Saúde

“A Prefeitura enviou um convênio autoritário”, diz Aristides Filho

Publicado em 01/03/2012, às 06h53   Juliana Rodrigues


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O Hospital Aristides Maltez pode fechar suas portas, após completar sessenta anos de atendimento a cancerosos carentes do Estado da Bahia. O que parecia ser um problema financeiro, já que a Secretaria Municipal de Saúde acumula um débito em pouco mais 13 milhões de reais, tornou-se um caso de “sensibilidade” e “esperteza política” na opinião do presidente da diretoria da Liga Baiana contra o Câncer, Aristides Maltez Filho.

Em entrevista ao Bocão News, ele explicou a problemática da verba e o porquê da sua afirmação. “O acordo assinado em 1º de janeiro de 2011 com a Prefeitura foi encerrado no último dia 31, só que nesse período não houve nenhuma revisão do valor repassado para o hospital e eles sabem da necessidade de aumentar a verba”, declarou.

Questionado sobre a assinatura do novo convênio, que prevê a liberação de uma verba mensal no valor de R$ 6.293.54, o qual recusou assinar, Aristides Filho disparou. “A Prefeitura é muito esperta, ela oferece pouco recurso e nenhuma flexibilidade porque sabe que o hospital vai atender muito mais paciente do que o previsto, chegando ao que eles chamam de extra teto (o que está fora do acordo). A Prefeitura enviou um convênio autoritário”, disse.

Para manter a unidade hospitalar e pagar as despesas básicas é necessária a quantia de R$ 7.6 milhões ao mês. Em tom de desabafo, o presidente ressaltou a importância de rever os acordos do novo convênio. “Se eu assinar o novo contrato, em 30 ou 60 dias vamos voltar a viver o que estamos passando agora. Se assinar eu não terei moral para contestar. O hospital está tentando não ter a moral abalada. Estamos tratando de vidas”. Além do governo, o hospital Aristides Maltez vive de doações, que só no ano passado arrecadou R$ 4 milhões. “Não quero e não vou substituir a obrigação do governo, para que a sociedade civil assuma algo que não é seu dever”, afirmou.

A equipe de reportagem do Bocão News andou pelos corredores lotados do hospital, que atende nos ambulatórios três mil doentes da capital e interior por dia, eevidenciou a vulnerabilidade de crianças, homens, mulheres e idosos que dependem do tratamento gratuito oferecido pela unidade. É o caso de Iracema Pereira Barros, 45, moradora da cidade de Juazeiro, que teve o diagnostico de câncer no colo de útero há três meses. Ainda em recuperação da cirurgia para retirada do tumor, Iracema vê o hospital como sua fonte de esperança. “Se fechar coitado de nós, dependo daqui para me tratar. Acabando isso aqui, minhas esperanças também acabam”.

Um pouco distante do ambulatório de atendimento, na parte de oncologia pediátrica, Gildo da Silva Santiago, 18 anos, mostra com um riso tímido, que nem mesmo os três anos de tratamento e o braço esquerdo amputado pela doença desanimam sua luta diária. “A gente luta pra ficar bom, é daqui que a gente precisa, é aqui que sobrevivemos. Se fechar a doença vai agravar”, concluiu.


Fotos: Gilberto Júnior//Bocão News

Matéria postada originalmente no dia 29/02/2012 às 12h53

Classificação Indicativa: Livre

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