Política

Oposição interna do PT detona direção estadual em último debate

Imagem Oposição interna do PT detona direção estadual em último debate
Último encontro antes do PED colocou Everaldo Anunciação na berlinda  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 05/11/2013, às 12h33   Lucas Esteves (Twitter: @lucasesteves)


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No mesmo dia em que a direção estadual do PT costurou um acordo para unificar as candidaturas para presidente do PT em Salvador, o partido realizou o último debate para a eleição estadual antes do Processo de Eleição Direta (PED), que será realizado no próximo domingo (10). Apesar de apenas cerca de 50 pessoas terem comparecido ao auditório da Faculdade Visconde de Cairu, nos Barris, o clima era tenso e quatro candidatos alinharam duramente discursos contra o favorito Everaldo Anunciação em sinal de completo descontentamento com os rumos da direção petista baiana.
Ao passo em que o “grosso” dos mandatos e tendências do partido – hoje já dominadas pelos nomes mais expressivos do grupo – já declararam apoio a Anunciação e devem garantir sua condução ao cargo, os candidatos de menor expressão sinalizaram defender os anseios da massa militante da sigla. A principal queixa dos candidatos minoritários era de que o atual processo eleitoral estava sendo conduzido de maneira a ser nivelado como tem sido a política de uma maneira geral: esvaziamento do debate e alianças em prol do poder e somente isto.
Assim, Ernesto Marques, Lourival Lopes, Hipólito de Brito e Wanderson Pimenta, ainda que sigam em chapas separadas, uniram os clamores e detonaram a direção estadual da legenda, hoje nas mãos de Jonas Paulo e com a coordenação de fato por parte do governador Jaques Wagner. Os efeitos colaterais das práticas condenadas pelos oposicionistas fizeram com que, em sua teoria, o PT perdesse o crédito social, se afastasse dos movimentos de reivindicação e valorizasse uma política de alianças que visa unicamente o poder e joga no lixo as ideologias originais.
Segundo Marques, o processo estava sendo alijado de tal maneira que, pela primeira vez, de um PED para outro terá havido redução de diretórios municipais e menos eleitores do que o anterior. Ao todo, apenas 330 dos 417 municípios baianos (o PT está presente em praticamente todos) terão PED municipal em 2013. De acordo com o jornalista, expor este fato é uma “verdade inconveniente” ao partido, que tem sustentado eternamente o discurso de “fratricídio” contra o candidato, o qual Marques repudiou.
Outras declarações fortes vieram de Lourival Lopes, que sinalizou que o PT está a cada dia mais forrado de vícios da política externa ao partido original. Estes vícios, ele aponta, valorizam os cargos, alianças e acordos e tentam enterrar os debates, que têm a força de mudar os rumos dos poderosos petistas atuais. A sensação geral, portanto, é de desânimo porque a militância não enxerga mais o PT histórico e, por isto, os debates têm sido esvaziados. 
A quantidade de encontros, inclusive, foi criticada por todos ospostulantes. Enquanto no último PED que elegeu Jonas Paulo ocorreram mais de 10 debates, o atual chegou apenas a este quarto, o que ajudou a deixar o processo ainda mais obscurecido. Desta maneira, para os adversários de Anunciação, a suposta desorganização do PED faz diminuir a possibilidade de que haja pedras no caminho da perpetuação da atual forma de dirigir a legenda.
“Queremos ter ainda o princípio de ter a possibilidade de levar adiante uma outra chapa. O PT não pode ser mais um partido de cidadãos. Tem que ser um partido de militantes, porque os militantes comparecem, debatem, mudam as perspectivas. E o cidadão não pode fazer isso. Ele muito mal vai poder falar alguma coisa e a sua voz é pouca. O PT é um partido atualmente atingido pela lógica da política de alianças, que fica 'dormindo com o inimigo'. Nós não podemos nos aliar com partidos de direita”, discursou Lopes.
Aparentemente alheio aos esperneios, Anunciação jogou o jogo para o qual foi convidado e defendeu o ponto de vista de sua candidatura de continuísmo. Segundo ele, a política de alianças petista nacional foi aprovada em congresso nacional e advém de “entendimento da política atual” e éa melhor para a conjuntura de hoje no Brasil. No caso baiano, buscar a união é tão somente fortalecer o partido e, prioritariamente, fazer o sucessor de Wagner como forma de manter os trilhos da “Mudança” na vida da população.
A sanha de cooptação de apoios dos adversários trouxe um momento de tensão e revolta por parte de muito filiados presentes ao auditório da faculdade. No momento de sua apresentação, Anunciação fez apelo formal para que Lopes,  Hipólito de Brito e Wanderson Pimenta abrissem mão de suas candidaturas e se juntassem à sua própria, em diálogo que propôs que ocorresse ainda em algum momento desta semana. Neste momento, petistas de diversas correntes presentes se revoltaram, gritaram e até ofenderam o candidato situacionista, que pediu respeito à sua fala.
Ernesto Marques não foi convidado para a “união” porque, sabidamente, oferece sua candidatura como contraponto absoluto à de Anunciação. No recado que o candidato de Wagner disse no momento de sua explanação que “pessoas” estão querendo “parar o projeto de desenvolvimento” encabeçado pelo governador. E disse que, com a possibilidade de unanimidade progressiva, não deseja “derrotar companheiros, mas sim eleger o sucessor do governador Jaques Wagner e ajudar a derrotar as forças conservadoras". Além disso, afirmou que a união em torno de seu nome é tal que os quatro pré-candidatos ao Governo do Estado em 2014 o apoiam no PED.

Nota originalmente postada às 21h do dia 4

Classificação Indicativa: Livre

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