Política

"O povo negro nunca viveu democracia nesse país", diz jurista

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Promotora Lívia Sant'Anna Vaz participou nesta quinta-feira (9) do programa Tela Preta, do BNEWS  |   Bnews - Divulgação Reprodução / Youtube
Davi Lemos

por Davi Lemos

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Publicado em 10/11/2023, às 05h25


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A promotora Lívia Sant'Anna Vaz, ao refletir sobre a condição do negro na sociedade brasileira afirmou: "Nós nunca vivemos democracia nesse país, o povo negro. Só se a gente quiser pensar lá em Palmares: mais de um século de negros nascidos livres em pleno regime escravocrata. Mas no Brasil, efetivamente, desde que o Brasil é República, nós nunca vivenciamos democracia". A declaração ocorreu nesta quinta-feira (9), durante participação da promotora de Justiça do Ministério Público do Estado da Bahia e jurista no programa Tela Preta, do BNEWS.

"O que há é uma democracia de semelhantes; nós não estamos dentro, nós não fazemos parte. Isso é algo completamente antidemocrático", destacou Lívia Vaz. Ela pontua que esta realidade também é refletida no modus operandi do sistema judiciário. "O sistema de Justiça, em si, ele não tem a cara do povo, ele não conhece o povo, ele não julga para o povo, nem com o povo; tenho dito que, na verdade, não é nem para construir política pública e promover justiça para as pessoas; é com as pessoas. Porque esse olhar 'construir para' é um olhar colonial, de quem olha cima para baixo", argumentou.

Ela critica também a imagem que personifica a justiça, a deusa Temis, da mitologia grega. "Quando você falou aí da Justiça de Oyá, na representação de Oyá, a justiça é tão branca no Brasil, temos um pensamento tão colonial que a própria representação imagética da justiça é uma mulher branca, de olhos vendados da mitologia grega. Fico me perguntando o que a história da Grécia tem a ver com a nossa história do Brasil e porque que nossa contribuição afrodiaspórica, afro-indígena não se conta, não se leva em consideração", considerou.

A promotora Lívia Sant'Anna Vaz então destaca a importância de haver uma mulher negra como representação da Justiça. "Por isso essa importância mesmo de pensarmos uma mulher negra como justiça, de olhos abertos, atentos, uma justiça de olhos vendados só vai ter a capacidade de manter as coisas como estão. [E] para nós as coisas não estão boas", declarou.

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