Política

Moro critica ataques à Lava Jato, e Bolsonaro diz ter hoje um ministro 'muito melhor' na Justiça

Carolina Antunes/PR
Bolsonaro tem sido criticado, inclusive por ex-aliados, por tomar decisões que contrariam os defensores da Operação  |   Bnews - Divulgação Carolina Antunes/PR

Publicado em 08/10/2020, às 15h54   Folhapress


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Horas depois de o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) ter afirmado que a Lava Jato acabou, o ex-ministro da Justiça Sergio Moro disse na noite de quarta-feira (7) que tentativas de interromper a operação "representam a volta da corrupção".

"As tentativas de acabar com a Lava Jato representam a volta da corrupção. É o triunfo da velha política e dos esquemas que destroem o Brasil e fragilizam a economia e a democracia. Esse filme é conhecido. Valerá a pena se transformar em uma criatura do pântano pelo poder?", escreveu nas redes sociais o ex-ministro, que, enquanto juiz da 13ª Vara Federal de Curitiba,​ proferiu algumas das decisões mais conhecidas da operação.

Moro, que deixou o governo rompido com Bolsonaro, acusando-o de tentar interferir na independência da Polícia Federal, respondeu a uma declaração feita pelo presidente na quarta-feira.

Em uma cerimônia sobre medidas de desburocratização do setor aéreo, Bolsonaro disse que a Lava Jato acabou porque, segundo ele, "não tem mais corrupção no governo".

"Eu desconheço lobby para criar dificuldade e vender facilidade, não existe. É um orgulho, uma satisfação que eu tenho dizer a essa imprensa maravilhosa nossa que eu não quero acabar com a Lava Jato. Eu acabei com a Lava Jato porque não tem mais corrupção no governo. Eu sei que isso não é virtude, é obrigação", afirmou Bolsonaro.

Bolsonaro tem sido criticado, inclusive por ex-aliados, por tomar decisões que contrariam os defensores do conjunto de operações e investigações iniciadas em 2014.

Entre elas, a nomeação de Kassio Nunes para o STF (Supremo Tribunal Federal), um juiz tido como garantista (ou seja, que dá mais atenção aos argumentos dos acusados). ​O núcleo garantista no Supremo costuma impor derrotas à Lava Jato.

Além do mais, Bolsonaro adotou nos últimos meses um tom mais pragmático e tem priorizado uma boa relação tanto com o Judiciário quanto com o Congresso Nacional, em contraposição ao discurso crítico da chamada velha política que marcou sua campanha eleitoral.​


Na manhã desta quinta-feira (8), Bolsonaro fez novas críticas a Moro, desta vez durante cerimônia de encerramento do curso de formação profissional de agentes da Polícia Federal.

"Temos um compromisso de combate à corrupção. Eu tenho colaborado com a Polícia Federal, ajudando ao escolher ministros não por critério político ou por apadrinhamentos, mas por critério de competência, como temos o ministro da Justiça André Mendonça. Me desculpem, muito, mas muito melhor do que outro [Moro] que nos deixou há pouco tempo. A prova está aí: recorde de apreensão de drogas, de recursos e de prisões de bandidos, entre outros", afirmou o presidente. "Eu não tenho dado motivo para a Polícia Federal ir atrás dos meus ministros, diferentemente do que acontecia no passado", completou.

Também na manhã desta quinta, Moro fez outra publicação nas redes sociais para defender a operação Lava Jato. "Importante iniciativa do STF de levar ao plenário os inquéritos e ações penais. Essa mudança dará mais homogeneidade às decisões da Corte", escreveu.

No dia anterior, o STF decidiu que as ações criminais em curso na corte voltarão a ser julgadas pelo plenário do tribunal. Assim, a análise dos processos da Lava Jato sairão da Segunda Turma, que tem imposto sucessivas derrotas à operação.

O ministro Luiz Fux é um defensor da operação, e esta foi a primeira vitória dele na presidência do Supremo contra a ala da corte que critica os métodos da Lava Jato.

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