Política

PFL baiano recebeu propina em compra de máquina para refinaria, diz Delcídio

Publicado em 15/03/2016, às 13h04   Aparecido Silva e Rodrigo Daniel Silva


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Em sua delação premiada, já homologada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), o senador Delcídio do Amaral (PT-MS) revelou que o PFL baiano, hoje Democratas, recebeu propina de um acordo que havia sido previamente estipulado entre nove e dez milhões de dólares (equivalente a quase R$ 40 milhões hoje) em propina na aquisição de máquinas da Alstom. No entanto, o parlamentar não soube confirmar o valor exato pago aos pefelistas. A operação foi realizada na gestão do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e o então governador da Bahia, César Borges, na época PFL, aliado do ex-senador Antônio Carlos Magalhães (ACM).

O Bocão News teve acesso ao depoimento do senador petista, que foi diretor de Gás e Energia entre 2000 e 2001. O parlamentar destaca, entre as compras junto à Alstom, a máquina GT24 que foi para a refinaria Landulpho Alves, sendo que o equipamento era de especial interesse do PFL da Bahia. Delcídio relatou que o contrato da Termo Bahia (OAS/Alstom) foi assinado, às pressas, na véspera de sua posse na Petrobras, por razões envolvendo interesses específicos de políticos baianos, que tinha como seu principal representante o então ministro de Minas e Energia, Rodolpho Tourinho, um dos aliados mais importantes do ex-senador ACM.

Delcídio do Amaral conta que no governo de Fernando Henrique Cardoso foi implementado um projeto que visava o racionamento de energia, denominado de Programa Prioritário de Termoelétricas (PPT), que foi criado para gerar 800mw. O plano foi encerrado assim que alcançou o limite. Para implantação do referido programa, a máquina GT24 foi adquirida para atender as necessidades da Refinaria Landulfo Alves, em São Francisco do Conde, no Recôncavo baiano. O equipamento apresentou uma “série de defeitos” e foi adquirido um dia antes de assumir a diretoria na estatal. O petista afirma ainda aquisição foi feita pela presidência da Petrobras e que o PFL baiano tinha interesse nessa compra. O dirigente da estatal na época era Henri Reichstul.

Conforme Delcídio, o “projeto foi todo articulado pela OAS que também é baiana e tinha laços fortes com o governo da Bahia”. “Todos os sinais eram claros de que havia ocorrido pagamento de propina na aquisição dessa usina”. O então diretor da OAS, Carlos Laranjeira, confirmou para Delcídio que existia interesse do PFL na aquisição das máquinas, e que, segundo ele, de 9 a 10 milhões de dólares foram separados para propina. Apesar de indicar o valor com recursos ilegais, Delcídio disse não saber o percentual desse valor que foi repassado ao PFL, mas acredita que “grande parte desse montante foi para o mencionado partido”.

Ainda em sua delação, o congressista diz que o ex-diretor de Área Internacional da Petrobras, Nestor Cerveró, participou dessa contratação porque era o gerente da área. “Como o declarante era de fora, praticamente teve que herdar um corpo técnico advindo de outras diretorias da Petrobras, casos de Landim, Graça e Cerveró”, mencionou. O ex-líder do governo no Senado diz acreditar ainda que pessoas da Petrobras teriam recebido propina da compra da máquina para a refinaria baiana junto à Alstom.

Ainda segundo Delcídio, o projeto de aquisição da máquina GT24 teria nascido no Ministério de Minas e Energia, comandada na época por Rodolfo Tourinho, falecido em maio de 2015, então aliado de ACM. Conforme ele, na contratação da GT24 o ministério agiu em “consonância” com a Petrobras e que o próprio ministro negociou os recursos com o BIRD. Delcídio disse que estranhou o fato do ministro ter se empenhando tanto pelo projeto. Segundo ele, não “era usual” e por isso andou com uma “velocidade incomum”. De acordo com Delcídio do Amaral, o então vice-presidente da Alstom, José Reis, participou da contratação da GT4. O petista não soube dizer, no entanto, o nível da participação do representante.

Democratas

Presidente do Democratas na Bahia atualmente, o deputado federal José Carlos Aleluia disse que não há temeridade no partido com a delação do senador petista e ressalta que os beneficiados devem ser identificados. “Ele [Delcídio] tem que dizer o nome de quem recebeu no PFL. Pode ser que até já tenha sido expulso do partido. Agora, o partido não pode se defender sem saber onde isso ocorreu. Conheço Delcídio há muitos anos e nunca tratamos de acordo nenhum”, se defendeu.

"O César Borges é um homem honesto e foi retirado do Ministério dos Transportes porque não roubou e não aceitou que roubassem. Rodolfo Tourinho é outro homem de bem. Não há temeridade quanto a isso”, minimizou.

A reportagem tentou localizar o ex-governador César Borges, mas não obteve êxito.

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