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Vale esvazia bairro em área próxima a barragem em Minas Gerais

Pedro Ladeira / Folhapress
Cerca de 200 pessoas tiveram que deixar suas casas na comunidade de Macacos   |   Bnews - Divulgação Pedro Ladeira / Folhapress

Publicado em 16/02/2019, às 21h40   Folhapress


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Sirenes foram acionadas e cerca de 200 moradores estão sendo evacuados em Nova Lima, Minas Gerais, na noite deste sábado (16), segundo a Defesa Civil de Minas Gerais. Eles estão em áreas próximas a barragem da mina Mar Azul da Vale, com aproximadamente 3 milhões de metros cúbicos de rejeitos.

A decisão foi tomada após uma auditoria se negar a atestar a estabilidade da barragem, que está inativa, e ser acionado o nível 2 do Plano de Ação de Emergência de Barragens de Mineração (PAEBM) da Vale. O próximo, 3, seria o rompimento.

Segundo a mineradora, é uma medida preventiva, após ter sido feita uma revisão dos dados. A área evacuada abrange 49 casas, entre domicílios e comércios, na região de Macacos, a 25 quilômetros da capital mineira.

A educadora Tatiana Santana, que vive na comunidade, relatou à Folha o desespero de moradores após o acionamento das sirenes. Eles temem até mesmo usar uma estrada que liga o bairro à sede do município para sair da área afetada. Segundo ela, a estrada também estaria no caminho da lama, numa eventual ruptura da barragem.

O acesso principal à localidade de Macacos, pela BR-040, foi fechado. Segundo os Bombeiros, a área não está na zona da mancha, mas a medida impediria problemas de fluxo na entrada do local, medida padrão em evacuações.

Os moradores, que serão levados para hotéis próximos, já vivem uma rotina de medo. A Vale instalou, no final de 2018, seis sirenes de alertas e anunciou para junho próximo um simulado para esvaziar parte das casas.

O mesmo ocorreu em Córrego do Feijão, bairro na zona rural de Brumadinho destruído pela lama do reservatório rompido. No ano passado, a comunidade passou por um simulado feito pela Vale. A tragédia, no dia 25 de janeiro, deixou ao menos 166 mortos e 145 pessoas desaparecidas.

Macacos é um destino turístico importante na região metropolitana de Belo Horizonte, com opções de ciclismo, trilhas, cachoeira e vida noturna com bares e restaurantes de comida mineira.

Em novembro passado, numa reunião com moradores do vilarejo, que tem cerca de 5.000 moradores, a Vale reconheceu que há 252 moradias na "zona de mancha", expressão usada para determinar a área crítica no caso de uma ruptura da barragem.

Contudo, um dos engenheiros da mineradora, João Paulo Silva, afirmou na reunião, segundo a ata registrada, que todas as cinco barragens da região estão "seguras, bem projetadas, bem operadas e bem acompanhadas". 

Desde o rompimento em Brumadinho, essa é a terceira evacuação próxima a barragens em Minas. No dia 8 de fevereiro, as cidades Barão de Cocais, a 100 km de Belo Horizonte, e Itatiaiuçu, na região metropolitana, foram evacuadas diante do risco de novos incidentes com reservatórios. 

Em Barão de Cocais, que tem 32.319 habitantes, a Vale evacuou três comunidades, com cerca de 500 moradores —31 se recusaram a deixar as residências.

A determinação partiu da Agência Nacional de Mineração (ANM), após uma consultoria avaliar que a barragem Sul Superior da mina Gongo Soco não é estável. A Walm, empresa responsável pela avaliação, negou-se a atestar a estabilidade. 

Na classificação do órgão, a barragem tem o risco enquadrado como baixo e o dano potencial como alto —ambos iguais aos de Brumadinho. Trata-se de uma das dez barragens à montante inativas da Vale, que deverão ser desativadas.

Em Itatiaiuçu, que tem 11.037 habitantes, cerca de 150 moradores foram acordados por bombeiros e policiais militares por volta das 2h30. Os agentes passaram de casa em casa, por 54 residências, avisando sobre a evacuação com a sirene das viaturas ligadas.

O alerta foi dado após a mineradora ArcelorMittal informar às autorida des que a avaliação de risco da barragem de rejeitos de Serra Azul havia mudado do nível 1 para o 2. O sistema de sirenes da barragem não foi acionado. Ela está desativada desde 2012, tem 3,8 milhões de metros cúbicos de rejeitos de minério de ferro e 89 metros de altura.

Assim como a de Brumadinho e a da Vale em Barão de Cocais, também tem classificação de baixo risco de incidentes e alto dano potencial. Seu método construtivo também é à montante —é a única da empresa com esse modelo.

Classificação Indicativa: Livre

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