Saúde

Vírus da febre amarela teve mutação inédita que pode ter provocado surto

Publicado em 16/05/2017, às 10h39   Folhapress


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Pesquisadores do Instituto Oswaldo Cruz descobriram que o vírus do último surto de febre amarela no país — o maior desde o início dos registros do Ministério da Saúde — tem uma sequência genética jamais vista.
Instigados pela extensão da última epidemia, eles fizeram o sequenciamento completo do genoma do vírus e encontraram oito mutações inéditas em algumas de suas sequências genéticas.
Dessas variações, sete têm impacto na formação de proteínas envolvidas na replicação viral, em um processo que permite que o vírus provoque a doença.
É possível que essa diferença genética seja um dos motivos do último surto de febre amarela, mas pesquisadores dizem que ele também pode ser explicado pelo fato de a população da região impactada (Minas Gerais, Espírito Santo, São Paulo e Rio de Janeiro, principalmente) ser pouco coberta pela vacina.
"Ainda não sabemos se esse vírus é predominante no atual surto. É preciso fazer novos estudos", diz Ricardo Ricardo Lourenço, chefe do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do Instituto Oswaldo Cruz.
O país já registrou 756 casos confirmados da doença em 2017, contra sete em todo o ano passado. Desses, 259 acabaram em morte até agora. Minas teve 65% das ocorrências, e o Espírito Santo, 31%. A febre amarela existente hoje no país é a de transmissão silvestre, que ocorre em áreas rurais e de mata.
Mesmo com a descoberta, a vacina adotada atualmente continua valendo, dizem os cientistas. Isso porque essas mudanças não afetam as proteínas do envelope do vírus, que são centrais para a eficácia da imunização.
Novos estudos são necessários para mensurar o impacto dessa descoberta para a saúde pública. Constatar essas variações foi o primeiro passo.
"Agora, precisamos estudar o vírus em laboratório para entender se ele é, de fato, mais agressivo para humanos, animais e vetores [mosquitos]", afirma Myrna Bonaldo, chefe dos laboratórios de Biologia Molecular de Flavivírus e de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do Instituto Oswaldo Cruz.
Os pesquisadores também querem saber quando essas alterações ocorreram e como o vírus se espalhou. Para isso, querem comparar amostras atuais e antigas — o último sequenciamento genético fora feito em 2010, na Venezuela.
A descoberta foi feita com base em amostras de mosquitos e de dois macacos do ES, mortos em fevereiro, e de um do RJ. Agora, os cientistas querem coletar amostras de humanos, macacos e mosquitos de outros Estados do país.
O estudo foi realizado por pesquisadores do Laboratório de Biologia Molecular de Flavivírus e do Laboratório de Mosquitos Transmissores de Hematozoários do Instituto Oswaldo Cruz. Os resultados foram divulgados na revista Memórias do Instituto Oswaldo Cruz.

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