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Em última entrevista ao BNews, Gaudenzi afirmou: "Hegemonia da Bahia será muito difícil de ser recuperada"

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Sempre ácido, Gaudenzi lamentou a crise no turismo instalada na Bahia nos últimos anos  |   Bnews - Divulgação Arquivo

Publicado em 04/02/2019, às 19h48   Henrique Brinco


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O ex-secretário de Cultura e Turismo do Estado, Paulo Gaudenzi, morreu nesta segunda-feira (4). Ele estava internado há alguns dias no Hospital Português. Gaudenzi era umas referências nacionais de turismo e foi entrevistado pelo BNews em dezembro de 2018 para a série de reportagens "Turismo em Crise", lançado em janeiro pelo portal. O material estava previsto para ser publicado nos próximos dias.
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Sempre ácido, Gaudenzi lamentou a crise no turismo instalada na Bahia nos últimos anos. "A Bahia viveu crescendo no turismo nas últimas três décadas. Infelizmente, o que era prioridade deixou de ser", destacou. Segundo ele, a Bahia "ainda é, em todo o Brasil, o estado que mais oferece produtos turísticos". "Isso é resultado de uma política feita no passado e que dá resultados até hoje. Agora, nós já perdemos nos voos e vamos começando a perder numa série de outras coisas. Quando é que vai ser recuperado isso? Não sei".
O ex-secretário também afirmou que "a hegemonia da Bahia será muito difícil de ser recuperada nos próximos anos".
Leia na íntegra:
BNews - O que está causando o fechamento dos hotéis: falta de vontade política ou de capacidade de gestão?
Paulo Gaudenzi - A Bahia viveu crescendo no turismo nas últimas três décadas. Infelizmente, o que era prioridade deixou de ser. Só dou um exemplo: o que aconteceu com o Centro de Convenções. Esse é o exemplo mais interessante e visível da falta de prioridade dada ao turismo. E chegou ao que chegou. Então, isso mostra exatamente que, se deixa de ser prioridade, as coisas começam a acontecer em dificuldades. Tudo isso associada a grande crise que o Brasil passou nos últimos dois anos. Esse é o resultado do que aconteceu com o turismo na Bahia. Quanto mais alto você está, mais alta é a queda. Quando cai, você sente mais.
BNews - Isso explica a crise no turismo?
Outras coisas que foram ruins para o turismo na Bahia foi a não visão do governo atual de não diminuir o ICMS do combustível de aviação. Isso fez com que muitas empresas fossem procurar outros aeroportos no Nordeste para se instalarem com seus centros de distribuição de voos. E você sabe que o turismo é feito muito através da aviação. Se você vai reduzindo voos, como a Bahia reduziu, isso vai ter um efeito mais adiante. Isso também prejudicou muito a atividade do turismo, principalmente em Salvador. E a cidade também passou um período completamente abandonada do ponto de vista dos pontos turísticos, da limpeza. E, associado a tudo isso, tem a história da Bahia estar nas listas principais de insegurança. Então, tudo isso junto levou a essas coisas que estamos vivendo hoje.
BNews - Salvador saiu do hub das empresas de aviação. Por que isso aconteceu?
Paulo Gaudenzi - Perdemos aqui o hub da Azul e perdemos também o da Gol. O da Gol, inclusive, nós chegamos atrasados. Quando o governo resolveu diminuir o ICMS do querosene, nós chegamos atrasados. Para você ter uma ideia, o aeroporto de Salvador, até 2012, ainda era o terceiro maior aeroporto do Brasil em fluxo de passageiros internacionais. Só ficava atrás de São Paulo e Rio de Janeiro. E era o quinto em movimento geral de passageiros, nacionais e internacionais. Hoje nós somos o sexto em movimento internacional e o décimo em movimento geral. Então, isso tudo vai juntando e acumulando perdas. Até 2016, o aeroporto de Salvador, que tem como maior concorrente o de Recife, nós tivemos 700 mil passageiros a mais que Recife. Em 2017, fechamos com 41 mil passageiros a menos que Recife. E esse ano vai aumentar ainda mais a diferença. Outra coisa na área de voos é que a Bahia, que sempre foi o terceiro maior aeroporto internacional, perdeu muitos voos. Hoje Recife tem mais voos internacionais do que nós. E Fortaleza mais ainda, que se estabiliza como um aeroporto forte dentro do Nordeste. Vamos para o terceiro lugar em breve.
BNews - O senhor acha que a Bahia vai recuperar essa posição de liderança no Nordeste? Se sim, em quanto tempo?
Paulo Gaudenzi - A Bahia ainda é a primeira do Nordeste em número de visitantes. A nossa diferença já era tão grande para Pernambuco que a gente, mesmo com todas as pernas, ainda estamos na frente de Pernambuco. E por um motivo simples: a Bahia tem muitos produtos a venda no mercado de turismo. A Bahia tem Salvador, Ilhéus, Porto Seguro, a Praia do Forte, Morro de São Paulo, Itacaré... Então, esse conjunto todo formado é o que dá a Bahia muita força. A política de outrora foi muito sábia em criar os caminhos da Bahia, o que fortaleceu o nosso turismo. Quando você fala em Pernambuco, fala em Recife, Olinda e Porto de Galinhas. Quando você fala em Ceará, só fala em Fortaleza, Cambuci, Jericoacoara e Canoa Quebrada. Então, são poucos produtos em cada lugar. E a Bahia ainda é, em todo o Brasil, o estado que mais oferece produtos turísticos. Isso é resultado de uma política feita no passado e que dá resultados até hoje. Agora, nós já perdemos nos voos e vamos começando a perder numa série de outras coisas. Quando é que vai ser recuperado isso? Não sei. A hegemonia da Bahia será muito difícil de ser recuperada nos próximos anos.
BNews - Salvador recebe duras críticas do trade turístico por não sediar mais grandes congressos. Isso é só culpa da falta do Centro de Convenções?
Paulo Gaudenzi - O grande problema não foi só a falta do Centro de Convenções. O grande problema foi um episódio que as pessoas não querem se lembrar. Em novembro de 2013, durante um congresso de Ginecologia e Obstetrícia, aconteceu um episódio inusitado no Brasil. O Congresso já começou mal por falta de manutenção do Centro de Convenções. No segundo dia piorou, com quebras de mais escadas rolantes e elevadores. No terceiro dia, o congresso foi suspenso por falta de condições sanitárias. Isso nunca tinha acontecido no Brasil. Isso viralizou e virou uma notícia nacional.

Classificação Indicativa: Livre

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