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Políticos acusam Bolsonaro de propagar símbolo nazista de supremacia branca ao beber copo de leite; presidente nega

Imagem Políticos acusam Bolsonaro de propagar símbolo nazista de supremacia branca ao beber copo de leite; presidente nega
"Desafio do Copo de Leite" foi lançado pela Associação Brasileira dos Produtores de Leite  |   Bnews - Divulgação

Publicado em 30/05/2020, às 19h35   Henrique Brinco


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Um gesto de Jair Bolsonaro em uma live nesta semana está gerando controvérsia nas redes sociais. O presidente e a ministra da Agricultura, Tereza Cristina, participaram do “Desafio do Leite”, lançado pela Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite). Opositores do presidente, no entanto, enxergaram a participação do chefe do Palácio do Planalto na "brincadeira" como um aceno velado à grupos nazistas de supremacia branca. O blogueiro Allan do Santos, um dos alvos da Polícia Federal na operação de combate contra as fake news, também fez o gesto. Defensores do governo também estão compartilhando fotos e emoticons de copos de leite em seus perfis nas redes.

Uma das vozes mais expoentes que levantou a polêmica foi o ex-ministro Fernando Haddad (PT). Ele enfrentou Bolsonaro no segundo turno da campanha eleitoral de 2018. "O menino João Pedro, baleado pelas costas; George Floyd, asfixiado. Bolsonaro tomando leitinho com Allan dos Santos para brindar supremacistas brancos. Sinto asco", escreveu. Bolsonaro, por sua vez, compartilhou a postagem do petista, classificando-a como "fake news".

Após o gesto de Bolsonaro, aliados governistas passaram a incluir um emoticon de copo de leite em seus nomes nos perfis das redes sociais. O deputado estadual de São Paulo e youtuber Arthur do Val (DEM), integrante do MBL, ironizou o caso: "Quão otário é o sujeito que coloca no perfil a bandeira de Israel com um copo de leite?", questionou, em referência a perseguição de judeus pelo regime nazista alemão.

O assessor legislativo da liderança do Cidadania no Senado Federal do Brasil, Eliseu Neto, opositor de Bolsonaro, afirmou que o símbolo trata-se de um "dog whistle" (apito de cachorro, em inglês), uma mensagem em código direcionada especialmente para um subgrupo ativo que não é entendida pela maioria da população. A analogia da expressão é feita pois a frequências do apito de cachorro se situam acima da capacidade de audição humana, mas podem ser ouvidas pelos cães. "Se alguém tinha dúvidas que o leite era Dog Whistle. Tá aí. Nunca duvidem  da crueldade dessa corja", escreveu ao compartilhar o vídeo de Allan do Santos.

O presidente nacional do Cidadania, Roberto Freire, comentou o caso ao responder o comentário de uma internauta: "Supremacista branco no Brasil, imitação barata da extrema direita norte-americana, é dose de monumental brutalidade racista".

O deputado federal Eduardo Bolsonaro, filho do presidente, usou as redes sociais para debochar dos comentários. O parlamentar compartilhou o trecho de uma propaganda de leite protagonizada pelo casal de atores negros Taís Araújo e Lázaro Ramos para rebater as acusações de apologia ao racismo sofridas pelo pai.

O símbolo entre grupos extremistas

O antropólogo e professor no Departamento de Estudos de Mídia na Universidade da Virgínia, David Nemer, foi ao Twitter e lembrou que o ato de beber leite também é utilizado pelo grupo extremista de supremacia branca americana Alt Right. "Nacionalistas brancos fazem manifestações bebendo leite para chamar a atenção para um traço genético conhecido por ser mais comum em pessoas brancas do que em outros - a capacidade de digerir lactose quando adultos", explicou. "É uma tentativa racista para se embasar em 'ciência' para diferenciar e justificar a 'raça branca'. Mas como já provado e explicado por toda ciência: Não há evidência genética para apoiar qualquer ideologia racista. O que há, é na verdade, um governo tosco e motivado pelo ódio", completou o professor.

Nemer afirma ainda que "o símbolo do copo de leite foi apropriado por uma facção das redes bolsonaristas, que são channers". "Esse pessoal gosta da confusão que o meme gera com a simbologia nazista e se refestelam com a notoriedade que recebem da mídia. Essa fação é do Leon Leitadas", acusou o especialista. 

A doutora em antropologia social pela Unicamp (Universidade Estadual de Campinas), Adriana Dias, falou em entrevista à revista Fórum que há uma referência clara entre o episódio e o neonazismo. "O leite é o tempo todo referência neonazi. Tomar branco, se tornar branco. Ele vai dizer que não é, que é pelo desafio, mas é um jogo de cena, como eles sempre fazem".

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