Salvador

Estação sem buzu? Inaugurado há mais de um ano, terminal de Pituaçu opera com apenas seis linhas de ônibus e corredores vazios

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Integrada à estação do metrô, a estrutura teve investimento de R$ 81 milhões e tem capacidade para a circulação de 280 mil passageiros por dia   |   Bnews - Divulgação Vagner Souza/BNews

Publicado em 22/04/2019, às 12h29   Diego Vieira


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Silêncio, corredores praticamente vazios, nada de alvoroço ou vai e vem de pessoas. Falando assim fica difícil imaginar que essas características fazem parte de uma estação de ônibus localizada em Salvador, quarta capital mais populosa do país com mais de três milhões de habitantes. No entanto, esse é o cenário do terminal Pituaçu. Localizada na marginal da Avenida Paralela, entre as Avenidas Gal Costa, Pinto de Aguiar e São Rafael, a estação de transbordo foi inaugurada pelo Governo do Estado em março do ano passado.

Apesar de possuir espaços de serviços, lojas, praça de alimentação, 25 baias de ônibus, elevadores e escadas rolantes, falta o principal: as linhas de ônibus. Integrada à estação do metrô, a estrutura, administrada pela CCR Metrô Bahia, teve investimento de R$ 81 milhões e tem capacidade para a circulação de 280 mil passageiros por dia e até 175 coletivos por hora, mas a realidade constatada pela reportagem do BNews é totalmente diferente.

“Hoje até que está mais movimentado. Já teve situações de estar bem mais deserto. Pra um terminal desse tamanho, aqui deveria ter mais linhas de ônibus”, pontua a auxiliar de odontologia Selma Guimarães. Acompanhada da filha, ela conta que costuma passar pela estação com frequência e por causa do pouco fluxo de passageiros, tem receio de ficar por lá por muito tempo.

“Tem uns horários de pico que tem até mais gente, mas na maioria das vezes é assim desse jeito, sem movimento nenhum. Estou aqui com uma criança pequena e fico com medo de subir alguém. Daqui que eu consiga chamar um segurança, já aconteceu algo. Tudo bem que tem as câmeras, mas cadê os seguranças? Eu já subi e já desci com ela [a filha] e não vi um segurança”, questiona.

A situação não é diferente para a estudante Cíntia Carvalho. Moradora do bairro de Colinas de Pituaçu, ela conta que chega a ficar horas no local à espera de um coletivo. “Eu acho que deveria ter mais linhas de ônibus. A espera por um ônibus aqui é muito grande. Aqui é muito deserto e me sinto meio apreensiva. Só de vez em quando eu vejo um segurança aqui embaixo. Eu acho que esse terminal deveria ser melhor aproveitado”, disse.

Quando foi inaugurada, seis linhas da região metropolitana, como as que circulam por Vilas de Abrantes, Arembepe e Portão operavam no terminal. Portanto, atualmente permanece apenas a linha Portão x Estação Pituaçu. Já quem tem como destino, bairros da capital da baiana, só existem seis linhas à disposição: Ribeira, Canabavrava, Barradão, Vale dos Lagos, Cajazeiras 11 e Est. Barradão, a última, segundo a Secretaria Municipal de Mobilidade (Semob) opera apenas em dias de jogos no Estádio Manoel Barradas.

Se para os passageiros faltam ônibus, para os lojistas o problema principal é justamente a ausência de passageiros. Funcionária de uma farmácia que funciona no piso superior do local, a balconista Eulina Mota relembra das promessas ditas no período da inauguração do terminal.

“No início era até bom, mas depois que começou a cobrar o estacionamento, as vendas caíram drasticamente, posso afirmar que cerca de 50 %. Aqui teria que ser cumprido o que foi prometido na inauguração que seriam 22 lojas com 30 linhas de ônibus. Começou com 12 linhas e hoje tem menos da metade, ou seja, está regredindo”, desabafou.

Por causa do pouco fluxo de passageiros, o horário de funcionamento das lojas foi reduzido e alguns empresários estão pensando em encerrar as atividades dos estabelecimentos devido aos prejuízos. “As lojas aqui funcionavam das 6h30 até às 20h, agora só funcionam a partir das 11h, só a farmácia que abre às 7h, mas está tendo prejuízo, tem empresário aí que está tirando do bolso para pagar os funcionários. O Estado e a Prefeitura têm que se juntar para resolver isso aqui. Desse jeito é que não dá pra ficar”, acrescentou a balconista.

Já para a Lorena, funcionária de uma cafeteria, a implantação de mais lojas também contribuiria para o aumento de passageiros. “Acho que mais lojas e mais linhas de ônibus aumentariam esse fluxo. Nós dependemos desse fluxo para trabalharmos. No finalzinho da tarde e no início da manhã tem um movimento maior, mas depois vira esse deserto”, afirmou.

Segundo a Semob, as linhas que circulam no terminal atendem intinerários  para diversas regiões da cidade como Cajazeiras, Castelo Branco, Pau da Lima, Canabrava, STIEP, Patamares, Pituaçú, Vale dos Lagos, Colinas de Pituaçú, Ribeira, Arraial do Retiro, San Martin, Largo do Tanque, Calçada, São Joaquim, Uruguai e Boa Viagem.

Ainda conforme a secretaria, “houve uma significativa queda na quantidade de passageiros transportados, em função da localização do Terminal, contrária ao vetor do deslocamento dos usuários”. A Semob não respondeu o questionamento feito pela reportagem sobre a possível implantação de novas linhas no local.

Apesar das reclamações feitas pelos usuários e lojistas, a situação do terminal, pelo visto, continuará a mesma já que nenhuma mudança está prevista para intensificar o fluxo de passageiros. Em nota, a Agência Estadual de Regulação de Serviços Públicos de Energia, Transportes e Comunicações da Bahia (Agerba), responsável pelos ônibus da Região Metropolitana, informou que “no momento não há programação para que novas linhas acessem o terminal, uma vez que há um contrato de programa entre Governo e Prefeituras de Salvador e Lauro de Freitas que prevê os pontos finais da linhas metropolitanas nas estações Aeroporto, Mussurunga, Retiro e futuramente Águas Claras e Lauro de Freitas", diz o comunicado.

Sobre a falta de segurança relatada pelas passageiras, a CCR Metrô Bahia esclareceu que “o Terminal de Ônibus Pituaçu conta com rondas periódicas e regulares realizadas pelos Agentes de Atendimento e Segurança (AASs) fardados e à paisana em todos os níveis". Ainda segundo a concessionária, "o local também é monitorado por câmeras integradas à Sala de Supervisão Operacional (SSO) do terminal e ao Centro de Controle Operacional (CCO)”.

Matéria atualizada às 15h

Classificação Indicativa: Livre

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