Salvador
Publicado em 02/02/2024, às 05h00 Marco Dias
“O mar é para mim um milagre sem fim: os peixes nadando, as pedras, o movimento das ondas, os navios que vão com homens dentro”, escreveu o poeta americano Walt Whitman. A frase, representa o sentimento que reúne milhares de pessoas no Rio Vermelho, ano após ano, no dia 2 de fevereiro.
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Reconhecida como patrimônio cultural imaterial de Salvador, a festa de Iemanjá acontece com um cortejo realizado no meio do mar repleto de embarcações e fiéis que se reúnem em celebração à cultura afro-brasileira.
Saudar Iemanjá é reafirmar toda minha história, meu enredo, minha conexão com África e ancestralidades que me atravessam. É honrar a Grande Mãe através da minha existência, das minhas mais velhas e de todas as mulheres que constituem minha partícula no universo”, diz a advogada e candomblecista Naiara Negreiros.
Além de advogada e candomblecista, Naiara Negreiros também é artista independente, e revela que já recebeu a inspiração de Iemanjá para uma de suas composições.
Sempre tive essa paixão pelo mar, minhas melhores memórias afetivas de reuniões, festas, encontros de família, lazer com os amigos foram em frente ao mar. Eu troco qualquer programa para passar o dia na praia. E foi nesse pensar e refletir que surgiu organicamente uma canção com letra e melodia em meus pensamentos chamada “Marmando”, que deu origem ao meu primeiro álbum autoral, todo dedicado, na minha cabeça, ao mar.
Tradição
Tradicionalmente, a festa acontece no Rio Vermelho, sendo realizada pela Colônia de Pescadores, na Casa de Iemanjá, para agradecer pelas bênçãos e proteções concedidas pela orixá das águas salgadas.
Entristecidos, um pequeno grupo de pescadores sentados na areia à beira mar na praia da Paciência, no bairro do Rio Vermelho, ao lado da Colônia de Pescadores Z1, conversavam sobre a difícil situação de onde tirar o seu sustento. Surgiu, então, a ideia de entregar um presente à orixá das águas salgadas, Iemanjá, com pedidos de acolhimento e fartura na prática da pesca. E assim foi feito, um presente simples, dentro de uma caixa de sapato”, revela a artista plástica Luzimar Azevedo.
Neta da Yalorixá mãe Luzia, filha de Xangô, cujo terreiro de candomblé se localizava no Rio Vermelho, Luzimar convive, desde o nascimento, com a reverência aos orixás na casa da avó, e com os pescadores da colônia Z1, sua história, seus movimentos, e suas homenagens a Iemanjá.
Criada por pescadores
Criada por pescadores, a tradição envolvia os moradores e comerciantes do Rio Vermelho que assinavam uma lista e contribuíam financeiramente para a manutenção da homenagem.
O culto de Iemanjá originalmente ocorria na Cidade Baixa, atrás do Monte Serrat, em uma pequena praia. Era uma cerimônia restrita ao povo de santo da Bahia. A partir da década de 1960, a festa começou a ganhar popularidade e se consolidou como a principal, tornando-se exclusiva para o povo de santo da Bahia.
Com um acordo entre a Colônia dos Pescadores e o terreiro de candomblé, uma mãe de santo realizava o preceito e encomendava um presente especial levado à praia do Rio Vermelho. A partir de 1967, a festa de Iemanjá ganhou força e popularidade, mantendo-se assim até os dias atuais.
Hoje, a homenagem a Iemanjá não é apenas da colônia Z1 da cidade de Salvador, é da Bahia, do Brasil e do mundo, e, no dia 2 de fevereiro, a Casa de Iemanjá acolhe a todos de braços abertos, com suas oferendas, agradecimentos e pedidos”, destaca Luzimar Azevedo.
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Importância da Festa
Considerada a maior manifestação religiosa pública do candomblé no estado da Bahia, “a festa tem um impacto social, cultural e político relevantes, principalmente pela conquista em torná-la um patrimônio imaterial”, afirma Naiara Negreiros.
A festa de Iemanjá é uma oportunidade para os fiéis expressarem sua benção à orixá e agradecerem por suas bênçãos.
O impacto que essa festa tem em minha vida é sobre a reflexão da gratidão como um todo, ter a consciência do que se planta hoje não se colhe hoje, mas fazendo de nossa conduta e trilhando caminhos com a fé, respeitando para ser respeitado, se chega onde se almeja”, revela Alex Brandão, técnico em processos fonográficos.
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