCdoB) e administrado por agentes do partido por todo o país, fala em formar "pessoas comuns e de esquerda, dispostas a se engajarem na política para transformá-la".

Ambas as correntes, apesar de não associar diretamente partidos aos movimentos, possuem relação direta com siglas tradicionais da política brasileira.

"O fato de haver discurso sobre o assunto, não significa que esse discurso corresponda com os fatos. Apesar desse discurso de 'anti-partido', suprapartidário, não bate com os fatos. [...] A Tabata Amaral é um exemplo claro de como foi formada. Ela está num partido de centro-esquerda, que teve postura contra posições de seu partido que terminaram lhe causando muito conflito com o próprio partido. Mas ela reza na cartilha a qual foi formada, que é a cartilha dos institutos que lhe financiaram", explicou Zacarias.

Semelhança nos movimentos

Na avaliação de Carlos Zacarias, há uma novidade no engajamento de um partido tradicional de esquerda como o PCdoB na decisão de lançar um movimento como o Comuns. Segundo ele, a estratégia tem relação com o histórico de atuação da direita no Brasil.

"Não sei porque o PCdoB tem esse interesse. Partidos da direita no Brasil nunca foram militantes, apesar de você ter uma militância da direita presente hoje na realidade, é possível que isso desapareça. A direita tradicional não forma militante, a esquerda sim", avaliou.

O surgimento do movimento poderia estar associado a uma estratégia do PCdoB para angariar novos agentes políticos. "É muito estranho que um partido de esquerda faça esse movimento, a não ser que ele quer também outras esferas de influência, áreas de atuação", afirmou.

Na Bahia, o movimento Comuns foi anunciado nesta quarta-feira (8) por lideranças do PCdoB estadual em uma transmissão ao vivo nas redes sociais. Participaram do anúncio o presidente do partido no estado, Davidson Magalhães, e os deputados federais Daniel Almeida e Alice Portugal.

"Vamos ter encontros presenciais, estamos tentando fazer esse encontro com Manu. Acho que sim [tem influência nas eleicões]. O resultado das últimas eleições já provam que esses novos mecanismoss são importantes para forma de fazer política. Estamos tentando levar em consideração esses novos elementos", explicou Davidson, em entrevista ao BNews.

O secretário municipal de Sustentabilidade, Inovação e Resiliência, André Fraga, que foi aluno do RenovaBR no ano passado, se tornou professor do movimento, conforme anúncio divulgado para a imprensa na terça-feira (7). 

Na avaliação de Fraga, que está sendo cotado para uma vaga pelo PV na Câmara Municipal, a idealização do RenovaBR faz parte do apelo da população para uma renovação política. "Acho que a sociedade, de forma geral, está buscando renovação. Toda eleição se fala de renovação, acredito que a gente está passando por um processo de transação", disse.

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