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São João sem festa: Forrozeiros lamentam os impactos da pandemia

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Mais de 300 municípios se mobilizam no mês de junho para a realização das festas de Santo Antônio, São João e São Pedro   |   Bnews - Divulgação Reprodução/Instagram/Del Feliz

Publicado em 24/06/2020, às 08h00   Samuel Barbosa


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Fogueira acessa com milho na brasa, comidas típicas, licores de diversos sabores e muito forró. Tudo isso seria realidade para este mês de junho se a Covid-19 não tivesse chegado no Brasil. Segundo informações do Ministério da Saúde, o primeiro caso da doença foi registrado no dia 26 de fevereiro, em São Paulo. O paciente era um homem de 61 anos, que havia retornado de uma viagem feita à Itália. Desde então tudo mudou...

Com o avanço da doença, diversos setores da economia tiveram que paralisar suas atividades, e com a cultura não foi diferente. Teatros tiveram que fechar suas cortinas, exposições foram adiadas, e aqui na Bahia os festejos juninos tiveram que seguir as determinações das autoridades de saúde e a única saída foi cancelar tudo.

Esta é a primeira vez, em 20 anos de carreira, que o cantor e compositor Del Feliz não vai subir aos palcos em pleno mês de junho. “É uma festa ressignificada, extremamente impactada por uma pandemia que modificou o mundo, algo nunca visto antes, tanto do ponto de vista econômico como de saúde pública e acho que todo mundo vai precisar refletir muito, a gente não sabe exatamente que mundo vamos encontrar, mas precisamos saber exatamente que mundo a gente quer construir”.

Para Del, mesmo com a proibição dos festejos, a música tem sido um alento para a população. “A força da cultura, a força da música tem sido instrumento para amenizar o sofrimento das pessoas. A gente vai encontrar um caminho, é a vida, as coisas são mutáveis, a gente vai naturalmente se moldando, se reconstruindo e tentando construir um mundo melhor, a cultura sem dúvida nenhuma faz parte daquilo que vai ajudar a construir um mundo mais saudável, mais rico e mais feliz”.

Impossibilitados de fazer shows, diversos músicos tem enfrentados sérios problemas financeiros, afinal de contas não há cachê a serem pagos. E é aí que a solidariedade ganha ainda mais espaço entre os colegas de profissão. “Desde que cheguei da Europa, no início da pandemia, o que mais tenho feito são lives solidárias e a grande maioria são para músicos, artistas, pessoas que vivem de arte porque é uma turma muito impactada. Cabe aos artistas, com sua sensibilidade, com o conhecimento que tem, com o trânsito que tem, a relação com as pessoas, com os seguidores, se mobilizarem. Utilizar um pouco da influência pra promover o bem”, completou Del. 

Valtinho do Acordeon

O sanfoneiro Valtinho do Acordeon é envolvido profissionalmente com música desde 2006. Integrou o “Forró 20 Xotear” e atualmente faz parte da banda “Virado no 70”, mas não depende só dela para sobreviver. Ele trabalha no setor de logística de uma empresa multinacional especializada em equipamentos eletrônicos, e lamenta os prejuízos causados pela pandemia. 

 “A gente começa a trabalhar já no mês de abril. Começam as apresentações, shows em botecos e aí vai, só depois de São Pedro que acaba. É uma época em que somos bem procurados, principalmente sanfoneiro”, lembra. “É um cenário ruim porque na verdade nós músicos seremos os últimos a voltar ao mercado. Neste período de covid-19 para o trabalho não parar a gente vem fazendo lives que funcionam mais como divulgação do nosso trabalho”, disse. 

Em 2019 Valtinho fez cerca de 40 apresentações entre shows, festas privadas, escolas e eventos realizados por prefeituras. Ele afirma que a situação não é das melhores para quem vive só dos shows. “Muitos colegas tem reclamado, eles não têm outra renda, vivem exclusivamente de música e alguns estão inclusive passando necessidades”.

Economia baiana

Um levantamento feito pelo portal São João na Bahia apontou que uma banda de forró de médio porte chega a empregar 100 postos de trabalho, e cada emprego pode beneficiar até quatro pessoas. 

Ainda de acordo com o portal, mais de 300 municípios se mobilizam no mês de junho para a realização das festas de Santo Antônio, São João e São Pedro. São mais de 1 milhão de soteropolitanos, que deixam a capital rumo ao interior e outro 1 milhão que se deslocam entre as diversas regiões do Estado. Só em 2018, o governo baiano movimentou cerca de R$ 1 bilhão nos festejos juninos.

O que nos resta agora é a esperança por dias melhores. Pensamento positivo para que em 2021 a história seja completamente diferente, mais feliz, mais alegre, com forró e cidades do interior lotadas de visitantes. É como disse Del Feliz: "A gente vai encontrar um caminho".

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