Pauta sobrestada por vetos pendentes, debates de projetos importantes e estabelecimento da Lei Orçamentária do ano que vem. Nada disto convenceu os vereadores da situação na Câmara de Salvador a apreciar o convite da oposição para que o secretário municipal da Fazenda, Mauro Ricardo, viesse à Casa falar sobre sua suposta responsabilidade nos escândalos na gestão em São Paulo. Com a pressão aumentando sobre o administrador paulistano, os edis se uniram e, em bloco, fizeram de tudo para que não houvesse submissão do pedido a votação.
E a estratégia deu certo. Em uma das sessões mais tensas do ano, gritaria e acusações de lado a lado foram presença quase ininterrupta, com vereadores buscando jogar uns aos outros em contradição. No final, votação que é bom, nada. No final, ficou clara a intenção dos governistas de “blindar” Mauro Ricardo, que irá a São Paulo falar sobre o caso em breve.
No discurso geral dos defensores do secretário, os opositores tentam tomar o tempo de Mauro Ricardo e prejudicam a cidade exigindo que o paulista fale sobre assuntos que nada têm a ver com Salvador. Além disto, os adversários – em especial os petistas – não têm nenhuma reserva moral para exigir celeridades e explicações porque são defensores dos recém-condenados no Mensalão.
O desdobramento dos argumentos incluem trabalhos de partidos - ou a falta dele – nas gestões estadual e na última gestão municipal, as responsabilidades do ex-presidente Lula no caso recentemente julgado, hipocrisia da oposição e suspeição da atual gestão na capital paulista, administrada pelo PT. Por fim, a viagem planejada pela oposição para acompanhar in loco em São Paulo os desdobramentos do escândalo naquela cidade também foi largamente criticada pelos aliados de ACM Neto.
“Eles estão indo a São Paulo para passear na av. 25 de Março, aproveitando que o Natal está chegando e fazendo umas comprinhas. È uma viagem despropositada, que somente vai gastar dinheiro do contribuinte”, ironizou o vice-líder do Governo, Léo Prates (DEM). Já o correligionário Cláudio Tinoco alega que, se quiserem acompanhar o caso, basta fazê-lo pelos jornais e evitar uma ausência “suspeita”.
A vereadora Fabiola Mansur, porém, procurou desmentir os argumentos dos contrários. Segundo ela, a viagem a São Paulo sairá do bolso de cada edil e que os vereadores têm a obrigação de acompanhar o caso, um vez que o cerco se fecha diante do secretário. Além disto, comparecer ao local do olho do furacão ajuda os edis a ter um melhor julgamento sobre o caso, e que “lei de acesso à informação não é lei de acesso à informação via imprensa”.
Ela lembra que é comum na atual legislatura uma “celeuma” dos aliados toda vez que a oposição solicita explicações e que há um código de conduta que o prefeito divulgou no início do ano. Para ela, supostamente o código não está sendo seguido no caso de Ricardo. “Institucionalmente nos temos que ter algum esclarecimento. Se não dele, se não do prefeito, nós vamos falar com algum controlador do Ministério Público. Fiscalizar atos do Executivo é parte da atribuição legislativa”, explicou.
Já o líder do governo, Gilmar Santiago, ousa uma análise diferente. Segundo ele, submeter o convite a voto deverá gerar um desconforto popular que os colegas do governo não querem encarar atualmente. Caso o convite a Mauro Ricardo seja negado, o eleitor poderá cobrar de seus vereadores o porquê de esconderem as palavras do secretário envolvido no escândalo dos fiscais em São Paulo.
“Este é só um convite. Ele pode negar. Mas seria bom se ele viesse. O secretário deveria espontaneamente vir à casa, até para criar um clima de confiança na cidade, de que uma pessoa que ocupa um cargo tão importante na cidade está tranquilo de sua inocência. Se ele não vem é porque o secretário não está seguro daquilo que ele vem dizendo todo o tempo para a imprensa.”
Nota originalmente postada 23h do dia 27
