Denúncia

Após repercussão, jovem assediada em ônibus é hostilizada nas redes sociais

Publicado em 07/11/2016, às 21h14   Divulgação   Tony Silva

 

A situação vivida pela estudante Natália Ramos, 21 anos, causou um grande debate nas redes sociais na última semana, após matéria do Bocão News. A jovem discute com um rodoviário, que segundo ela, teria cometido assédio e violência. Tudo foi registrado em vídeo. Mas além do debate, uma chuva de mensagens hostis a jovem foram guardadas por ela, que se declara preocupada com os ataques. Natália procurou a reportagem do Bocão News nesta segunda-feira (7) e disse que sua vida está bastante abalada pela repercussão do caso. 

"Estou sendo atacada no Facebook e minha família está preocupada. Eu não estou saindo de casa. Para mim, realmente está muito difícil. Tudo que fiz foi defender meu direito a dignidade enquanto pessoa, enquanto mulher", desabafa a jovem.

A estudante diz também que sofreu ataques por causa da sua orientação sexual e muitos homens, e até mulheres, fizeram comentários preconceituosos. "Eu sou lésbica. Copiaram minha foto com minha ex-namorada e divulgaram em grupos tentando me difamar. Não tenho mais as contas de quantas mensagens recebi. São muitos comentários feitos por homens e mulheres, dizendo que 'se fosse uma mulher que cometesse o assédio, eu não estaria fazendo isso' ou 'se fosse um homem de outra classe social' eu iria gostar. Algumas pessoas repetiram as mensagens e chegaram a fazer ameaças", disse.

Natália está com uma assistência jurídica e nesta semana irá a uma unidade do Ministério Público do Estado (MPE) para pedir que o Consórcio Integra CSN informe o nome do cobrador a polícia para que o inquérito possa seguir em frente. Ela também registrará queixa na delegacia sobre os ataques recebidos pelo Facebook. "Estou com os prints das mensagens e vou registrar queixa para que sejam tomadas providências também sobre isso", afirma. 

Audiência Pública

O caso de Natália Ramos deve ser tema de uma audiência pública na Comissão de Defesa dos Direitos da Mulher da Câmara de Vereadores de Salvador. A estudante será recebida pelo colegiado para ser ouvida e os membros discutirão o apoio que poderá dispensar a jovem. A vereadora Aladilce Souza (PCdoB), que também é presidente da comissão, repudiou a situação vivida pela jovem e classificou como um "duplo preconceito". 

Segundo a vereadora, atitudes machistas como as alegadas por Natália "são absurdas, uma vez que Salvador é uma cidade tipicamente praiana, com características de verão e com culturas de moda e beleza mais leves". "Uma cultura em que o homem se acha superior a mulher para ter direito de determinar a roupa que a mulher vai usar é absurda. Infelizmente esse comportamento é também adotado por mulheres", analisa.

De acordo com a comunista, a cultura do estupro, que se baseia na idea de que as mulheres que usam roupas curtas estão pedindo para serem assediadas e até estupradas, ainda é bastante presente na sociedade soteropolitana. "Essa ideia negativa é uma relação de poder disproporcional e a sociedade precisa avançar. Isso é uma questão civilizatória nas relações entre homens e mulheres que precisa melhorar", afirma.

Sobre a crítica sobre a opção sexual, Aladilce diz que é um "duplo preconceito", pois discrimina questão de gênero e orientação sexual. "Salvador é uma das capitais que mais assassinam mulheres e gays. É um atraso civilizatório. É uma época de bárbarie. Esse debate precisa continuar na sociedade. Temos uma onda culturalmente retrógrada que é abolir a discussão de gêneros nas escolas", criticou a edil e ainda alfinetou as mudanças nas grades de educação com a reforma realizada pelo governo federal.

Sobre o caso de Natália, a presidente da comissão disse que o colegiado tem acompanhado o maior número possível de casos e que convidará a jovem ainda esta semana para ser ouvida e discutir meios de apoiar a estudante. Possivelmente o caso de Natália será tema de uma audiência pública. "Vamos trazer ela a comissão, ela será ouvida e vamos discutir o apoio a ela e até a possibilidade de uma audiência pública", explica.

Para finalizar, Aladilce criticou músicas com temas discriminatórios e depreciativos do gênero feminino, como tocadas em algumas bandas de pagode baiano. Segundo a edil, a Lei Antibaixaria - que coibe esse tipo de discurso nas músicas - está em vigência na Câmara de Salvador para reprimir situações como a que Natália passou.

"A misogenia, que é a raiva de mulheres é bastante incentivada nas músicas de pagode ou outros ritmos, que as letras depreciam o valor e dignidade da mulher. Faz com que as pessoas fixem ideias negativas. Músicas com letras depreciativas encorajam e predispõem as pessoas sobre esse tipo de violência", disse.

Veja alguns dos comentários nas redes sociais que Natália enviou ao Bocão News:

 

 

 

 

 

Classificação Indicativa: Livre


Tags redes sociais jovem Rodoviário assediada