Salvador

Apesar de congestionamentos terem diminuído, metrô de Salvador ainda peca na integração

Divulgação/ CCR Metrô
Assista ao vídeo em que os usuários opinam sobre os transportes públicos e especialistas da área esclarecem as questões levantadas   |   Bnews - Divulgação Divulgação/ CCR Metrô

Publicado em 06/08/2018, às 16h51   Shizue Miyazono e Yasmim Barreto



Como toda grande capital brasileira, Salvador sofre com os problemas de mobilidade urbana. Durante anos, reclamações sobre congestionamentos e demora na locomoção, principalmente dos usuários do transporte público, eram recorrentes na capital baiana. Mas, com a inauguração do metrô, em junho de 2014, a esperança era de que esses problemas fossem solucionados. Quatro anos depois, será que a mobilidade urbana melhorou no município?

Assista:

Para Juan Pedro Moreno Delgado, professor do Departamento de Engenharia de Transportes e Geodésia da Escola Politécnica da Universidade Federal da Bahia (UFBA), a resposta é não. Apesar de o metrô ter ajudado a diminuir o congestionamento em alguns pontos, o especialista afirma que os motoristas ainda não se convenceram a deixar os carros na garagem e usarem o transporte público.

Congestionamentos - Com a chegada do metrô, houve uma melhora significativa na mobilidade de algumas das principais vias da capital baiana, principalmente, nas próximas ao modal. Um bom exemplo disso é a avenida Paralela, que ficava intransitável em horários de pico. Hoje, os congestionamentos ainda existem, mas são bem menos frequentes e em pontos específicos.

Dados da Transalvador confirmam que houve melhora em uma parte da Paralela, em que o metrô corta de ponta a ponta, mas outros trechos ainda continuam com o fluxo muito intenso de veículos. Segundo o órgão de trânsito, de 1 a 28 de fevereiro do ano passado, 2.257.816 veículos trafegaram pela altura do Extra, contra 1.582.189 deste ano, o que dá uma diferença de 675.627. Já na região no Bairro da Paz, no sentido Aeroporto, o número aumentou. Em fevereiro de 2017, 1.333.495 transitaram pelo local e, neste ano, o número aumentou para 1.477.559.

Segundo o secretário municipal de Mobilidade Urbana (Semob), Fábio Mota, o projeto da Paralela ainda não está pronto. Hoje, existem duas sinaleiras que serão substituídas por passarelas e uma via expressa, o que já ajuda a diminuir o congestionamento.

O secretário pontuou que há um estudo da Transalvador em andamento para alargar o lado esquerdo e a feitura da continuação da pista, próximo à Universidade Jorge Amado. ‘’Na volta tem um grande congestionamento que é a Alameda das Praias para Stella Maris, acho que deve ser o maior congestionamento da cidade hoje, ali também tem um projeto pronto, que deve ser executado esse ano, que é a duplicação da Alameda da Praia que vai resolver aquele congestionamento".

Mota afirma, ainda, que antes os motoristas diziam que não abandonavam os carros na garagem por falta de um bom transporte público, o que piorava a situação dos congestionamentos na capital: "Quanto ao incentivo ao uso do transporte público, vai da cabeça de cada um. Hoje o metrô chegou, que é um transporte de qualidade”.

Integração - Para o especialista em mobilidade urbana, os passageiros necessitam de efetividade no funcionamento da integração do metrô, além de um sistema mais eficaz para que esse transporte seja aderido pelos motoristas também. “O usuário de carro vai precisar em curto espaço de três coisas: um sistema mais rápido, um sistema seguro e que seja confortável. Esses três atributos, no mínimo, necessita para que o usuário abandone o automóvel e procure o transporte público. Isso só vai ser obtido com estações de metrô multimodais e isso não temos, as estações de metrô são só de metrô, não são multimodais”, explica Delgado.

