Política

Deputado cassado conta “momentos escurecidos” da ditadura na Bahia

Imagem Deputado cassado conta “momentos escurecidos” da ditadura na Bahia
Luis Leal foi o terceiro a ser ouvido na Comissão da Verdade   |   Bnews - Divulgação

Publicado em 17/12/2013, às 09h02   Juliana Nobre (Twitter: @julianafrnobre)


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O ex-deputado estadual Luis Leal, cassado pela ditadura militar em 1964, foi o terceiro a ser ouvido na Comissão da Verdade da Assembleia Legislativa da Bahia (Alba), na manhã desta segunda-feira (16). Emocionado, Leal, que também foi vereador de Salvador pelo Partido Social Democrático (PSD), contou detalhes dos momentos de perseguição sofridos na época.

De acordo com ex-parlamentar, que terá seu mandato restituído, simbolicamente, em março do ano que vem – quando serão celebrados os 50 anos do fim da ditadura militar – os momentos vividos foram os mais escurecidos da sua vida particular. “Foi um desgaste muito grande para todos nós e que terminou nesse desencanto. Os homens passaram a não pensar seriamente nos trabalhos da política. Nos indignamos, nos revoltamos com aquelas ações na base da ilegalidade, que foram esquecidos criminosamente”.

E continua com mais detalhes: “na véspera da votação, os vereadores foram chamados ao Quartel General. O informe era claro; os militares queriam o impeachment de Virgildásio Senna, e quem votasse contra seria preso”, conta Luis, que ao lado de Luiz Sampaio, líder do governo na época, não seguiu a orientação dos militares. “O impeachment do prefeito Virgildásio Sena era imoral, ilegal e indecente. Não dava para aceitar aquela imposição e dormir de consciência tranquila. Votei contra, e a galeria da Câmara de Vereadores ficou surpresa. Não fui preso graças à intervenção do vereador Ebert de Castro, que presidia a sessão e levou a resolução até o quartel. A prisão foi substituída por depoimento”. Na época, o então governador Antonio Balbino chegou a informar a Leal sobre os perigos que corria por conta de seu posicionamento tido como “subversivo” pelos militares.


A devolução dos mandatos é vista de forma justa pelo ex-deputado. “É para dar satisfação à sociedade que nos elegeu. A coisa foi tirada e simplesmente ficamos esquecidos. Fiquei apenas com a certidão de mandato cassado e pronto”, indigna-se.

Leal ainda fez uma comparação entre as manifestações que ocorreram nos últimos meses com o movimento das Diretas Já – ato que reivindicou as eleições presidenciais e pôs fim aos anos de chumbo. “Apesar de termos um método de evolução diferente, eu vejo muita semelhança. Tínhamos pouco debate, mas a população foi às ruas para também cobrar. O debate agora está aumentando e as pessoas exigindo mais”.

Ainda serão ouvidos mais cinco parlamentares que tiveram seus mandatos cassados no período. De acordo com o presidente do colegiado na Alba, Marcelino Galo (PT), os depoimentos contribuem nas investigações da Comissão Nacional da Verdade, já que é a única com competência para avançar juridicamente. “Nós ouvimos esses depoimentos, inclusive com as participação das diversas comissões, no sentido de cada uma focar e balizar o seu trabalho. E focamos nos personagens da Assembleia Legislativa que viveram nessa época e nas ações dos foram vitimadas pela ditadura. A [comissão] nacional tem a competência para, se quiser, convocar os envolvidos”, explica.

A Lei da Anistia, aprovada em 1979, e que dá o perdão aos torturadores e criminosos da época é o empecilho para condenar os envolvidos. “O limite é jurídico. O que nós temos que fazer é um grande movimento popular, ou quem sabe rever a lei e conseguir avançar”, completa Galo.


 Publicada no dia 16 de dezembro de 2013, às 16h14

Classificação Indicativa: Livre

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