Política

Frente Makota Valdina repudia PL de deputado baiano que pode coibir ritos religiosos: "Intolerância"

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Além dos rituais cotidianos, os tradicionais ebós, o projeto atinge diretamente ritos como as oferendas de Iemanjá, realizada todo dia 2 de fevereiro na Bahia  |   Bnews - Divulgação Vagner Souza /Bnews

Publicado em 30/06/2021, às 08h13   Redação BNews


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A Frente Nacional Makota Valdina divulgou uma nota de repúdio ao Projeto de Lei 2284/2021 de autoria do deputado federal baiano e pastor evangélico, Abílio Santana (PL), que pode interferir nas práticas ancestrais dos cultos religiosos de matrizes africanas. De acordo com o texto publicado nesta terça-feira (29), a proposta é mais um ataque à cultura e obedece à "lógica perversa de racismo e intolerância".

O PL "proíbe a exposição, lançamento ou destinação, de material orgânico ou não, líquidos ou sólidos, matéria viva ou não, objetos sólidos ou rejeitos, que afetem, atentem ou poluam o meio ambiente, obstruam a livre circulação de pessoas e veículos, em todo o Brasil", o que para a frente que reúne importantes coletivos dá margem para interpretações "preconceituosas".

Além dos rituais cotidianos, os tradicionais ebós, o projeto atinge diretamente ritos como as oferendas de Iemanjá, realizada todo dia 2 de fevereiro na Bahia, e a oferenda à Pedra de Xangô.

A organização destaca que as religiões de matriz africana tem forte ligação com a natureza e os que a seguem são "povos cultivadores" e preservadores do meio ambiente.

"A ligação ancestral com a natureza é a base dos cultos religiosos de matriz africana, haja vista que exaltamos os elementos naturais. Cultuamos a energia da terra do fogo; agradamos as encruzilhadas das ruas as águas salgadas dos rios e cachoeiras; Utilizamos os minerais e os grãos como bases de nossos ritos de purificação e gritamos aos quatro cantos "sem folha não há ancestralidade", justamente para reafirmar que somos Povos cultivadores da natureza como bem comum e que deve ser preservado", diz a nota, que tece críticas ao governo Bolsonaro, apoiado por Abílio Santana, na condução de políticas voltadas ao meio ambiente.

"Sabemos da necessidade em reeducar a todos nós seres humanos com relação à PRESERVAÇÃO DA NATUREZA, elemento indiscutivelmente importante à sobrevivência. Estamos cientes dos desmandos e retrocessos com relação à biodiversidade apresentado pelo Ministério do Meio Ambiente nesse governo genocida de Bolsonaro. Sabemos que não é atacando culturas ancestrais e formadores da identidade nacional que sanaremos com desastres ambientais como as poluições petroquímicas em quilombos e as queimadas criminosas das nossas matas, o que vem acontecendo no Norte do nosso país", completa.

A vereadora e líder da bancada da oposição, Marta Rodrigues (PT), comentou o projeto do colega classificado por ela como um exemplo do racismo religioso "ancorado na ignorância".

"O próprio parlamentar reafirma em sua declaração que não 'tem preocupação se vai causar prejuízo a outras religiões'. Deixa nítido seu desrespeito à diversidade religiosa e evidencia seu racismo religioso. Infelizmente essa postura extremista tem sido comum e é o que corrobora o discurso de ódio no país. Ele desrespeita todas as religiões de matriz africana. Religiões que  sabem muito bem tratar as águas, os rios, as matas com respeito e amor"

"Se ainda temos natureza viva no Brasil devemos e muito aos povos de religiões de matriz africana. Pois nós reconhecemos a importância da natureza, o respeito a ela, o equilíbrio ambiental para nossa paz e crescimento espiritual. não somos nós que poluímos, ao contrário, somos nós que limpamos cotidianamente as sujeiras, as destruições  causadas por alguns grupos de evangélicos que pregam a intolerância que não representam a totalidade dos evangélicos no país", continuou.

"Quantas vezes o povo santo teve que fazer mutirão para limpar a Pedra de Xangô, em Salvador, porque de repente acordaram e o local sagrado estava cheio de sal e lixo? Esse projeto do deputado é nitidamente um exemplo do racismo religioso, ancorado não só na ignorância, mas na tentativa de impedir nossos rituais, que são fundamentados justamente em nossa troca com a natureza e o meio ambiente. O parlamentar  poderia buscar várias formas de preservar o meio ambiente através de projetos, mas inventou uma falácia ancorada racismo religioso como justificativa", finaliza a vereadora.

Classificação Indicativa: Livre

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