Eleições

Eleição muda correlação de forças nos estados e deve influenciar disputas em 2022

Gilberto Marques
Resultado afeta articulação para governos estaduais e impulsiona líderes de DEM na Bahia e no Rio, de PSD no Paraná e MG e de PP no Piauí e Alagoas  |   Bnews - Divulgação Gilberto Marques

Publicado em 01/12/2020, às 06h15   João Pedro Pitombo e Guilherme Garcia, Folhapress


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Os resultados das eleições municipais neste domingo (29) consolidaram mudanças na correlação de forças políticas nos estados com impactos nas disputas para os governos estaduais em 2022.

O crescimento dos partidos nos estados, tanto em número de prefeituras quanto em número de eleitores governados nos municípios, dará impulso a líderes políticos que saíram vitoriosos nas urnas.

Este será o caso, por exemplo, do DEM na Bahia e no Rio de Janeiro, do PSD no Paraná e em Minas Gerais, do PP no Piauí e em Alagoas, do PDT no Maranhão e do PSDB no Rio Grande do Norte.

O PSDB de João Doria confirmou sua força no estado de São Paulo ao eleger prefeitos de 172 cidades paulistas, número levemente acima das 164 conquistadas há quatro anos. A conta inclui a capital paulista, onde Bruno Covas foi reeleito e derrotou Guilherme Boulos (PSOL).

Ao mesmo tempo em que se manteve firme em São Paulo, os tucanos minguaram em estados como Goiás, Paraná, Mato Grosso e Pará, deixando de figurar entre forças políticas relevantes nestes estados.

Por outro lado, o partido cresceu no Rio Grande do Norte, saindo de 10 para 31 prefeitos, incluindo a capital. O desempenho fortalece a pretensão do ministro do Desenvolvimento Regional, Rogério Marinho, de enfrentar a governadora Fátima Bezerra (PT) daqui a dois anos.

O DEM avançou no Rio de Janeiro e na Bahia e será a sigla que mais pessoas governará nos municípios desses estados.

No Rio, o partido governará cerca de 8 milhões de pessoas após sair de 2 para 10 prefeituras, incluindo a capital com o prefeito eleito Eduardo Paes.

Na Bahia, o DEM governará 4,5 milhões de pessoas em 37 prefeituras: levou 9 das 30 maiores cidades do estado. O resultado deve esquentar a disputa pelo governo baiano, que deve opor Jaques Wagner (PT) e ACM Neto (DEM) em 2022.

Principal adversário no estado, o PT ganhou 34 prefeituras na Bahia, mas sofreu reveses no segundo turno ao perder em Feira de Santana e Vitória da Conquista. Governará 750 mil baianos nos municípios.

Colocando na balança o número de eleitores, os partidos da base do governador Rui Costa governarão nos municípios 6,7 milhões de pessoas. A oposição, por sua vez, governará 7,1 milhões. Outros 775 mil estarão em cidades governadas por PL e PDT, partidos que são base tanto de Rui Costa quanto de ACM Neto.

Na correlação de forças, PSD e PP tornaram-se ainda mais importantes nas composições para a disputa do governo baiano. Liderado pelo senador Otto Alencar, o PSD terá 106 prefeitos, enquanto o PP terá 91.

O DEM também avançou em Minas Gerais: terá 84 prefeituras —mesmo número do PSDB— e será o segundo partido em número de eleitores governados. Ficará atrás apenas do PSD, que se consolidou como uma das principais forças políticas de Minas e governará 4,5 milhões de mineiros em 78 cidades.

Os resultados colocam dois nomes no tabuleiro da sucessão do governador Romeu Zema (Novo), que deve disputar a reeleição: o prefeito reeleito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), e o senador Rodrigo Pacheco (DEM).

Minas Gerais também será a principal base eleitoral do PT em número de eleitores governados nos municípios –1,8 milhão ao todo. O partido caiu de 52 para 28 prefeituras, mas comandará Contagem e Juiz de Fora, terceira e quarta maiores cidades do estado.

Além de Minas, o PT terá a maior parte de seus prefeitos na Bahia, Piauí e Rio Grande do Sul. Nestes três estados, contudo, a maioria dos petistas eleitos governará cidades de pequeno ou médio porte.

