Saúde

Em livro, Mandetta acusa Bolsonaro de não querer sentar com ele para ver a realidade da pandemia

Marcelo Camargo/Agência Brasil
O livro "Um paciente chamado Brasil" foi escrito por Walter Nunes, repórter da Folha  |   Bnews - Divulgação Marcelo Camargo/Agência Brasil

Publicado em 25/09/2020, às 08h21   Redação BNews


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O ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta lança nesta sexta-feira (25), o livro "Um paciente chamado Brasil" pela editora Objetiva. Na obra escrita por Walter Nunes, repórter da Folha, ele afirma que em março apresentava aos ministros Walter Braga Netto, da Casa Civil, e Sérgio Moro, então à frente da Justiça, projeções que previam, no pior cenário, até 180 mil mortes pelo novo coronavírus.

De acordo com reportagem do jornal Folha de S.Paulo, aquele era um dos primeiros encontros com o restante do governo sobre a epidemia que já assolava o país. De acordo com Madetta, Braga ficou espantado. Moro comparou a situação a “quatro Boeings caindo por dia”. Enquanto isso, o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) se mantinha alheio das discussões. “Ele nunca aceitou sentar comigo para ver a realidade que o seu governo estava para enfrentar”, diz o ex-ministro.

A obra narra os 90 dias em que o ex-ministro esteve à frente da Saúde, e aponta que o presidente ignorou alertas da pasta, mesmo com os números mostrados em tela em reunião convocada às pressas em 28 de março no Palácio do Alvorada, logo após o encontro com Braga Netto e Moro.

Segundo a Folha, na época, as projeções da equipe da Saúde apontavam de 30 mil mortes (cenário tido como “otimista demais” por Mandetta) a até 180 mil caso não fossem adotadas medidas de isolamento. Hoje o país atinge 4,6 milhões de casos da Covid, com quase 140 mil óbitos.

No livro Mandetta diz que apesar do alerta, a preocupação de Bolsonaro no fim da mesma reunião era outra. “Você vai elogiar o [governador de SP, João] Doria?”, disse o presidente. “Vou elogiar São Paulo”, disse Mandetta, citando que o chefe ficaria ao lado de Nicolás Maduro, da Venezuela, se continuasse a negar a gravidade da epidemia.

A obra mostra com o presidente da República passou a contrapor a Saúde em discursos contra o isolamento e a pressionar pela cloroquina, mesmo sem eficácia comprovada contra a Covid-19. Ainda de acordo com o livro, o presidente sugeriu que fossem feitas mudanças na bula do remédio por decreto, para ampliar a oferta. A medida foi contestada pela Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitária).

“Esse livro vem para mostrar que você pode ter um técnico, mas a política no entorno tem papel preponderante”, diz o ex-ministro em entrevista à Folha, sobre a opção por retratar mais desses bastidores e menos da epidemia em si.

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