Isso é o que acontece com o advogado Fábio Rubinalle Souza Morais. Morador de Patamares, ele trabalha no Comércio e conta que muitas vezes desistiu de ir de metrô por causa da demora dos ônibus para levá-lo até a estação, apesar de achar rápido e econômico ir para o escritório de metrô. “O problema está na demora do ônibus que deixam a gente no metrô, que demoram de chegar. Às vezes eu fico meio chateado e volto para casa para pegar o carro”.

De acordo com Rubinalle, o transporte metroviário contribuiu de forma positiva para a mobilidade, tanto dos motoristas, quanto dos usuários do transporte público. Porém, segundo ele, a integração precisa de ajustes para que funcione bem. ‘’Pra gente ficou melhor, tanto pra ir de carro, quanto para ir de metrô. A minha queixa é só em relação à integração e também a questão da distância da estação pro ponto de ônibus. Porque realmente é distante’’.

Por causa da forma como a integração funciona, o especialista ressalta a dificuldade para os passageiros se locomoverem e chegarem até as estações de metrô. Além disso, Delgado afirma que é necessário pensar em outros tipos de modais para facilitar o deslocamento dos usuários do transporte público.

“Eu imagino que a estação de metrô tem que ter um táxi, tem que ter um Uber, além do ônibus, tem que ter a bicicleta alugada, tem que ter possibilidades para o pedestre. A integração dos modais vai além da integração ônibus-metrô e aí está a problemática, não está muito bem resolvida”, ressalta.

A caixa de estacionamento Valnize Pereira da Silva afirma que seu deslocamento melhorou com a chegada do metrô, mas reclama também da integração com o ônibus ao chegar à Estação Pirajá: o ônibus está demorando, tem pouco ônibus. Tem dias que eu levo quase uma hora para pegar o carro, principalmente a noite, que fica mais escasso de transporte, quando eu saio daqui (rodoviária) 22h, chego em casa quase meia noite”.

Apesar das reclamações dos usuários de que houve redução na frota de ônibus após a implantação do modal, já que o tempo de espera nos pontos aumentou, a Semob afirma que continuam circulando 2.500 ônibus do sistema convencional em Salvador, para deslocar cerca de 80 mil passageiros diariamente. 

Mas dados da Íntegra, Concessionárias do STCO, mostram que houve redução de 150 ônibus circulando na capital baiana. “Em dezembro de 2015 a frota operacional na cidade era de cerca de 2.400 ônibus. Hoje a frota é de aproximadamente 2.250”. Segundo o secretário da Semob, Fábio Mota, pode ter tido redução desses ônibus em função do incêndio em uma garagem do Consórcio Integra - Salvador Norte, na Avenida Santiago Compostela, no Parque Bela Vista, no início do ano, que atingiu cerca de 60 coletivos.

Além dos ônibus, ainda existem o Subsistema de Transporte Especial Complementar (STEC), os micro-ônibus que rodam com 300 veículos, apesar de não integrar com o metrô, o que acaba fazendo com que o usuário precise pagar mais uma passagem, caso prefira usar esse tipo de transporte. 

De acordo com Fábio Mota, o transporte complementar necessita passar por ajustes, mas ressalta que há possibilidade de integrar com os outros modais da capital baiana. ‘’O sistema complementar existe há muito tempo, mas ele precisa de algumas ações que não foram feitas, e agora está na hora de se fazer, como por exemplo: as licitações devidas e as adequações de acessibilidade’’. Além disso, o secretário informa que o sistema dos micro-ônibus estão sendo discutidos no Ministério Público da Bahia (MP-BA). ‘’Nós já tivemos algumas audiências com a Drª Rita Tourinho, ela nos recomendou e nós fizemos o cadastramento do sistema do transporte complementar. Isso foi cadastrado, foi encaminhado para o Ministério Público o raio x total, estamos aguardando os próximos passos’’, afirma Mota. 

Para o secretário de mobilidade urbana, além do metrô e dos ônibus convencionais, os soteropolitanos poderão contar com mais um transporte que facilitará na locomoção dos usuários: os BRTs (Bus Rapid Transit), que na tradução significa transporte rápido por ônibus. ‘’Nós estamos trabalhando na área onde não tem metrô para implantar o BRT.

