Coronavírus

Representante da Davati diz ter sido procurado pelo ministério e que soube de pedido de comissão em vacinas

Edilson Rodrigues/Agência Senado
O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), disse ter ficado "constrangido" com os diálogos entre integrantes do Ministério da Saúde e Cristiano Carvalho  |   Bnews - Divulgação Edilson Rodrigues/Agência Senado

Publicado em 15/07/2021, às 13h03   Folhapress


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À CPI da Covid no Senado, Cristiano Carvalho disse que soube de um pedido de comissão para venda de vacinas ao Ministério da Saúde. Representante da Davati Medical Supply, Cristiano afirma que não foi informado sobre oferta de propina, e disse que o valor seria reservado para o "grupo" ligado ao coronel da reserva Marcelo Blanco, ex-assessor da Saúde.

"A informação que veio a mim foi que, vale ressaltar, não foi o nome propina. Ele (Dominghetti) usou comissionamento. Ele se referiu a esse comissionamento com sendo do grupo do tenente-coronel Blanco [na verdade, o coronel da reserva Marcelo Blanco], e a pessoa que havia apresentado a ele [Dominghetti] ao Blanco, que é de nome Odilon", afirmou Cristiano.

Cristiano ainda disse que foi procurado em 3 de fevereiro pelo então diretor de Logística da Saúde, Roberto Ferreira Dias -que era chefe de Blanco semanas antes do contato.

A suspeita de cobrança de propina nesta negociação foi relatada à Folha de S.Paulo pelo policial militar Luiz Paulo Dominghetti, que participava das tratativas com Cristiano.

Na versão do policial, Dias cobrou propina de US$ 1 para destravar a negociação de 400 milhões de doses da AstraZeneca ao governo Jair Bolsonaro, mesmo sem aval da fabricante. Cristiano disse que o valor de US$ 1 "nunca foi mencionado".

A testemunha da CPI desta quinta-feira (15) afirmou que Dias, no telefonema do começo de fevereiro, queria informações sobre como a vacina poderia chegar ao Brasil.

Segundo Cristiano, o então diretor da Saúde perguntou de preço das doses, mas em momento algum citou favorecimento, propina ou comissão. "Falou que estava buscando vacinas ao governo federal, que não estava encontrando através dos fabricantes. Ele queria saber como era feita a aquisição, como era pago", disse.

À CPI, Dias também citou que procurou Cristiano. Ele afirmou que Blanco havia dito sobre a oferta da Davati, e que procurou o representante da empresa para ter mais informações.

Cristiano disse que não conhece "Odilon", nome citado como alguém receberia parte dos ganhos pela venda de imunizantes. Afirmou apenas que foi procurado por ele, justamente para tratar de comissão das vacinas. "Se eventualmente surgisse uma venda, quanto ele receberia."

FERNANDO BEZERRA

O líder do governo no Senado, Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE), disse ter ficado "constrangido" com os diálogos entre integrantes do Ministério da Saúde e Cristiano Carvalho, representante da Davati, apresentados à CPI da Covid.

Cristiano presta depoimento à comissão nesta quinta-feira (15) e relatou conversas que teve com Roberto Dias, ex-diretor de Logística do Ministério da Saúde, e o coronel Marcelo Blanco, ex-assessor do departamento de Logística.

Os diálogos foram antecipados pela Folha de S.Paulo, que teve acesso a mensagens que mostraram uma negociação informal e paralela da pasta com a Davati Medical Supply antes mesmo de a empresa ter apresentado proposta oficial ao governo Jair Bolsonaro para o fornecimento de vacinas contra a Covid-19.

Nesta quinta à CPI, Cristiano informou que Dias, em telefonema do começo de fevereiro, queria informações sobre como a vacina poderia chegar ao Brasil.

Segundo Cristiano, o então diretor da Saúde perguntou sobre preço das doses, mas em momento algum citou favorecimento, propina ou comissão. Após a declaração do depoente, o líder do governo no Senado afirmou sentir "desconforto" com os relatos.

"Quero manifestar meu desconforto com diálogos que foram mantidos entre representantes da Davati com servidores públicos e ex-servidores públicos, numa narrativa que a gente constata a falta de credenciamento, de capacidade técnica, de habilidade técnica para que esta empresa Davati, ou seus eventuais representantes, pudessem tratar com o governo brasileiro para eventual aquisição ou compra de vacinas", afirmou Bezerra.

"Estou realmente constrangido com diálogos que estão sendo aqui mostrados. Mas é importante, seu relator, deixar claro de que apesar de todas essas contradições, equívocos, falhas ou transgressões que podem ter sido praticados por por eventuais colaboradores ou servidores, essas negociações não foram à frente. Não se comprou uma dose de vacina."

O relator da CPI, Renan Calheiros (MDB-AL), rebateu dizendo que não seria necessário ter havido a conclusão da negociação e a compra da vacina para que se caracterize um ato de corrupção.

"Não queira generalizar que atos de um outro servidor possam ser transferidos para o governo como um todo", respondeu Bezerra.

A suspeita de corrupção surgiu após Luiz Paulo Dominguetti, intermediário da Davati nessas negociações, ter afirmado em entrevista à Folha na dia 29 ter recebido um pedido de propina de US$ 1 por dose de vacina por parte de Dias, em um restaurante num shopping em Brasília, em 25 de fevereiro deste ano.

NEGOCIAÇÃO DE VACINA

À CPI da Covid Cristiano Carvalho, que se apresenta como procurador no Brasil da Davati Medical Supply, disse que a primeira vez que esteve no Ministério da Saúde foi em março deste ano e que ele foi levado por Luiz Paulo Dominguetti e o reverendo Amilton Gomes de Paulo, que negociavam a venda de vacinas da Astrazeneca à pasta.

Cristiano também disse que o coronel da reserva Helcio Bruno, do Instituto Força Brasil, disse a ele ter conseguido a reunião no Ministério da Saúde com o também coronel da reserva Elcio Franco, ex-número 2 da pasta na gestão de Eduardo Pazuello. A reunião ocorreu em 15 de março.

O representante afirmou que antes dessa ocasião ele nunca havia negociado com o ministério antes. Alegou ainda que sempre "foi incrédulo da situação da venda".

"Comecei a dar atenção quando começaram a chegar para mim contatos oficiais do Ministério da Saúde", disse o depoente.

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