Política

Exército teria se recusado a combater invasão do Planalto no 8 de janeiro; entenda

Marcelo Camargo / Agência Brasil
Documentos indicam novas suspeitas de irregularidades na atuação do Exército durante o ato golpista  |   Bnews - Divulgação Marcelo Camargo / Agência Brasil

Publicado em 24/06/2023, às 13h23   Cadastrado por Edvaldo Sales


FacebookTwitterWhatsApp

Depoimentos e relatórios produzidos pelos integrantes do Batalhão de Choque da Polícia Militar do Distrito Federal, que atuaram no combate aos extremistas que participaram da invasão do Palácio do Planalto no ato golpista do dia 8 de janeiro, apontam novos detalhes sobre a inércia dos militares do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), vinculada ao Exército. As informações são do colunista Aguirre Talento, do UOL, que teve acesso com exclusividade à documentação, em posse da PM do DF.

De acordo com a reportagem, os policiais faziam parte do grupo Patamo Alfa do Batalhão de Choque e foram acionados no início da tarde do 8 de janeiro, quando os extremistas começaram a forçar a invasão dos prédios dos Três Poderes. Eles relatam a postura violenta dos golpistas e uma série de agressões que teriam sido desferidas às forças policiais com "grave ameaça à vida". Além disso, a documentação indica, conforme o texto, novas suspeitas de irregularidades na atuação do Exército durante o ato golpista.

Segundo o UOL, um dos relatórios mais contundentes foi feito pelo então primeiro-sargento Beroaldo José de Freitas Júnior, que estava na defesa do Palácio do Planalto quando os golpistas forçavam a invasão do prédio. Beroaldo disse que os policiais militares pediram ajuda a um pelotão do Exército que estava equipado e de prontidão na área externa do Planalto, mas a resposta foi negativa.

Leia um trecho do relato de Beroaldo:

O Patamo Alfa combateu na defesa do Palácio do Planalto e na via N1; ficamos obrigados a recuar mesmo contra nossa doutrina, pois fomos superados de forma desproporcional ao efetivo empregado, que era de 10 escudeiros, 02 atiradores e 03 operadores químicos. Durante o recuo nos aproximamos da guarita do Palácio do Planalto, onde um pelotão do Exército Brasileiro encontrava-se pronto e equipado; solicitei ajuda dos mesmos para nos auxiliar contra a turba, mas recebi a seguinte resposta 'não podemos atuar', insisti para que pelo menos abrisse a grade/portão de acesso para que o Pelotão de Choque pudesse se abrigar ali e diminuir, mesmo que de forma precária, o ataque ferrenho que enfrentávamos, e, novamente, recebi como resposta que não podiam nos ajudar".

Ainda no documento que o UOL teve acesso, Beroaldo conta que, diante da recusa do Batalhão de Guarda Presidencial em ajudar na contenção dos manifestantes, ele mesmo chutou um trecho da grade de proteção do Palácio do Planalto para entrar no seu território e abrigar a tropa de choque lá, formando uma linha de defesa em conjunto com os militares do Exército. Segundo Beroaldo, já na área interna do Palácio do Planalto, "onde reorganizamos a tropa e nos salvamos de um massacre certo, com essa atitude, forçamos o Exército a combater os vândalos também".

O confronto se intensificou, novamente, por volta das 15h30, momento em que nos cercaram no Palácio do Planalto: o Exército brasileiro acabara por abandonar a linha que anteriormente fizera ao lado do Patamo, uma vez que se afastaram para a retaguarda da tropa devido ao gás lacrimogêneo, por duas vezes isso ocorreu - diante do desespero que tomou conta da tropa do Exército - momento em que fui compelido a tomar algumas atitudes para o oficial à frente da tropa do Exército e falei em alta voz para que comandasse sua tropa e parasse de 'frouxura'. Reconheço que fora uma medida extrema, a fim de que essa incoerente apatia do oficial do Exército não contaminasse nossa tropa e fôssemos dominados pelo medo e desespero, o que resultaria consequências devastadoras e derrota certa".

Prisões

Também nos arquivos que o UOL teve acesso, os policiais militares relatam que, após efetivarem a prisão de golpistas que ocupavam os prédios dos Três Poderes, seguiram para o quartel-general do Exército com o objetivo de efetuar prisões de manifestantes golpistas que estavam no local ainda no dia 8 de janeiro. No entanto, a versão de diversos policiais é de que a ação policial foi barrada por ordem da cúpula do Exército, que chegou a posicionar veículos blindados na entrada do quartel-general.

"As operações não puderam prosseguir devido à oposição do Exército Brasileiro, que posicionou blindados no local", relatou o segundo-tenente Marco Aurélio Feitosa, responsável por comandar a tropa de choque do grupo Patamo Alfa durante a dispersão na Esplanada dos Ministérios.

Ainda conforme o depoimento de Feitosa, o comandante do Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), tenente-coronel do Exército Jorge Fernandes da Hora, tentou impedir a prisão dos invasores no Palácio do Planalto após a tropa de choque ter retomado o território.

Logo depois, segundo seu relato, Feitosa afirmou ao oficial do Exército que "ninguém sairia do prédio, pois todos estavam presos e havia ordens expressas de oficiais superiores do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), além de ordens do próprio ministro do GSI, para que os vândalos fossem todos detidos".

Denúncia contra Feitosa

Feitosa foi denunciado pelo Ministério Público do Distrito Federal e Territórios por lesão corporal. O tenente teria dado uma rasteira em uma invasora, identificada como Danyele Krysty, do Palácio do Planalto no dia 8 de janeiro.

Danyele foi presa na ocasião e posteriormente denunciada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) sob acusação de crimes como tentativa de abolição violenta do estado democrático de direito e outros.

Em seu depoimento à Corregedoria, Marco Aurélio Feitosa afirmou que os ânimos estavam "extremamente exaltados" no Palácio do Planalto no momento da prisão dos invasores e que a rasteira aplicada em Danyely se inseriu nesse contexto.

Classificação Indicativa: Livre

FacebookTwitterWhatsApp