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Opinião: Os acertos e as trapalhadas dos 100 dias de Bolsonaro

Jornalista analisa os pontos positivos e negativos do novo governo até agora  |  

Publicado em 10/04/2019, às 20h54      Henrique Brinco

Bolsonaro chegou aos 100 dias de governo cumprindo 1/3 das promessas das quais havia estabelecido como meta para o período. É cedo para fazer qualquer tipo de projeção otimista ou pessimista. O chefe do Palácio do Planalto, por outro lado, já teve tempo suficiente para aprender a dominar a máquina pública e descer do palanque. E não tem mais tempo para cometer novos erros um ano antes da eleição municipal.

Destaco aqui de antemão os acertos até o momento. Diferentemente do discurso oposicionista, a Reforma da Previdência de Paulo Guedes tem potência fiscal sim e o pacote anticrime de Sérgio Moro toca em questões sensíveis nunca antes discutidas. São projetos importantes que tratam de questões essenciais da economia e da população brasileira. Ambos têm problemas na tramitação e erros - como a desconstitucionalização da Previdência, a aposentadoria rural, a capitalização e, no caso do projeto anticrime, a ampliação do conceito de legítima defesa para crimes cometidos por policiais -,  mas no geral são textos de boa qualidade.

Bolsonaro poderia ter reaproveitado a Reforma da Previdência que já tinha pareceres aprovados no governo Michel Temer. Evitaria o desgaste político de fazer com que a matéria tramitasse novamente pelas comissões. Outro positivo foram os programas de concessões de aeroportos, ferrovias e de portos. Houve competição e entradas importantes de empresas competentes. Surpreendeu quem considerava até então Bolsonaro um estatista.

O lado negativo é a dificuldade de articulação política do governo. Bolsonaro precisa aprender a conversar e jogar os filhos para escanteio.  E ouvir menos Olavo de Carvalho. Liberar emendas aos parlamentares não é velha política ou politicagem. É política. Nenhum parlamentar vai votar contra a opinião pública sem levar uma contrapartida aos seus municípios. É do jogo. Sempre foi e sempre será do jogo.

Outro grande problema é na área que justamente o elegeu junto aos conservadores: a questão dos costumes. Bolsonaro não cometeu estelionato eleitoral e cumpriu o que disse que iria acontecer nessa área. E ainda assim chocou a população. Perdeu tempo com discussões inúteis, como o 'golden shower' e a mentira de que não houve golpe em 1964. Após, entre outras coisas, chamar turistas brasileiros de ladrões e canibais e tentar obrigar escolas a filmarem alunos sem a permissão dos pais, o colombiano Ministro da Educação caiu. 

Neste governo, a Funai perdeu o poder de demarcação de terras Indígenas, que vai ficar a cargo do Ministério da Agricultura (controlado pelos fazendeiros). Tão populista como o ex-presidente Lula, Bolsonaro cancelou instalação de 8 mil radares em rodovias federais. Um perigo. Uma chancela aos motoristas infratores.

Bolsonaro disse na semana passada: "Não nasci para ser presidente, nasci para ser militar". É um reconhecimento do que muita gente já imaginava. O mea culpa, aliás, é um reflexo da postura mais polida que o governo quer passar agora diante da queda expressiva de avaliação positiva constatada pelas últimas pesquisas Ibope e Datafolha. E que tende a aumentar se ele não assumir a postura de Presidente da República. Os 13 milhões de desempregados não podem esperar mais.

*Henrique Brinco é repórter de política do site Bocão News e do jornal Tribuna da Bahia, já tendo passado por grandes portais de notícias da Bahia. Também foi vencedor por duas vezes do Prêmio Jânio Lopo de Jornalismo.

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