Política

O tempo é curto para o disse-me-disse

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O que está cristalino neste processo todo é que a Justiça é arbitrária  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 24/01/2018, às 19h49   Luiz Fernando Lima


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O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) foi condenado a 12 anos e um mês de prisão pelo Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região na tarde desta quarta-feira (24) por unanimidade. Os três desembargadores não apenas confirmaram a sentença do juiz de 1ª instância, Sérgio Moro, como aumentaram a pena do petista.

Nas ruas, redes sociais e imprensa ainda ressoam as comemorações dos contrários ao ex-presidente e a indignação dos apoiadores. Os questionamentos e enredo de recursos jurídicos também estão sendo elaborados, respondidos e rebatidos a partir daquilo que cada pessoa ou grupo de pessoas acredita, imagina, sente ou defende.

Interessante neste cenário é que os leigos - brasileiros que vivem na planície de escassa informação precisa - não têm a menor ideia do que movimenta a máquina judicial que materializa um produto, ou melhor, uma sentença.

É inegável que a condenação de Lula suscita discussões sobre o cumprimento da regra do jogo. Há um sem número de ditos especialistas em Justiça que contestam a decisão. Outro grupo coaduna com a sentença.

A sensação é de que a Justiça não foi feita. Mesmo aqueles que comemoram a condenação de Lula o fazem menos pelo caso específico (triplex) e mais pelo conjunto da obra. É mais idiocrasia que convencimento racional.

A este cenário, soma-se, todas as questões políticas e econômicas, além do conjunto de interesses nacionais e internacionais que estão intrinsicamente ligados ao ex-presidente do País e os rumos para o futuro desta nação.

Pior do que não ter no horizonte a pacificação é ter a convicção de que as instituições nacionais atuam sem compromisso com a objetividade republicana. Nenhum brasileiro acredita que está imune às arbitrariedades de quem tem mais acesso ao poder do que ele.

O Judiciário repete os equívocos de outros segmentos ao se blindar em corporativismo danoso. Há dolo nestas circunstâncias e esta “prosa” é maior que a condenação do ex-presidente.

O argumento de que “nenhum cidadão está acima da Lei” é inválido, risível. O que vem acontecendo há séculos é que os membros do Judiciário estão acima da Justiça, as castas abastadas da política, incluso os petistas em não raras ocasiões, estiveram em algum momento acima da Justiça.

O que está cristalino neste processo todo é que a Justiça é arbitrária. Tem servido a interesses que não trazem nenhuma segurança ao cidadão e isso é temeroso.

Se você que está a favor ou contra Lula, a favor da cassação ou da manutenção de seus direitos políticos, não está assombrado com o espetáculo do Judiciário é bom que fique. Pois nada garante que os seus direitos não serão violados num futuro bem próximo.

O resto é engodo, mais do mesmo da política nossa de cada dia.

O debate instalado sobre o “medo” dos adversários de Lula enfrentarem-no nas urnas, por exemplo, está travado. O grande lance é que são pouquíssimas as pessoas dispostas a formar opinião a partir de discussões.

Há uma muralha levantada entre quem é contra ou a favor que não provoca o desinteresse nas pessoas. Os discursos incitam o ódio, a separação e não há nenhuma, nenhuma proposta capaz de criar um ambiente permeável à convivência saudável posta no momento.

Certo é que antes de melhorar, vai piorar muito.

Algumas informações que não podem faltar:

Os petistas vão continuar defendendo que houve uma decisão política. Continuarão colocando manifestantes nas ruas. Os defensores do ex-presidente Lula vão manter os vídeos e as denúncias de que o processo é viciado. Não sem razão irão mobilizar suas fileiras.

Os antipetistas farão o mesmo. Continuarão chamando Lula de cachaceiro, ladrão, corrupto, chefe de quadrilha. Manterão as camisas verdes amarelas e baterão panelas afirmando serem contrários a qualquer tipo de corrupção, mas não se enganem: o barulho maior é contra Lula. E aqui não há silêncio de inocente.

A semelhança entre esses dois grupos é que quando a corrupção é identificada no PT os petistas se sentem envergonhados e calam. Do outro lado, a mesma coisa acontece. A elite aristocrática se cala quando a corrupção vem à luz em figuras que são oriundas de berços esplendidos de alto padrão.

Neste puxa e estica é bom lembrar que a maioria da população discute com o vizinho, colega de trabalho, sente na pele os efeitos desta brincadeira de quem tem poder, mas vive alheio a este proselitismo todo.

A vida real acontece lá fora e o tempo é curto para disse-me-disse.

Luiz Fernando Lima é jornalista e editor-chefe do BNews

Classificação Indicativa: Livre

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