Política

"Se há um grupo mais identitário que homens brancos no Brasil eu desconheço", diz promotora

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Lívia Sant'Anna Vaz, jurista e promotora do MP-BA, tem o nome citado para ocupar cadeira no Supremo  |   Bnews - Divulgação Reprodução / Youtube
Davi Lemos

por Davi Lemos

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Publicado em 09/11/2023, às 19h55


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"Se há um grupo mais identitário que homens brancos no Brasil eu desconheço". A fala em destaque é da jurista e promotora de Justiça do Ministério Público do Estado da Bahia, Lívia Sant'Anna Vaz, que, em participação no programa Tela Preta, no BNews, refletia sobre a maneira como o nome dela surgiu como possível indicada para ser a primeira mulher negra a assumir uma cadeira no Supremo Tribunal Federal após 132 anos de criação da instituição. A jurista falava sobre como a maioria das cadeiras em tribunais superiores é ocupada por homens brancos.

"Eles é que estão historicamente no poder e sempre se acolhendo, sempre se beneficiando e se mantendo. Então esse privilégio branco ... não sei como é que a gente consegue romper esse pacto não, porque a gente não faz parte, a gente não está nesse lugar para romper esse pacto de fora", analisou a promotora de Justiça. Ela aponta que isto influi na força de fazer justiça no Brasil. "É fundamental pensar na diversidade no sistema de justiça; em todos os espaços, por óbvio, mas numa diversidade com equidade porque isso muda a forma de construir justiça. Eu digo que hoje nós temos unicamente visões unilaterais do que seja liberdade, do que seja igualdade, do que seja democracia", pontuou.

Lívia Sant'Anna Vaz tece, entretanto, críticas à forma como se utiliza o termo "identitário" ao se tratar das questões raciais. "Quando a gente fala na pauta - não gosto nem desse nome por causa da forma pejorativa com que se tem colocado a igualdade no Brasil. Igualdade de raça, de gênero, regional. Se diz que é uma pauta identitária. Por que que a nossa pauta é uma pauta identitária e a pauta dos brancos não é identitária?", questionou.

Ela então concluiu: "Porque branco também tem cor, também tem raça, também tem gênero e não é à toa que os tribunais superiores são ocupados quase que exclusivamente por homens brancos. Então nós estamos falando de identidade, sim. Se há um grupo mais identitário que homens brancos no Brasil eu desconheço".

A promotora de Justiça entende que a realidade de racismo, sexismo e discriminação com o Nordeste acabaram impulsionando o nome dela para ocupar uma cadeira na Suprema Corte. "Tudo isso me colocou em um lugar onde eu nunca iria me imaginar. Jamais me imaginei ocupando uma cadeira no Supremo Tribunal Federal. Esse impulsionamento só surgiu por questionamento a mim dos movimentos sociais. Mas espera aí: 132 anos de STF no Brasil. Nós nunca tivemos uma mulher negra naquele lugar. Vamos defender uma jurista negra para ocupar esse espaço? Por que não você? Quem é essa jurista negra? Tem que ter nome, tem que ter rosto, trajetória", declarou.

Mas Lívia Vaz ressalvou: "não é qualquer pessoa negra não. A gente tem que pensar que, na polarização política que a gente está vivendo hoje, a gente precisa de uma reorientação democrática das instituições e da sociedade".

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