Salvador

Sem emprego, família cubana vende pão delícia em Salvador para trazer filha para o Brasil

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Casal vendeu tudo em Cuba mas o dinheiro não foi suficiente para trazer a filha mais velha  |   Bnews - Divulgação Reprodução

Publicado em 23/08/2020, às 13h35   Nilson Marinho


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Não foi fácil chegar à Bahia, mas seria muito mais difícil ter que continuar em Cuba, onde, quase todos os dias, Patrícia Girbeu e Fernando Ferrer optavam por alimentar os filhos ou dormir de barriga vazia — ficavam com a segunda opção.

O casal de cubanos, que mora em Salvador desde novembro do ano passado, escolheu o Brasil para ter uma nova vida pela “facilidade” em cruzar a fronteira. Já a capital baiana passou a ser uma opção desde que um conterrâneo enviou à ilha de Fidel notícias de que, em Salvador, havia muitas oportunidades. Para eles a história foi diferente. 

Sem um emprego formal desde a chegada, o casal conta com a solidariedade dos soteropolitanos e espera em breve realizar o maior sonho: trazer para o país a filha de 10 anos que ficou em Cuba sob os cuidados dos avós maternos. Para isso, Patrícia tenta juntar dinheiro com as vendas do pão delícia, iguaria baiana.

Crise

As crises econômicas estão marcadas na história de Cuba, mas, desde 2018, a ilha tem enfrentado uma escassez generalizada de alimentos e produtos básicos de higiene, agravada sobretudo pelos bloqueios econômicos e comerciais impostos pelo presidente americano Donald Trump.

Nos últimos meses, antes de decidir morar no Brasil, a família já sentia o reflexo dos embargos de Washington na mesa. Patrícia, que é formada em informática, trabalhava em uma cafeteria e vendia empanadas nas horas vagas. Já Fernando, psicólogo de formação, atuava em um centro desportivo atendendo um time de beisebol. Mesmo assim, o que ganhavam não era o suficiente para garantir a alimentação mensal. 

“Nós tínhamos nossa casa, tínhamos tudo, mas o dinheiro não dava para comprar roupas para os nossos filhos e comida para o mês. Nós comprávamos [comida] mas em uma semana já não tinha mais nada. Tudo ficava muito caro. Muitas filas e não tinha carne para todas as pessoas”, lembra Patrícia.

Partida

Para chegar ao Brasil, decidiram vender tudo. Com parte do que conseguiram, algo em torno de 7 mil doláres (R$ R$ 39 mil, de acordo com cotação deste domingo, 23), compraram as passagens aéreas até a Guiana, onde pagaram um coiote para cruzar a fronteira e chegar até ao destino conhecido pela maioria dos imigrantes que fogem de crises e perseguições políticas, Boa Vista, em Roraima. 

“De lá, pegamos um voo para Manaus e fizemos uma viagem de 12 horas até a cidade de Rolim Moura, em Rondônia, onde mora uma prima da minha mãe, mas a cidade é pequena, não tinha trabalho. Então, decidimos morar em Salvador. Como só tínhamos 1 mil doláres, não era o suficiente para pagar a viagem de avião do meu marido, minha e do meu filho de oito. Enfrentamos três dias e três noites de ônibus até chegar aqui”, lembra Patrícia. 

Na capital baiana, contou com ajuda de uma família que lhe deu um teto temporário. Hoje, eles moram de favor em uma casa no bairro da Saúde. Mas o tempo passou e não apareceu nenhuma proposta de emprego. Não demorou para a família se decepcionar com a falta de oportunidades. 

“Quando estávamos em Cuba falavam uma coisa, quando chegamos aqui foi outra. Muito diferente, chocante e eu não tinha mais dinheiro para voltar para Cuba. Apesar de tudo que estou passando agora, não me arrependo de ter vindo para o Brasil”, conta.

Os amigos brasileiros fizeram uma vakinha virtual. Com parte do que foi levantado, Patrícia pagou uma aula de culinária. Agora, acredita, tudo pode mudar a partir das vendas do pão delícia. Enquanto não consegue um emprego formal, o casal continua sonhando com o dia que mais uma cadeira será ocupada na mesa.  “Eu tenho fé. Eu acredito em mim. Eu só quero seguir adiante para trazer minha filha para o Brasil o quanto antes”, completou.

Como encomendar

Patrícia tem uma página no instagram (@patripan.paozinhodelicia) e as encomendas podem ser feitas pelo (71) 98149-4221. A unidade do pãozinho sem recheio é R$ 1, já o tamanho lanche sai por R$ 1,80. Com recheio tradicional é R$ 1,30, e o tamanho lanche R$ 2,50. Ela trabalha com diversos sabores. O pedido mínimo do tradicional é de 40 unidades e o tamanho lanche 10 unidades.  


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