Saúde

Raio-x da Saúde em Salvador revela precariedades do sistema

Publicado em 14/04/2015, às 10h49   Rodrigo Daniel Silva (Twitter: @rodansilva)


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Um raio-x nada animador. Um quadro clínico que revela um "paciente" desatento, vagaroso e relapso. Foi este o diagnóstico do sistema de saúde de Salvador feito pela reportagem do Bocão News após visitar oito postos médicos de diferentes regiões da capital, durante duas semanas. Neste período, pacientes e acompanhantes criticaram as filas e a longa espera para ter acesso à saúde, desatenção no atendimento, sujeira nos ambientes, falta de remédio e até postos fechados.
O Bocão News apresenta a partir desta terça-feira (14) uma série de três reportagens sobre os postos de saúde de Salvador. De acordo com a Secretaria Municipal de Saúde da capital baiana, em 2014, foram gastos pouco mais de R$ 560 milhões, com folha de pagamento e investimento. Este valor é quase 20% maior do que o investimento do ano anterior. Mas, diante do cenário que foi encontrado, está muito aquém do ideal.
Quem vê a caixa de sugestões do posto de saúde do bairro de Pau Miúdo com apenas um papel sem nenhuma proposta pode até pensar que no centro médico não há problemas. Quem precisa, entretanto, se queixa da precariedade do atendimento e da falta de estrutura. O cadeado da unidade não só tranca a caixa mais também mascara a verdadeira realidade.
Antes de adentrar no Posto de Saúde Maria da Conceição Santiago Imbassahy, no bairro do Pau Miúdo, já se constata um descaso. Os vidros das portas da unidade estão quebrados. Segundo pacientes e acompanhantes, foram estilhaçados por populares após protesto contra o deficiente atendimento.
Dentro do posto, a infiltração no teto e os estofados das cadeiras danificados revelam que há muito tempo não se tem uma reforma no ambiente. A sujeira também está presente no local. Mas, o descaso não termina aí.
O mecânico José de Souza, de 64 anos, conta que apareceu uns caroços no corpo do seu neto. Sem saber o que fazer, o levou para o posto de saúde do bairro. Chegando lá, teve que esperar três horas para ser atendido. “Se eu soubesse o que ele tinha, nem vinha, tomava um remédio e ficava em casa”, afirmou. “Tudo péssimo. Nada presta. Não tem sanitário, não tem água e a gente ainda é obrigado a ficar calado”, pontuou, criticando o desprezo com que os funcionários tratam os pacientes e os acompanhantes.
A desatenção no atendimento foi confirmada pela reportagem do Bocão News. Ao entrar em uma sala do posto, uma enfermeira, sem levantar a cabeça, questionou ao repórter: “o senhor tem alguma alergia?”. No posto de saúde do bairro São Marcos, quem precisa também reclama da falta de humanização dos médicos e funcionários no momento de dor.
“Eles não olham para criança. Passam o remédio e mandam para casa”, contou a recepcionista Adriele Santos, de 22 anos. Na espera de um atendimento para a filha, fez questão de ressaltar as consequências da ausência de um tratamento adequado. “Isto prejudica muito a saúde da criança. A gente leva para outro hospital e quando vai ver tem uma doença diferente”, falou.
No posto de saúde de São Marcos, mães criticam atendimento dos médicos aos seus filhos 
A mãe do pequeno Gabriel, Jocidalva Pitanga, observa, porém, que o atendimento inadequado não é generalizado. “Isto depende de cada médico”, disse. O presidente do Sindicato dos Médicos do Estado da Bahia (Sindimed), Francisco Magalhães, diz que essa falta de humanismo por parte de alguns profissionais se deve à precarização do trabalho.
“Não se justifica, mas a gente sabe que, às vezes, o médico vem de uma longa jornada de trabalho, o que induz a essa prática. Infelizmente, cria uma desconfiança entre o paciente e o médico”, destaca.
O secretário municipal de Saúde, José Antonio Rodrigues Alves, reconhece o problema da desatenção no atendimento, mas assegura que há um empenho da gestão para solucionar. “As pessoas devem usar a Ouvidoria para denunciar e identificarmos os casos mais graves. Mas, a secretaria tem feito um esforço para treinar essa mão-de-obra”, garantiu.
Na segunda reportagem da série sobre os postos de saúde municipais, o Bocão News revela como a desorganização e a burocratização atrapalham o atendimento das unidades de saúde soteropolitanas.

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