Política

Restos a notar: bastidores, olhares e ponderações sobre a política baiana

Imagem Restos a notar: bastidores, olhares e ponderações sobre a política baiana
Pernambuco, oposição, UPB, Vila Galés e Lídice são alguns dos personagens do fim de semana  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 12/11/2012, às 08h36   Luiz Fernando Lima (twitter: @limaluizf)*


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Praticamente em toda entrevista feita por um jornalista que resulta em uma nota, matéria, reportagem ou em uma publicação de ping pong “sobram” declarações, comentários, análises e o rescaldo que não são utilizados ali. Muitas destas são interessantes, mas ficam de fora por uma razão ou outra. Este é o conceito desta coluna. A ideia é que em conversa de repórter seja com fonte ou entre colegas, tudo que não é off pode ser usado e tudo que é usado potencialmente interessa a alguém.

Cesta do Povão

O “Time do Povão” mote da campanha petista na disputa pela prefeitura de Salvador foi derrotado na eleição. Passado o período eleitoral de 2012, o presidente estadual da sigla defende agora a “Cesta do Povão”. Explico: se depender do dirigente, os partidos da base governista terão que se contentar, após as negociações, com um dos cargos seguintes: a presidência da Assembleia ou a presidência da UPB ou a vaga do TCE. “Não tem disputa de 2013 que não esteja inserida nas negociações de 2014. Nenhum partido, nem o meu que é o maior, irá acumular posições agora e depois ainda reivindicar a chapa. O processo é único”. Recado dado em entrevista. O presidente conclui: tem que ter critério e tem que ter direção.

Sem veto, mas...

Jonas Paulo insiste em dizer que o PT não tem veto a nenhum nome, inclusive, para a cabeça de chapa em 2014. As principais lideranças petistas evitam discutir a eleição neste momento. Gabrielli (Planejamento) - virtual candidato de Lula - parafraseou Eduardo Campos (PSB) ao dizer que só interessa à oposição antecipar o debate sobre sucessão. Pinheiro desconversa. Caetano diz que é cedo, mas que está inserido e mesmo não conseguindo – ser o candidato – vai estar na linha de frente. Rui Costa (Casa Civil) e virtual preferido de Jaques Wagner não esconde o desejo, mas também acha prematuro o debate. Noves fora, ninguém acredita que o PT abra mão de indicar alguém do partido para encabeçar a chapa. Os outros que disputem as duas vagas que sobrarão.

E por que não?

Eduardo Campos, governador de Pernambuco, não descarta a possibilidade da senadora Lídice da Mata, sua correligionária, ser candidata ao governo do estado em 2014. Lídice segue a cartilha e diz que ainda é cedo. Mas após alguma insistência declarou: é claro. Por que não?

Puxão de orelha

Lídice afirmou em outras oportunidades que o PSB não reivindica ampliação de espaços no governo Jaques Wagner. A senadora acredita que o debate sobre reforma ou mudanças no secretariado é secundário, mas manda o recado. “Acho que o governo precisa avaliar o resultado da eleição, onde ele foi plenamente vitorioso no interior, mas perdeu importantes cidades do estado como Feira de Santana e Salvador. Embora tenha ganhado na maioria das 35 cidades com prefeitos da sua base. Acho que agora, o governo precisa apertar mais o pulso no sentido de garantir as metas de cada uma das secretarias”. Para bom entendedor é “sebo nas canelas e mãos a obra”.

Profissão Perigo

Ninguém questiona a influência política do vice-governador, Otto Alencar, no estado. Cotado para ocupar a vaga de candidato ao Senado na majoritária de 2014 ou para qualquer outra das duas (governador ou vice), o presidente do PSD fez um discurso eloquente na abertura do Encontro de Prefeitos Eleitos e Reeleitos, na sexta-feira (9), em Guarajuba, Camaçari. Falou do que considera abusivo na Lei de Responsabilidade Fiscal e sobre as rejeições de contas. “Ser prefeito hoje é atividade de altíssimo risco”. Até ai tudo bem. Questionar as leis é parte do processo. Cobrar que deputados federais e senadores lutem para modificá-las também. Neste sentido, Otto jogou para a plateia e renovou a “moral” com gestores novos e velhos. Ajuda certa ali adiante.

Sambinha

Depois de criticar de maneira enfática o rigor da Lei de Responsabilidade Fiscal, Otto comemorou a aprovação do projeto de lei que muda a distribuição dos royalties. “É impossível que continue o nordeste brasileiro e os estados mais pobres da federação tendo que ter uma partilha menor”. Lembra o vice-governador que Petrobras foi criada com dinheiro dos impostos dos estados produtores. À época São Paulo tinha o café como carro chefe, Minas Gerias, a carne e o leito e a Bahia, o cacau. Para o Rio de Janeiro, Otto lembrou, ao descer do palco, da música de Noel Rosa, Feitiço da Vila. “São Paulo dá café, Minas dá leite e a Vila Isabel dá samba”. E samba, continua Otto, não paga imposto.

