Política

Consciência Negra: orçamento da Semur aquém das demandas

Juarez Matias
Apesar de Salvador ter população de 80% de descendentes de africanos, recurso da Reparação é baixo  |   Bnews - Divulgação Juarez Matias

Publicado em 21/11/2013, às 08h15   Cíntia Kelly (Twitter: @cintiakelly_)


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Dia da Consciência Negra e Salvador ainda não tem muito a comemorar. Mesmo com uma população em quase sua totalidade negra, a Secretaria Municipal da Reparação da capital baiana ainda tem um dos menores orçamentos para atender as políticas afirmativas de 80% da população de descendentes de africanos. Discutir se o 20 de Novembro deve ser feriado ou não, é pouco.




Quando assumiu a Semur em 2009, portanto seis anos após a criação da pasta, Ailton Ferreira viu de perto as dificuldades para tirar o povo negro da invisibilidade e botar em pratica projetos dentro da política afirmativa.
Além de secretário, Ailton também era malabarista. Sim. É necessário fazer malabarismo quando se dispõe de pouco recurso. Em 2009, o orçamento da Semur era de R$1,25 milhão. Um ano depois, esse valor duplicou, chegando a R$2,5 milhões". Em 2012, o orçamento foi de R$4,5 milhões.


O orçamento não é apenas para bancar os programas de políticas afirmativas. “Tem que se pagar os servidores, a manutenção do prédio e as atividades finalísticas”, afirmou Ailton em conversa com o Bocão News, durante a solenidade de entrega do certificado Mãe Ruinhó, no Terreiro Bogum, no Engenho Velho da Federação.


“Criou-se uma cultura que funciona assim. Quando se cria secretarias para as chamadas minorias – mulher, negro -, vem aquele momento de grande celebração e de êxtase. Depois disso, vem a cobrança, o desafio de ter que fazer muito com pouco dinheiro, tem que convencer a máquina administrativa – município, estado e União – que são políticas devidas e corretas e sempre aparece alguém para dizer que essas coisas não precisam ser feitas”, relata Ailton.


Racismo institucional


O ex-secretário, que hoje está na Superintendência da  Secretaria de Direitos Humanos do Estado, fala também sobre o racismo institucional, quando você não consegue provar, por exemplo, um serviço profissional em decorrência da cor da pele. “O Brasil não foi construído para as demandas dos negros, das mulheres, ciganos, gays, deficientes. Foi concebido para brancos europeus considerados normais, competentes e inteligentes”, ressalta.




Ailton exemplifica o racismo institucional. “É quando o Estado, por exemplo, contrata Cláudia Leitte para fazer um show por R$200 mil, paga o cachê antecipadamente, esse mesmo Estado contrata Lazzo por R$5 mil e demorara seis meses para pagar e para fazer o pagamento . Aí temos que provar que ele existe como cantor, fazer um dossiê com capas de CD, com recortes de matérias de jornais”.



*O que é racismo institucional?

É o fracasso coletivo de uma organização em prover um serviço profissional e adequado às pessoas por causa de sua cor, cultura ou origem étnica.

Como se manifesta?

O racismo institucional pode ser visto ou detectado em processos, atitudes ou comportamentos que denotam discriminação resultante de preconceito inconsciente, ignorância, falta de atenção ou de estereótipos racistas que colocam minorias étnicas em desvantagem.

Qual a sua consequência?

O racismo institucional determina a inércia das instituições e organizações frente às evidências das desigualdades raciais.

*(Extraído do Programa de Combate ao Racismo Institucional no Nordeste do Brasil - DFID/PNUD)

Publicada no dia 20 de novembro de 2013, às 13h26

Classificação Indicativa: Livre

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