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Elogiada por Lula, Manuela abriu mão de liderar chapa para ser vice do PT

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Comunista gaúcha é vice de Haddad na eleição  |   Bnews - Divulgação Divulgação

Publicado em 13/09/2018, às 06h53   Folhapress


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Em seu discurso em frente ao Sindicato dos Metalúrgicos do ABC, em São Bernardo do Campo (SP), antes de se entregar à Polícia Federal, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva referiu-se cinco vezes a Manuela D’Ávila.

Presença destacada no carro de som em que Lula proferiu sua fala de despedida, a “garota bonita, garota militante do PC do B”, nas palavras do líder petista, foi mais citada que muitas das lideranças históricas do PT. 

“E quero dizer a você Guilherme [Boulos] e a Manuela que, para mim, é motivo de orgulho pertencer a uma geração que está no final dela vendo nascer dois jovens disputando o direito de ser presidente da República desse país”, disse o ex-presidente na manhã do dia 7 de abril.

A troca de afagos —Manuela contestou a prisão de Lula e defendeu a participação do petista na eleição— deixava aberta a possibilidade de união das siglas na corrida eleitoral.

Cinco meses depois, após idas e vindas, o acordo foi confirmado: com Lula barrado pela Justiça Eleitoral, Fernando Haddad passou a encabeçar a chapa petista, tendo Manuela como vice.

Antes, em agosto, o PC do B havia oficializado sua candidatura à Presidência, o que desagradou a muitos petistas. 

Pela primeira vez desde 1989 o PC do B demonstrava intenção de desvincular-se do PT e ter candidato próprio à Presidência. 

Num congresso do PC do B, Lula tratou de apaziguar os ânimos. “É um direito legítimo [ser candidato]. Se não fosse a minha teimosia e a do PT, eu não teria chegado nunca à Presidência”, afirmou.

Manuela, por sua vez, manifestou diversas vezes que não se oporia a uma composição com o PT já no primeiro turno da disputa. “Nós nunca fomos e nunca seremos óbice à unidade de nosso campo político. Nós precisamos estar o mais unido possível para que vençamos a eleição e interrompamos esse ciclo de destruição do Brasil.”

Em 5 de agosto, quatro dias após a convenção que lançou Manuela no pleito para o Planalto, o PC do B firmou aliança com o PT e desistiu de ter um nome próprio na disputa.

Caso a chapa petista vença, será a primeira mulher a ocupar a Vice-Presidência. Em relação a Dilma Rousseff (PT) possui a vantagem de já ter disputado eleições e conhecer mais de perto os meandros do jogo político.

Nascida em Porto Alegre, Manuela iniciou cedo a carreira política. Em 2004, aos 23 anos, elegeu-se vereadora de sua cidade-natal. Em 2006 e 2010 foi eleita deputada federal com recorde de votos no Rio Grande do Sul. 

Na Câmara Federal relatou o Estatuto da Juventude e presidiu a Comissão de Direitos Humanos e Minorias. Neste último posto, teve em 2011 um embate Jair Bolsonaro, na época deputado pelo PP, hoje candidato à Presidência pelo PSL.

Manuela pediu na ocasião que o PP indicasse outro deputado para a vaga de Bolsonaro. “Não podemos ter nesta comissão um deputado que não defenda os direitos humanos”, disse ela. “Estou sofrendo preconceito heterossexual”, reclamou Bolsonaro. 

Manuela concorreu, sem sucesso, à Prefeitura de Porto Alegre em 2008 e 2012.

Em 2014, trocou Brasília pelo Rio Grande do Sul e elegeu-se deputada estadual com a maior votação no estado naquele ano.

Dois anos depois, uma foto da deputada amamentando a filha na Assembleia Legislativa teve repercussão internacional.

“O que chama atenção na foto em minha opinião?”, indagou-se Manuela numa rede social. “Mulheres em espaço de poder, crianças em espaços de poder, vida em espaços de poder. A política é masculina e machista, a política não tem espaço para as mulheres, a política não tem espaço para o que nos diferencia dos homens, a política não tem espaço para a ingenuidade e para a alegria das crianças, não tem espaço para a naturalidade com que conciliamos nosso trabalho e nossas lutas com nossos bebês. Levar Laura comigo tornou-se, sem que eu percebesse, uma forma de resistir a política que desumaniza.”

Um dos símbolos de sua bandeira contra o preconceito é a frase estampada em suas camisetas: “Lute como uma garota”.

Em junho deste ano, as interrupções a ela por parte dos entrevistadores do programa Roda Viva — ao menos 40, em contatem da Folha - foram classificadas de machistas pelos movimentos feministas.

Sobre o tratamento dado às mulheres no meio político, declarou recentemente à Folha: “Às vezes escuto um elogio que é fundamentado em um conjunto de preconceitos. É comum ouvir: ‘Nossa, você me surpreendeu por saber falar sobre tal assunto’. Sempre respondo: você achava que eu era a parlamentar mais votada do RS há quatro eleições por causa de meus olhos azuis? Eu não tenho os olhos azuis.”

Classificação Indicativa: Livre

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