Política

Extorsão, herança e prisões: advogado de Bacelar conversa com o Bocão News

Publicado em 29/11/2012, às 09h55   Caroline Gois (twitter: @goiscarol)



O nome do deputado federal João Carlos Bacelar voltou à mídia esta semana e, desta vez, não foi para falar dos processos do Conselho de Ética instaurados contra ele em agosto deste ano. Agora, a irmã do deputado - Lilian Bacelar e o empresário do ramo de entretenimento, cunhado de Bacelar, André Dumet Guimarães, foram alvos de uma denúncia feita pelo próprio deputado, cujas investigações começaram há cerca de um ano, conforme confirmou o advogado do parlamentar, Gilberto Vieira, com exclusividade, ao site Bocão News.

"Foi uma resposta da polícia à denúncia feita pelo deputado há um ano, decorrente de uma série de ameaças feitas pelo cunhado", revelou Vieira. Segundo o advogado, Dumet tentava extorquir Bacelar o ameaçando - "prometendo levar à mídia acusações contra o deputado, todas inverídicas, através de documentos falsos e e-mails passados por Dumet, já que ele invadiu o e-mail de Bacelar. As denúncias de Bacelar são por crime de extorsão e quebra de sigilo", explicou o advogado.

Gilberto Vieira contou ainda que as denúncias noticiadas contra João Carlos Bacelar "foram plantadas pelo cunhado dele. E, por isso mesmo, a Câmara arquivou todos os processos, já que nada ficou provado", afirmou.

Lilian e André são acusados de instalar um programa espião no computador do parlamentar e utilizar as informações particulares do e-mail de Bacelar com o objetivo de extorqui-lo. O delegado do Departamento de Crimes Contra o Patrimônio, Oscar Vieira, explicou que se trata de “tentativa de extorsão e interceptação clandestina de fluxo de e-mail”. Dumet e Lílian prestaram depoimento, fizeram exame de corpo de delito e foram encaminhados para a Polinter e a Derca, respectivamente.

Através de um programa de computador, eles começaram a interceptar os e-mails de Bacelar no início de 2011. No entanto, o delegado  não soube precisar a data do início da tentativa de extorsão. Segundo a autoridade policial, o casal tentou extorquir aproximadamente R$ 50 milhões do parlamentar sob a ameaça de tornar públicas informações interceptadas nos e-mails que tipificariam má conduta de Bacelar enquanto deputado, envolvendo até desvio de dinheiro público.

Dumet se defendeu e negou todas as acusações: “Em nenhum momento eu extorqui o deputado. Tudo que tenho na vida ganhei com esforço próprio. Ele (Bacelar) quer preservar as falcatruas que vem fazendo e que eu iria tornar público”.  Já Lilian preferiu não se pronunciar publicamente. O delegado afirmou que há um laudo pericial confirmando que foi André quem invadiu os e-mails de Bacelar.



A separação do deputado, inclusive, teria sido causada por divulgação de informações da vida íntima do parlamentar. Todo o problema envolvendo a família Bacelar tem a ver com uma disputa por herança. Dumet e Lílian estão presos temporariamente à disposição da Justiça.

O advogado de Bacelar confirmou ao Bocão News que tudo isso se deu por conta de uma herança, "da qual o cunhado quer que Bacelar dê a ele uma parte do dinheiro que não lhe é de direito", disse. O valor da herança não foi divulgado.

A irmã e o cunhado do deputado federal João Bacelar, foram presos ontem acusados de montar dossiês para chantagear o político, mas foram liberados da prisão na tarde desta quarta-feira (28), depois da concessão de um alvará de soltura pelo Tribunal de Justiça da Bahia (TJ/BA).



Bacelar ainda na mira

Em julho, Bacelar foi acusado de nepotismo cruzado, utilização irregular de secretário parlamentar e negociação escusa entre parlamentar e servidor. Dos 21 membros do conselho, 15 estiverem presentes, mas apenas 12 votaram. Onze deputados votaram com o relator, deputado Guilherme Mussi (PSD-SP), inocentando Bacelar. O deputado Antonio Carlos Mendes Thame (PSDB-SP) se absteve.

A denúncia de venda de emendas parlamentares foi apresentada em reportagem do jornal O Globo, publicada em junho, baseada em conversas gravadas nas quais a ex-mulher de Bacelar, Isabela Suarez, descreve o esquema. De acordo com a gravação, o deputado, que é empresário na Bahia, comprava emendas de outros deputados federais. Bacelar já é investigado na Câmara por outras denúncias.



Denúncia

Em entrevista ao GLOBO, o deputado federal Marcos Medrado (PDT) admitiu ter negociado com Bacelar a destinação de uma emenda de R$ 2 milhões. Segundo o pedetista, um prefeito condicionou o apoio a ele na eleição de 2010 à entrega dessa emenda a Bacelar. Medrado figurava em uma tabela usada por Bacelar para acompanhar o andamento das emendas de deputados. Todas foram direcionadas para municípios que são base eleitoral de Bacelar e onde os autores das emendas não tinham votação relevante.

A atuação dos dois foi revelada pela ex-mulher de Bacelar, a empresária Isabella Suarez. Em conversa com a irmã do deputado, Lílian Bacelar, que trava com ele adisputa judicial por herança, Isabella detalhou a existência do esquema: — Desse cara do PT, com certeza ele (Bacelar) compra emenda. O nome dele é Geraldo alguma coisa.

Federal da Bahia. Se procurar, na hora você vai achar: Geraldo. Com certeza, com certeza. Eles operavam com o filho dele — disse a empresária em conversa gravada por Lílian.


Em agosto, o Conselho de Ética da Câmara dos Deputados instaurou processo contra os deputados João Carlos Bacelar (PR-BA) e Marcos Medrado (PDT-BA) para analisar denúncia de quebra de decoro parlamentar. A denúncia foi feita pelo PSOL com base em matéria do jornal O Globo segundo a qual os dois deputados estariam envolvidos em esquema de venda de emendas parlamentares ao Orçamento Geral da União.

Os deputados federal negaram as acusações. Para se defenderem diante dos colegas, os dois precisam ainda serem notificados das acusações. Para isso, o presidente do Conselho, deputado José Carlos Araújo (PSD-BA) precisará antes apontar quem serão os relatores nos dois processos. Se os relatores admitirem a denúncia feita pelo PSOL, os deputados serão notificados e terão prazo de dez dias para apresentarem defesa.

Pelo cronograma estabelecido, o prazo de 90 dias para a conclusão do processo no conselho – ao fim do qual os membros devem votar se pedem ou não punição aos parlamentares – deverá ser encerrado em 18 de dezembro.


A redação do Bocão News tenta insistentemente conversar com o André Dumet, mas o cunhado do deputado não atende as ligações.

Fotos: divulgação
Nota originalmente publicada às 18h30 do dia 27

Classificação Indicativa: Livre

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