Religião

Mãe Menininha faria 126 anos nesta segunda-feira; veja história da Iyalorixá

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Filha de Oxum morreu em 13 de agosto de 1986, aos 92 anos  |   Bnews - Divulgação Reprodução

Publicado em 10/02/2020, às 11h33   Yasmin Garrido


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A estrela mais linda, o sol mais brilhante, a beleza do mundo e a mão da doçura. Assim era conhecida Mãe Menininha, Iyalorixá filha de Oxum e que esteve à frente do Terreiro do Gantois entre 1922 até o dia da morte, em 13 de agosto de 1986. Se viva fosse, ela completaria 126 anos, nesta segunda-feira (10).

Nascida Maria Escolástica, em Salvador, o batismo como Mãe Meninha aconteceu ainda na infância, quando foi escolhida para ser Iyalorixá do terreiro Ilê Iyá Omi Axé Iyamassê. Aos 8 anos, a iniciação ao Candomblé teve início e ela já começara a ser preparada para assumir o lugar de Mãe Pulchéria no Gantois.

Como o dia da sucessão chegou antes da hora, em decorrência da morte precoce de Mãe Pulchéria, enquanto a jovem se preparava para assumir o cargo, o Gantois ficou sob a responsabilidade da mãe biológica, Maria da Glória Nazareth.

Mãe Menininha foi a quarta Iyalorixá do Terreiro do Gantois e a mais famosa de todas as brasileiras que ocupam tal posição, sendo sucedida pela filha, Mãe Cleusa Millet, que morreu em 16 de outubro de 1998. Atualmente, o Gantois está sob o comando de Mãe Carmen, a caçula de Mãe Menininha.

Homenagens
Letra de inúmeras músicas brasileiras, tema de desfile de escola de samba, Mãe Menininha vive na memória e na fé de baianos e de todos os devotos do Candomblé. Os versos mais comuns, que abriram esta matéria, de autoria de Dorival Caymmi, foram imortalizados na voz de Maria Bethânia.

Em 1976, filha de Oxum foi homenageada pela Escola de Samba carioca Mocidade Independente de Padre Miguel, com o enredo "Mãe Menininha do Gantois", do carnavalesco Arlindo Rodrigues, com samba interpretado pela cantora Elza Soares e o puxador Ney Vianna. Em 2017, no carnaval paulista, a Vai-Vai homenageou Mãe Menininha com o enredo No Xirê do Anhembi, a Oxum mais bonita surgiu. A escola terminou a disputa em terceiro lugar.

Entre as homenagens que ela mais gostava está a dos Filhos de Gandhy, que deu à Iyalorixá o título de madrinha do afoxé. Já em 1994, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos lançou um selo comemorativo para marcar o centenário de seu nascimento.

Além do escritor Jorge Amado, Mãe Menininha aconselhava outras personalidades, como Jorge Amado, Antônio Carlos Magalhães, Vinícius de Moraes, Maria Bethânia e Caetano Veloso.

Resistência
Símbolo de luta pela aceitação do Candomblé pela cultura dominante, Mãe Menininha abriu as portas do Gantois aos brancos e católicos e nunca deixou de assistir às celebrações de missa, além de convencer bispos baianos a permitirem a entrada de mulheres, inclusive ela, vestidas com as roupas tradicionais das religiões de matriz africana nas igrejas.

Para o historiador Jaime Sodré, a força feminina da liderança de Mãe Menininha foi, inicialmente, renegada pela sociedade, sendo alvo de intolerância. “O candomblé sofreu uma forte discriminação de outros grupos, grupos inclusive considerados brancos. Haja vista que ela foi uma grande lutadora para liberar o Candomblé da perseguição policial”, declarou.

Jorge Amado, no romance-documentário Bahia de Todos os Santos, de 1944, definiu a Iyalorixá: “Mãe Menininha está acima de toda e qualquer divergência de ordem política, econômica ou religiosa. É a ialorixá de todo o povo da Bahia, sua mão se estende protetora sobre a cidade. Não se trata nem de misticismo nem de folclore e sim de uma realidade do mistério baiano”.

Neste dia 10 de fevereiro, todo povo de axé reverencia Mãe Menininha do Gantois. A “estrela mais linda” é lembrada pela bondade e dedicação, principalmente em relação à aceitação e desmistificação do Candomblé.

Classificação Indicativa: Livre

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