Só Deus sabe

O futuro do prefeito de Camaçari, Luiz Caetano, após passar o bastão para o também petista Ademar Delgado, é incerto. Sobre o assunto ele diz: Só Deus sabe. “Vou ser franco. Não tenho nenhum convite para ir para alguma secretaria. Tenho vários caminhos a serem tomados. Posso ajudar prefeitos em projetos”. Questionado sobre o formato desta “ajuda”, se seria uma espécie de consultoria, Caetano declarou: “obviamente que tem que ter alguma ajuda para poder sobreviver”. Não fechou questão, fez mistério. Sabe-se que a relação com os prefeitos não pode ser interrompida, tampouco com o governo. Garantir a cabeça de chapa na acirrada disputa não é trabalho dos mais fáceis. Por hora, Caetano está bem encaminhado e com moral. O encontro dos prefeitos eleitos e reeleitos foi de botar inveja em muito promotor baiano.

Jogando Limpo

O prefeito eleito de Catu, Gera (PT), presente no encontro da UPB foi questionado sobre a disputa territorial entre seu município e o vizinho Pojuca. Ao responder à pergunta sobre a situação que é estudada pela comissão de Assuntos Territoriais e Emancipação da Assembleia Legislativa, além correr nos tribunais, Gera jogou limpo: o problema ali não é de território. Ali, o problema é dinheiro. O petista propõe um acordo de dividir os rendimentos com Pojuca. A prefeita eleita, Gerusa Laudano foi procurada para comentar, mas não foi encontrada no evento.

Vaia amiga

Defensor do corte dos 14ª e 15ª salários aos deputados federais e senadores, o ex-ministro do Desenvolvimento Agrário, Afonso Florence (PT), contou que tem enfrentado manifestações hostis de seus pares no Congresso Nacional. “Rapaz, onde eu passo tem grupinhos de deputados que ficam vaiando”. Na se deixando levar pelo clima tenso, o petista destaca que não vê sentido no pagamento destes benefícios. “Não é legítimo. Porque os servidores públicos e trabalhadores da iniciativa privada não podem ter também”. Ainda sobre o assunto, respondendo a um colega de bancada, que revelou o destino do dinheiro – é utilizado para pagar despesas do mandato – disse que este é outro debate que deve ser feito. “Se acham a verba indenizatória e o salário baixo que digam e defendam o aumento publicamente, mas usar o 14ª e 15ª salário para isso é desrespeitar o trabalhador”. #ficaadica

Não sentiu a pressão

Presidente em exercício da Assembleia Legislativa da Bahia, o deputado estadual Leur Lomanto Júnior (PMDB) surpreendeu muitos dos presentes na abertura do encontro de prefeito eleitos e reeleitos, promovido pela UPB, no Resort Vila Galé, em Guarajuba. Destacado entre os parlamentares da oposição, o peemedebista geralmente adota um estilo mais comedido, mas na sexta-feira (9), ao discursar soltou o verbo de forma enérgica, disparando contra os governantes do Sul e Sudeste, principalmente, se dirigindo ao Rio de Janeiro e Espírito Santo. Para ele, é preciso que estes gestores deixem de “roubar” os recursos do petróleo que pertencem a todo o povo brasileiro. Leur, sentado por pouco tempo na cadeira acostumada com Nilo, partiu para cima e deixou sua marca registrada, menos por atos administrativos e mais pela postura em defesa da sociedade baiana.

Oposição

Outro deputado do minguado grupo na Casa presente no evento, ao sair, logo após os pronunciamentos oficiais de abertura respondeu á pergunta do repórter que queria saber a razão por estar deixando o encontro recém iniciado: vim parabenizar os prefeitos, mas, a festa é deles. Neste caso, o “deles” não se refere aos vitoriosos no pleito e sim ao grupo do governador.

Jogando contra

Existe um acordo tácito entre jornalistas. Os que trabalham em assessoria enviam notas oficiais e verídicas para as redações que utilizam estas como pautas ou as reproduzem. Dito isso, vale a ressaltar um episódio atípico que aconteceu na última quarta-feira (7). Um secretário, vamos preservar os nomes dos envolvidos por razões óbvias, iria participar de um conferência como palestrante. Subiu ao púlpito às 9h35 e discursou normalmente. Até ai, nada de novo, no entanto, às 9h28 o release com o que seria dito minutos mais tarde já estava nos emails de todo mailing do assessor. É comum que estes profissionais escrevam os discursos, portanto, a matéria poderia não conter nenhum equívoco, mas, neste caso, o secretário não tinha um texto pronto, não pela assessoria, e falou sobre assuntos diferentes aos que continham no email enviado e publicado pelas redações. A mea culpa dos que estavam do lado da reportagem não exclui o desserviço prestado por aqueles que deveriam colaborar com as redações ao invés de induzi-las ao erro. Quanto mais, este tipo de desvio pode prejudicar o assessorado, vez que, toda e qualquer informação chegada às redações pelos assessores recebidas com dúvidas e até mesmo má vontade. 


*Luiz Fernando Lima é editor do site Bocão News

Classificação Indicativa: Livre

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