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Criadores da campanha do posto Ipiranga comemoram apelido de guru de Bolsonaro

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Presidenciável usou metáfora para descrever papel de Paulo Guedes, seu conselheiro  |   Bnews - Divulgação Reprodução

Publicado em 24/09/2018, às 07h21   Folhapress


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Começou em julho, quando Jair Bolsonaro (PSL) estreou o termo nesta eleição para definir o papel de seu guru econômico, Paulo Guedes. E aí posto Ipiranga virou expressão pop na corrida presidencial, impulsionada pela liderança do deputado federal nas pesquisas e a consequente ascensão 
do nome de Guedes.

Na metáfora inicial do candidato, ele quis definir o auxiliar como dono de todas as respostas para a economia em um eventual governo seu, aludindo à campanha publicitária lançada pela marca em 2011.

Nos vídeos, um tipo caipira, meio sonso, meio bonachão, responde a qualquer dúvida com “pergunta lá no posto Ipiranga”, frase pronta que foi convertida em bordão.

“O posto Ipiranga já pegou fogo”, disse Geraldo Alckmin (PSDB) na sexta-feira (21), diante do aparente estremecimento de relações entre Bolsonaro e seu assessor, após a revelação de que a dupla cogitava criar um imposto nos moldes da extinta CPMF.

Ciro Gomes (PDT) já recorreu ao termo para atacar o que chamou de “apologia da ignorância”: “Virou um atributo. ‘Sei de nada não, vou chamar o posto Ipiranga’.”

As ironias, críticas e elogios que alçaram o nome da rede de postos são considerados pela empresa positivos do ponto de vista publicitário, mas tratados com cautela sob o viés político.

Antonio Duarte, o Batata, ator que interpreta o personagem da propaganda, não dá entrevistas. Disse à Folha que tem “contrato muito rígido”, que o impede de se manifestar em temas polêmicos.

Para evitar jogar combustível no já inflamado clima eleitoral, a rede se pronunciou por meio de nota genérica ao ser procurada pela reportagem. No texto, se declara apartidária e diz “respeitar a pluralidade democrática”.

A Ipiranga não impõe regras por não ter “como impedir ou restringir o seu uso verbal em qualquer meio de comunicação”. Diz acreditar que o conceito de “um lugar completo esperando por você” entrou “no dia a dia”.

A marca, porém, monitora os usos e entra em ação se considerar que houve plágio da propaganda como um todo. Não autoriza que um postulante tente reproduzir o anúncio, já que a obra envolve direitos autorais.

Foi o que aconteceu no pleito de 2016, quando João Doria (PSDB), então candidato a prefeito de São Paulo, se valeu do expediente contra Fernando Haddad (PT). Nas peças, uma atriz perguntava onde achar “UBS sem fila, hospital limpinho e médico especialista” e um ator dizia: “Lá na propaganda do PT”.

O TRE-SP (Tribunal Regional Eleitoral de São Paulo) aceitou pedido da empresa e mandou suspender os vídeos, sob o argumento de que não se poder utilizar criação intelectual sem autorização do respectivo autor ou titular.

O publicitário João Livi, que dirigiu a criação da campanha dos postos Ipiranga na agência Talent, comemora que o conceito do anúncio tenha se incorporado à linguagem popular, a exemplo de slogans de marcas como Bombril, Brastemp e Doril.

“Isso é muito positivo. E o bacana é que as pessoas se referem no sentido exato que a gente quis dar”, afirma ele.

Exemplos não faltam. Para ficar no campo político, o ex-presidente do Supremo Tribunal Federal Carlos Ayres Britto já falou que “a Constituição lembra um certo posto de combustível que tem resposta para todas as perguntas”. Usou a comparação para enaltecer a Carta Magna e criticar o excesso de emendas.

Nesta campanha presidencial, Marina Silva (Rede) também já lançou mão da expressão para relativizar a intervenção do governo federal na segurança pública do Rio: “As Forças Armadas têm sido usadas como posto Ipiranga para as incompetências dos políticos”, afirmou.

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