Salvador

Dia dos Finados: Familiares prestam homenagens às vítimas da Covid-19

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Em decorrência da Covid-19, mais de oito mil famílias não puderam realizar os tradicionais velórios com cultos e missas de corpo presente em Salvador  |   Bnews - Divulgação Roberto Viana/Dinaldo Silva/BNews

Publicado em 02/11/2021, às 05h30   Samuel Barbosa


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Nesta terça-feira (2) é celebrado o Dia de Finados, data em que pessoas ligadas a fé cristã costumam visitar túmulos e rezar pelos falecidos. No ano passado autoridades municipais e estaduais pediram cautela com relação a ida a esses espaços por conta da pandemia, por isso os cemitérios adotaram protocolos de segurança para garantir a visitação, e transmitiram missas pela internet.  

Este ano a movimentação nos cemitérios deve ser um pouco maior, até por conta do número de pessoas vacinadas contra a Covid-19 na capital baiana. Em entrevista recente o prefeito Bruno Reis disse que mais de 198 mil pessoas estavam em atraso com a segunda dose do imunizante. Já na Bahia, segundo a Sesab, 10.658.458 de pessoas já foram vacinadas contra o coronavírus com a primeira dose ou dose única. O Estado já vacinou 83,71% da população com 12 anos ou mais, estimada em 12.732.254.

Mas se tem algo que ainda deprime muita gente é o fato de não ter tido oportunidade de se despedir de seu ente querido. Em decorrência da Covid-19, mais de oito mil famílias não puderam realizar os tradicionais velórios com cultos e missas de corpo presente em Salvador por conta dos protocolos para a realização dos enterros, que vão desde caixões lacrados até o limite máximo de dez familiares durante o momento do sepultamento. 

Vazio deixado

A perda de um familiar para a Covid, somada às exigências das autoridades sanitárias que não permitiam sequer se aproximar do caixão, deixou muita gente desolada. O pedreiro Márcio Santos de Jesus lembra com tristeza do dia e que viu sua mãe sendo sepultada. “Ela passou mal e levamos para o hospital, dois dias depois morreu e disseram que foi Covid. Um sobrinho que foi ao hospital fazer o reconhecimento do corpo, e como era logo no início da pandemia, ele teve que reconhecer o corpo de longe. Ninguém pode se despedir, ver, pegar, não teve velório. O caixão saiu do carro da funerária direto para a gaveta do cemitério. Nunca pensei que passaria por isso”, afirma saudoso.

Ainda de acordo com Márcio, ano passado ele não esteve no cemitério e este ano ainda não sabe se irá ao local prestar as homenagens, pois, para ele, o dia trará muitas lembranças. “Ela sempre terá um espaço na mente e no coração da gente. Farei minhas orações pelo descanso, mas devo ir lá”, completou.

Oração pelos mortos

A auxiliar administrativa Rita Martins também perdeu uma irmã para a Covid. E assim como Márcio, ela conta que o pior de tudo foi não ter tido a oportunidade de se despedir. Católica, ela diz que sabe da importância que tem uma missa de corpo presente para o fiel falecido. “Ficou um vazio muito grande em nossa família. Teve missa de sétimo dia, de trigésimo dia, só não teve uma cerimônia no dia porque não era permitido, infelizmente”.

Ela conta que nesta terça vai ao tumulo depositar flores. “O nosso cuidado com ela continua mesmo depois da partida. Eu particularmente vou ao Campo Santo. Além das flores, ela terá minhas orações”.

O músico Rafael Ribeiro tinha 47 anos quando veio a óbito em setembro de 2020. Ele passou sete dias internado em um leito de enfermaria mas precisou ser levado à Unidade de Terapia Intensiva (UTI) após piora do quadro clínico. No total foram 19 dias de internamento entre enfermaria e UTI. Deixou uma filha de três anos e a esposa. "A sensação que a gente tinha no início é que ele chegaria a qualquer momento, mas isso não era só pela saudade, era justamente pela ausência do funeral, era difícil acreditar. Eu acho que todo mundo que perdeu uma passoa para o Covid sentiu isso", disse Marta, que estava casada com Rafael desde 2015. 

Sobre as homenagens neste Dia de Finados ela diz que fará o que faz quando sente a falta do esposo. "Faz poucas semanas que completou um ano da morte e as lembranças são vivas. Ir ao cemitério é muito dolorido pra mim, prefiro fazer o que sempre fiz nos último doze meses, toda vez que a saudade aperta eu corro para as fotos de nossa família"

Tradição cristã

Segundo a Igreja Católica, nos primeiros séculos os cristãos já tinham o hábito de visitar os túmulos dos mártires com o objetivo de rezar por eles e por todos que um dia fizeram parte da comunidade cristã. Ainda de acordo com a tradição, no século XIII, o dia dos fiéis defuntos passou a ser celebrado em 2 de novembro, já que no dia 1 de novembro era comemorada a solenidade de todos os santos.

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