No campo da centro-esquerda, o PSB perdeu força em Pernambuco. Apesar de ter mantido o Recife com a eleição de João Campos, caiu de 67 para 53 prefeituras no estado.

Ainda assim, o partido terá Pernambuco como seu principal centro gravitacional. De cada três brasileiros governados por um prefeito do PSB, um estará em cidades pernambucanas.

Esta concentração é ainda maior no caso do PDT: dos 10,7 milhões de brasileiros que serão governados por prefeitos do partido a partir de 2021, 4,5 milhões estarão no Ceará.

O PDT elegeu José Sarto em Fortaleza e passará de 49 para 67 municípios do Ceará. No campo da oposição, houve uma mudança na correlação de forças com a ascensão do PSD, legenda ligada ao ex-vice-governador Domingos Filho.

O partido tomou o lugar do MDB de Eunício Oliveira como principal força da oposição aos irmãos Cid e Ciro Gomes no Ceará.

Líderes de partidos do centrão mostraram força no Nordeste. No Piauí, o PP saltou de 40 para 81 prefeituras, fortalecendo o senador Ciro Nogueira.

O avanço acontece depois de ele ter rompido com o governador Wellington Dias (PT), pavimentando sua pretensão de disputar o governo do estado daqui a dois anos.

Movimento semelhante aconteceu em Alagoas, onde o PP do deputado federal Arthur Lira saiu de 11 para 28 prefeituras. Apesar do crescimento robusto, o partido ainda está atrás do MDB do governador Renan Filho, que vai governar 37 municípios alagoanos a partir do ano que vem.

Já a vitória de João Henrique Caldas (PSB), o JHC, em Maceió fortalece outro nome no tabuleiro: o senador Rodrigo Cunha (PSDB), que foi um dos principais fiadores da candidatura do nome do PSB.

O tucano, por outro lado, tem contra si o desempenho de seu próprio partido na eleição deste ano: o PSDB tinha 18 prefeituras em Alagoas e terá apenas duas a partir de 2021.

No Maranhão, o PC do B de Flávio Dino perdeu espaço e caiu de 45 para 22 prefeitos. O campeão em prefeituras no estado será o PDT do senador Weverton Rocha, que se articula para ser candidato ao governo do estado na sucessão de Dino.

O PDT, inclusive, apoiou no segundo turno em São Luís a candidatura de Eduardo Braide (Podemos), que acabou saindo vitorioso das urnas. O movimento implodiu a base aliada de Dino, que apoiou Duarte Júnior (Republicanos).

Apesar de ter perdido na capital, o Republicanos do vice-governador Carlos Brandão saiu mais forte das eleições maranhenses, assim como o PL do deputado federal Josimar de Maranhãozinho.

Em estados como Paraná, Goiás, Tocantins e Paraíba, os novos governadores eleitos em 2018 funcionaram como uma espécie de imã para os candidatos a prefeito em cidades do interior.

O resultado veio nas urnas. No Paraná, o PSD do governador Ratinho Júnior cresceu de 28 prefeitos eleitos em 2016 para 128 neste ano e governará uma em cada três cidades do estado. O crescimento se deu principalmente em cima do PSDB, que submergiu no Paraná.

Outras legendas como Podemos e PSL também cresceram no Paraná. O PSL saiu de 4 para 24 prefeituras, tendo ali seu melhor desempenho dentre todos os estados brasileiros.

Movimento semelhante aconteceu na Paraíba, onde o governador João Azevêdo trocou o PSB pelo Cidadania após romper com seu padrinho político, o ex-governador Ricardo Coutinho.

O partido era nanico do estado e não havia conquistado nenhuma prefeitura na Paraíba em 2016. A partir do próximo ano, sob liderança do governador, terá 40 prefeitos no estado.

O PSB de Ricardo Coutinho, por outro lado, viveu um movimento contrário: elegeu 56 prefeitos há quatro anos e terá apenas 5 a partir de 2021. Já o PV não elegeu nenhum prefeito no estado, o que dificultará as pretensões de Luciano Cartaxo, prefeito de João Pessoa, em disputar o governo.

Classificação Indicativa: Livre

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