''Nós temos sete BRTs para serem implantados na cidade de Salvador, que é um sitema também de qualidade muito superior ao ônibus, porque são ônibus com ar condicionado, poltrona diferenciada’’. Além disso, Fábio Mota informa que, a primeira linha Iguatemi-Lapa vai atender as áreas de maior demanda da cidade. ‘’De cada 10 viagens de transporte público em Salvador, 6.6 tem como origem ou destino a área do Itaigara e da Pituba, que é justamente onde vai passar a primeira linha do BRT de Salvador, dando mais conforto. Não só Itaigara ou Pituba, vai atender o Vale das Pedrinhas, Vale das Muriçocas, Polêmica, Santa Cruz, toda aquela massa de pessoas que ali moram e não tem acesso a transporte de qualidade e vai passar a ter através do BRT’’.  

Metrô de Salvador - Apesar das reclamações dos usuários para chegar nas estações do metrô, os números de passageiros, desde a sua inauguração, tem sido satisfatórios. Atualmente, 330 mil passageiros usam o transporte diariamente, que possui 33 km de extensão, 20 estações e sete terminais de integração com ônibus, sendo seis deles administrados pela CCR Metrô Bahia, exceto Lapa.  A Linha 1 é composta por oito estações em operação e 12 km de extensão que vai da Estação Lapa à Estação Pirajá, já a Linha 2 possui 12 estações- Acesso Norte ao Aeroporto.

Pelo projeto da Secretaria Municipal de Desenvolvimento e Urbanismo (Sedur), ainda faltam entregar duas estações da linha 1, Campinas e Águas Claras/Cajazeiras, e a estação Lauro de Freitas, na RMS, que vai fazer parte da Linha 2.

A superintendente da Sedur, Grace Gomes, esclarece que a estação Lauro de Freitas iniciará as obras assim que a estação Aeroporto tenha uma demanda de mais de seis mil passageiros durantes os horários de pico considerados pela Secretaria entre 7h e 8h da manhã. ‘’Quando a estação Aeroporto tiver mais de seis mil passageiros, durante seis meses, é o sinal de que a gente já tem que construir a outra, ou seja, aquela estação já está chegando no limite de demanda e é preciso que continue um pouquinho mais,  esse é o que a gente chama de ponto de gatilho para gente ir até a estação Lauro de Freitas’’, explicou Grace Gomes. Contudo, ela ressalta que a estação Aeroporto-Lauro de Freitas já é prevista no contrato.


Foto: Vagner Souza 

Apesar disso, o professor lembra que o metrô é apenas um plano municipal, mas por ser uma obra do governo do Estado, deveria ser elaborado um plano metropolitano da mobilidade. “Precisamos de um plano metropolitano, a visão metropolitana para que o metrô, um transporte de alta capacidade possa chegar a Camaçari, Candeias, Simões Filho, Dias d’Ávila. Então essa visão metropolitana não estamos enxergando, os especialistas, não existe esse plano metropolitano da mobilidade que é urgente, mais que nunca porque o metrô é uma infraestrutura que veio a transformar a metrópole, como em outras cidades”.

Segundo Grace, o intuito do Governo do Estado é avançar com o transporte público até a região metropolitana, mas através do Veículo Leve Sobre Trilhos (VLT), no qual, os passageiros devem realizar a integração com o metrô a medida que avance para Salvador.  Atualmente, existe um planejamento para que o VLT atenda a demanda desses municípios, mas, de acordo com a superintendente, caso tenha um número elevado de usuários nessas regiões o metrô também avançará. ‘’Então isso faz parte do planejamento, pode não acontecer nos próximos dois ou cinco anos, mas daqui há sete anos digamos que a gente já tenha uma demanda consolidada que faça com que o metrô chegue lá, ele vai chegar’’.  

Classificação Indicativa: Livre

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