Salvador

Covid-19: Lotação em estações de transbordo de Salvador preocupa usuários, ambulantes e rodoviários

Dinaldo Silva/BNews
Reportagem do BNews esteve presente na Estação Pirajá na hora do rush da quarta-feira (14)  |   Bnews - Divulgação Dinaldo Silva/BNews

Publicado em 15/10/2020, às 17h36   Tiago José Paiva


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Entre as inúmeras situações atípicas por conta da pandemia da Covid-19, uma em específico se manteve preservada: a necessidade de deslocamento na cidade, através dos modais de transporte público. Apesar de sua oferta ter sido afetada diretamente pela pandemia, a demanda pelo deslocamento através de ônibus, trens e metrôs não caiu na mesma proporção.

Na capital baiana, um dos principais pontos de evidência dessa situação é a estação de Pirajá, que serve tanto para os passageiros de ônibus quanto àqueles que utilizam o metrô. A reportagem do BNews esteve presente na estação na quarta-feira (14) a fim de verificar o funcionamento com os novos protocolos sanitários, o fluxo de pessoas e veículos e como passageiros e profissionais estão se comportando durante o período de “retomada” após a onda inicial de contágio pelo vírus. 

Ao adentrar a estação no horário do rush, que compreende ao intervalo de tempo após a saída da maioria das pessoas do trabalho, é possível visualizar a disparidade do número de pessoas entre certas linhas. As mais cheias são aquelas que partem de Pirajá com rumo aos bairros da região de Cajazeiras. Longas filas, com esperas que chegam a quase 40 minutos, e focos de aglomerações fazem parte do cotidiano de quem necessita destes meios de transporte, apesar de ainda não haver solução definitiva que barre o avanço do coronavírus. 

Em contato com funcionários que atuam na organização da estação, é possível entender os motivos que levam a lotação do espaço. Fatores como a chegada de muitas pessoas do metrô, em velocidade maior do que os ônibus conseguem escoar os passageiros, e o chamado “efeito bumerangue” — quando um ônibus retorna à estação mais cheio do que havia saído, mesmo indo para bairros com menor fluxo de pessoas — acabam criando gargalos que o sistema de transporte público não consegue cobrir de maneira eficiente. 

Há medidas paliativas sendo tomadas, de acordo com pessoas próximas à situação. Ônibus de apoio são movimentados para linhas com os maiores fluxos de passageiros, com intuito de desafogar o número de pessoas na estação, além da liberação das catracas, com carrinhos que atravessam as filas cobrando previamente a tarifa da viagem dos passageiros. No entanto, essas atitudes não conseguem sanar o problema, já que apenas 80% da frota de ônibus está circulando em Salvador. 

A situação prolífica à contaminação pelo vírus gera preocupação em rodoviários, ambulantes e passageiros com a possibilidade de acabarem contraindo a Covid-19. “É complicado, eles deviam aumentar o número de ônibus. São tantas situações que dá pra pegar a doença, é muita gente junta, tem o risco de segurar na barra do ônibus, entre outras coisas. Fico bastante apreensivo”, conta Renan Silva, 35 anos, enquanto aguardava o ônibus com destino a Cajazeiras. 

Parte fundamental de todo os sistema, os rodoviários também veem com reservas a situação do transporte coletivo diante da pandemia, mas acabam tendo uma visão mais positiva, visto que as medidas de precaução — como a instalação de cortinas nas cabines — e o bom senso da maioria dos usuários dos ônibus passam uma certa tranquilidade para que estes façam seu trabalho.

“Tá até sossegado, na medida do possível”, afirma Silvonei, motorista de ônibus. “O problema é só quando o ônibus acaba vindo muito cheio, fica aquela agonia, mas pelo menos o pessoal tá sendo até tranquilo. Eu não tenho muito o que reclamar”, acrescenta. 

Porém, a situação ainda não retornou ao “normal” para os trabalhadores ambulantes da estação. Por conta do medo de acabar se contaminando, muitos dos usuários que frequentam Pirajá optam por não fazer mais compras com eles, que tentam diversificar suas opções vendendo itens como máscaras, portando a tiracolo máquinas de cartão, o que reduz o contato com cédulas de dinheiro. 

“As coisas estão mais tranquilas agora, só o movimento de compras do pessoal que não voltou muito ao normal, eles estão mais receosos de comprar aqui por conta do vírus. Mas a gente vai tentando se adaptar, usa álcool em gel, tem gente vendendo máscara do lado, quase todo mundo tá usando maquininha de cartão, enfim, vamos correndo atrás”, diz Luana, uma das vendedoras que diariamente trabalha na Estação Pirajá. 

Enquanto a queda de braço entre o Ministério Público da Bahia e a Prefeitura de Salvador acerca do retorno da frota completa de ônibus, a nova realidade da estação Pirajá — e de outras estações de transbordo não apenas de Salvador, mas de todo Brasil — tentam se adaptar à convivência num contexto dominado de lotações e aglomerações, fatores que favorecem para o prolongamento da pandemia. 

Classificação Indicativa: Livre

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